Final de aula. Eu, Aquiles, Cecília, Lina e Naomi.
- Esse negócio de ficar com a pessoa sem conversar nem um pouco antes é complicado – Lina diz, sentando na rodinha que fizemos no chão do pátio.
- É por isso que não deu certo esse fica do Cigano – Aquiles se encosta na parede, sentando ao meu lado e envolvendo os joelhos com os braços.
- Pois é – Lina concorda.
- Se eles tivessem conversado antes, talvez a tal da mordida não teria acontecido – Digo - Porque eles iam estar mais à vontade e um ter se conhecido melhor, né?
- Isso é verdade – Aquiles pende a cabeça pra trás, a apoiando na parede.
-Homi, E ainda mais por que ela nem da nossa sala era, então ele conhecia ela menos ainda – Cecília diz - Mas eu sempre prefiro conversar muito com a pessoa pra conhecer ela antes de ficar mesmo.
- Eu também – Concordo – Acho que a maioria das pessoas, né.
- Sim, sim – Lina diz.
- Ai gente, pelas minhas experiências... - Naomi começa a falar e é interrompida por Cecília.
- Que experiência?
- Que experiência? – Naomi retruca.
- Oxi, mulher – Eu digo, rindo.
- Exatamente, gente, que experiência? Que eu não tenho – Naomi diz, arrancando algumas risadas nossas.
- Mentira, você é a mais vivida do grupo inteiro – Eu ironizo.
Naomi é a mais encalhada, então a gente brica com isso de que ela na verdade é a mais experiente e mais vivida do nosso grupo, justamente por ela não ter absolutamente nenhuma.
- Verdade, nós somos apenas aprendizes de Naomi – Lina diz.
- Nós corremos para que Naomi andasse – Cecília brinca.
- Que diabo é isso, menino – Aquiles começa a rir e cobre o rosto com a mão, coisa que ele sempre faz quando ri, eu acho fofo.
Naomi é chamada no portão da frente, ela pega sua mochila roxa que estava do meu lado e levanta.
- Tchau, amores. Vejo vocês amanhã – Ela se despede e nós respondemos.
Passamos alguns momentos em silêncio. Está tarde, esse é um dos dias que temos uma aula a mais do que o normal.
- Ei, vamo no banheiro comigo? – Cecília cutuca Lina.
- Eu não, vai sozinha.
- Lina – Ela arregala os olhos, engrossando mais a voz – Vamo no banheiro comigo?
Ela dá um sorrisinho forçado e eu a vejo indicando eu e Aquiles com os olhos e eu sei exatamente o que ela quer fazer.
- Ah! Vamo – Lina parece finalmente entender.
Elas se levantam e vão até o banheiro. Deixando eu e Aquiles completamente sozinhos, sentados lado a lado no chão do pátio.
Estamos em completo silêncio, mas não parece constrangedor, deveria ser constrangedor, certo? Ele se vira para mim e começa a me observar, seu olhar passa de meus olhos, até meu cabelo, e paira na minha boca. Sinto minhas bochechas queimarem e mordo meu lábio inferior, tentando reprimir o frio na barriga.
Os olhos beijam muito, mesmo antes que a boca. O olhar dele sobe novamente para meus olhos.
Ele desvia o olhar e volta-o para seus joelhos. Ele solta os braços que estavam envolvendo seus joelhos e estica uma das pernas. Viro o rosto de um modo rápido, até demais, e olho para ele, que me vira seu rosto rapidamente também e me olha. Soltamos algumas risadas.
- Esse silêncio é horrível – Ele diz.
- Realmente.
- Mas, e aí? Como você tá? – Ele pergunta, com um tom de interresse genuíno na voz.
- Eu tô bem, eu acho – Respondo – Hoje em dia, não sei dizer o que é exatamente estar bem.
- Poético isso.
Sorrio.
- O gago quase que se lasca hoje, parceiro – Ele sorri de leve, olhando para cima como quem estivesse recapitulando o dia de hoje – Quer dizer, ele se lascou.
- Ele levou uma advertência, não foi? – Pergunto, olhando para ele.
- Foi, doido – Ele se vira pra mim – Ainda bem que ela não viu a gente rindo naquela hora.
- Ei, real viu. Ela teria esculhambado a gente de um jeito... - Balanço a cabeça.
- Aquela sebosa, homi.
- Ela é muito é louca – Eu digo – Não sei como alguém assim vira professora.
- Né isso, homi.
Ouço a buzina no portão, e logo meu nome é chamado. Eu levanto, soltando um suspiro e ele se levanta em seguida. Pego minha bolsa e ele pega a bolsa dele.
- Já vai, né? – Ele me pergunta.
- Vou, infelizmente, queria ficar mais aqui, contigo.
Ele me dá um sorriso como resposta.
- Já vou também – Ele coloca a bolsa nas costas – Tchau, Maria bonita.
- Tchau, chico.
Ele abre os braços e me envolve em um abraço, retribuo-o. Sinto suas mãos espalmadas nas minhas costas, seu polegar fazendo um carinho de leve.
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Nossos Finais (nem sempre) Felizes
RomansaEllen e Aquiles já tiveram muitas idas vindas. Aquele típico de amor de escola, se conhecem, viram amigos, se apaixonam, namoram, terminam, e acabou. Mas com eles não foi bem desse jeito. Eles tiveram vários finais, nem sempre foram felizes, mas sem...