Capítulo 2

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4 ANOS ANTES.

- Essa porcaria de festa junina – Eu digo, sabendo que teria que dançar a quadrilha com alguém.

- Cala a boca, Ellen! Eu vou fazer você dançar sabe com quem?

- Quem, Cecília? – Falo, já sabendo a resposta.

- O Aquiles! Quem mais seria? – Ela abre o sorriso de psicopata clássico dela.

Sabe, eu gosto do Aquiles, desde o quarto ano a gente sente alguma coisinha um pelo outro. Mas nunca deu certo, já que somos muito novos.

Reviro os olhos e observo o outro lado da sala, cruzo meu olhar com o de Aquiles, que parecia me encarar sem desviar nem um minuto. Abaixo a cabeça em um senso inevitável e meu rosto fica quente. Leyla, a professora de dança (que, juro por Deus, não deve ter nem feito faculdade de dança ou qualquer especificação) começa a bater palmas, uma tentativa falha que fiquemos quietos. Ela respira fundo e começa a puxar os braços das pessoas que iriam dançar juntas, uma delas foi Cecília.

Eu e Naomi começamos a rir quando Cecília faz uma careta pra Leyla.

- A Ceci vai morrer se a Leyla fizer ela escolher alguém e a pessoa não querer.

- Verdade viu – Respondo, ainda rindo.

Até que a professora arrasta Cecília para o lado de Henrique, a paixãozinha dela desde pequena, e até hoje, com quatorze anos, ela ainda tem uma quedinha por ele. Eu e Naomi nos entreolhamos quando o menino de cabelos cacheados, pele escura e alto levanta e dá as mãos pra

Cecília, a levando para o fundo da sala e formando o primeiro par.

Vejo Leyla puxar Zeca, o menino com fama de porco na sala, e trazê-lo até a Esther, que estava do nosso lado. Esther faz uma cara meio estranha mas aceita e eles juntam as mãos e vão para o lado de Ceci e Henrique. Ouço meu coração palpitar mais rápido quando sinto o olhar de Leyla pairar em mim e ela vir até a minha direção. Merda. Ela agarra meu braço e me puxa para a ladainha de meninos do outro lado da sala, só podia ser um pesadelo. Desde sempre eu gostava de dançar, mas quando se tratava de dançar com um menino, sabendo que a sala inteira ia ficar aperreando depois. Era um inferno. Ela para em frente a Pietro, que era mais novo que eu, com a cara de assustado, que negou repentinamente com a cabeça. Ao lado dele, lá estava, Aquiles. Ah, eu não acredito que Cecília realmente ia prever isso.

- É eu? – Ele pergunta, intercalando o olhar nervoso entre Leyla e eu. E apontando pra si mesmo.

- É! Anda! – Leyla puxa o braço dele e junta do meu.

Sinto o calor de seus dedos se entrelaçando aos meus, ele coça a nuca, meio sem jeito. Vamos até o fundo da sala e vejo o sorriso de orelha a orelha de Cecília e dos demais para nós.

- E aí? Fazer par com você mesmo, né? – Ele vira pra mim, encostado na parede.

- É...eu acho – Respondo.

Ele abre um sorriso sem graça, que, confesso, me desmonta um pouco.

- O pessoal vai encher o saco depois disso, mas tudo bem – Falo.

As vezes eu acho que falo rápido demais, muita gente para pra falar que não entendeu ou que eu falo muito rápido. E outras elogiam minha dicção.

- Com certeza – Mas ele sempre me entende de primeira.

- Tudo bem, vamos lá! – Leyla diz, quando forma todos os pares da quadrilha.

Passaram pelo menos uns três dias de ensaio. Tenho me aproximado mais de Aquiles, por conta dos ensaios e tudo mais. Hoje é uma quinta feira, o penúltimo ensaio da quadrilha do oitavo ano. O São João é no sábado, e acabamos de ensaiar, toda a panelinha está sentada no chão da sala, falando sobre mil e trezentos assuntos diferentes e alguns outros tocando o terror e virando a sala de ponta cabeça.

- Não, calma aí, esse São João tem que ser O SÃO JOÃO – Violeta faz os gestos exagerados com as mãos.

- Eu não digo é nada – Lina diz.

- Olhe, esse São João vai ter cada coisa, viu? – Fernanda cruza os braços e se encosta na parede.

- Homi, sabe o que eu quero? – Gael franze as sobrancelhas – Que tenha essas bagaceira tudo que os doido tão planejando.

- E tão planejando o que? – Pergunto.

- Aaah, ai é outra história – Aquiles diz, abrindo um sorriso pra mim.

Sorrio de volta e Cecília, que estava entre nós, faz uma cara de como se estivesse prestes a chorar.

- Diabo é isso, Cecília? – Aquiles franze as sobrancelhas e eu solto uma risada baixa – Vai chorar, é?

- Vou.

Ela cruza os braços, emburrada mas com um sorriso na cara.

- Ih, Chico apaixonou de vez – Henrique brinca.

- Fica na tua, Cigano! – Ele dá um murrinho no braço dele e cruza as pernas.

- Ai peraí – Cecília levanta.

Ela sai do meio de mim e de Aquiles, e cutuca Violeta, que estava ao lado dela.

- Que é? – Violeta olha pra Cecília e Cecília faz um gesto para que ela saia.

Violeta não parece entender e murmura algo como "pra que?" E é levantada rapidamente por um puxão no braço.

- Ai! Cecília! Pra que que você quer que eu... - Ela levanta as sobrancelhas e parece finalmente entender quando Cecília empurra Aquiles para perto de mim – Aaaah!

Ela solta uma risada e Cecília revira os olhos e sentando novamente.

- E aí, Maria bonita – Ele sussura, chegando mais perto.

É sério isso? Ah, só podia ser ele mesmo.

- Maria bonita? – Faço uma careta e ele ri.

- É ué, combina contigo – Ele chega mais perto do meu ouvido, sinto um arrepio – Mas eu acho que "bonita" é um elogio muito pequeno pra você.

Nossos Finais (nem sempre) FelizesOnde histórias criam vida. Descubra agora