Capítulo 11

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Final de aula. Eu, Aquiles, Cecília, Lina e Naomi.

- Esse negócio de ficar com a pessoa sem conversar nem um pouco antes é complicado – Lina diz, sentando na rodinha que fizemos no chão do pátio.

- É por isso que não deu certo esse fica do Cigano – Aquiles se encosta na parede, sentando ao meu lado e envolvendo os joelhos com os braços.

- Pois é – Lina concorda.

- Se eles tivessem conversado antes, talvez a tal da mordida não teria acontecido – Digo - Porque eles iam estar mais à vontade e um ter se conhecido melhor, né?

- Isso é verdade – Aquiles pende a cabeça pra trás, a apoiando na parede.

-Homi, E ainda mais por que ela nem da nossa sala era, então ele conhecia ela menos ainda – Cecília diz - Mas eu sempre prefiro conversar muito com a pessoa pra conhecer ela  antes de ficar mesmo.

- Eu também – Concordo – Acho que a maioria das pessoas, né.

- Sim, sim – Lina diz.

- Ai gente, pelas minhas experiências... - Naomi começa a falar e é interrompida por Cecília.

- Que experiência?

- Que experiência? – Naomi retruca.

- Oxi, mulher – Eu digo, rindo.

- Exatamente, gente, que experiência? Que eu não tenho – Naomi diz, arrancando algumas risadas nossas.

- Mentira, você é a mais vivida do grupo inteiro – Eu ironizo.

Naomi é a mais encalhada, então a gente brica com isso de que ela na verdade é a mais experiente e mais vivida do nosso grupo, justamente por ela não ter absolutamente nenhuma.

- Verdade, nós somos apenas aprendizes de Naomi – Lina diz.

- Nós corremos para que Naomi andasse – Cecília brinca.

- Que diabo é isso, menino – Aquiles começa a rir e cobre o rosto com a mão, coisa que ele sempre faz quando ri, eu acho fofo.

Naomi é chamada no portão da frente, ela pega sua mochila roxa que estava do meu lado e levanta.

- Tchau, amores. Vejo vocês amanhã – Ela se despede e nós respondemos.

Passamos alguns momentos em silêncio. Está tarde, esse é um dos dias que temos uma aula a mais do que o normal.

- Ei, vamo no banheiro comigo? – Cecília cutuca Lina.

- Eu não, vai sozinha.

- Lina – Ela arregala os olhos, engrossando mais a voz – Vamo no banheiro comigo?

Ela dá um sorrisinho forçado e eu a vejo indicando eu e Aquiles com os olhos e eu sei exatamente o que ela quer fazer.

- Ah! Vamo – Lina parece finalmente entender.

Elas se levantam e vão até o banheiro. Deixando eu e Aquiles completamente sozinhos, sentados lado a lado no chão do pátio.

Estamos em completo silêncio, mas não parece constrangedor, deveria ser constrangedor, certo? Ele se vira para mim e começa a me observar, seu olhar passa de meus olhos, até meu cabelo, e paira na minha boca. Sinto minhas bochechas queimarem e mordo meu lábio inferior, tentando reprimir o frio na barriga.

Os olhos beijam muito, mesmo antes que a boca. O olhar dele sobe novamente para meus olhos.

Ele desvia o olhar e volta-o para seus joelhos. Ele solta os braços que estavam envolvendo seus joelhos e estica uma das pernas. Viro o rosto de um modo rápido, até demais, e olho para ele, que me vira seu rosto rapidamente também e me olha. Soltamos algumas risadas.

- Esse silêncio é horrível – Ele diz.

- Realmente.

- Mas, e aí? Como você tá? – Ele pergunta, com um tom de interresse genuíno na voz.

- Eu tô bem, eu acho – Respondo – Hoje em dia, não sei dizer o que é exatamente estar bem.

- Poético isso.

Sorrio.

- O gago quase que se lasca hoje, parceiro – Ele sorri de leve, olhando para cima como quem estivesse recapitulando o dia de hoje – Quer dizer, ele se lascou.

- Ele levou uma advertência, não foi? – Pergunto, olhando para ele.

- Foi, doido – Ele se vira pra mim – Ainda bem que ela não viu a gente rindo naquela hora.

- Ei, real viu. Ela teria esculhambado a gente de um jeito... - Balanço a cabeça.

- Aquela sebosa, homi.

- Ela é muito é louca – Eu digo – Não sei como alguém assim vira professora.

- Né isso, homi.

Ouço a buzina no portão, e logo meu nome é chamado. Eu levanto, soltando um suspiro e ele se levanta em seguida. Pego minha bolsa e ele pega a bolsa dele.

- Já vai, né? – Ele me pergunta.

- Vou, infelizmente, queria ficar mais aqui, contigo.

Ele me dá um sorriso como resposta.

- Já vou também – Ele coloca a bolsa nas costas – Tchau, Maria bonita.

- Tchau, chico.

Ele abre os braços e me envolve em um abraço, retribuo-o. Sinto suas mãos espalmadas nas minhas costas, seu polegar fazendo um carinho de leve.

Nossos Finais (nem sempre) FelizesOnde histórias criam vida. Descubra agora