Capítulo 15 - Flora

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Nos afastamos daquela agitação causada pela feira e adentramos cada vez mais fundo na cidade, até pararmos novamente em frente à um estabelecimento.

— É aqui — Jack falou olhando para a entrada do lugar.

Percebendo que essa poderia ser a minha única chance de fugir, dei um passo à frente pensando com cuidado no que dizer.

— Eu gostaria de ficar do lado de fora — falei o mais firme possível.

— Não, vamos todos entrar — ele refutou meu pedido sem nem pensar.

— Ah, por favor, eu estou cansada da viagem e quero aproveitar um pouco por estar em terra firme.

Ele me encarou desconfiado, nem um pouco comovido com minha situação. Na verdade, eu havia ensaiado diversas desculpas para me manter o mais longe possível deles e ter oportunidade para escapar, mas não parecia estar dando certo.

— Vamos lá, Jack. Eu fico aqui com ela — Bernard entrou em minha defesa e minhas esperanças retornaram.

Se tinha alguém que poderia convencer o capitão, esse alguém era Bernard.

— Tudo bem — ele respondeu a contragosto, para o meu completo alívio — Mas não saiam daqui.

— Pode deixar! — o moreno respondeu com uma continência.

O capitão assentiu dando uma última olhada em nós dois antes de entrar no lugar à frente.

— Fique à vontade, senhorita — disse ele com um sorriso simpático e só então me dei conta de um fato terrível.

Para completar meu plano, eu teria que enganar o homem ao meu lado e só de pensar nisso, sentia um aperto em meu coração. Afinal, como eu poderia enganar o homem que me recebera tão bem e o único amigo que tive desde o dia em que embarquei no navio?

Minha mente trabalhava em busca de uma solução inexistente e para piorar tudo, essa provavelmente seria a minha melhor e única oportunidade, já que logo voltaríamos para o navio.

Minha única solução era contar a verdade à ele e torcer para que ele me ajudasse de alguma forma. Com esse pensamento em mente, me virei para ele.

— Escute, Bernard... — comecei e ele se virou para mim, atento ao que eu iria dizer.

Engoli em seco sentindo as palavras fugindo da minha boca, eu simplesmente não conseguia dizer nada.

Respirando fundo, abri a boca para contar a verdade, mas fui interrompida pela chegada de uma senhora ao nosso lado.

— Bom dia, meus jovens! — disse com um sorriso enfeitando seu rosto enrugado e nós respondemos seu cumprimento — Será que vocês poderiam me ajudar a levar essas sacolas até a minha casa?

Só agora eu havia reparado que suas duas mãos estavam ocupadas com sacolas que pareciam pesadas.

— É claro que podemos ajudar! — afirmei com um sorriso confiante e já estava me inclinando para pegar algumas sacolas, quando Bernard me impediu.

— Espere, Flora — disse me fazendo olhar para ele com confusão — Jack pediu para não sairmos daqui.

— Ah, mas eu moro logo ali dobrando aquela rua — a senhora apontou para o lugar e olhou para nós com desapontamento — Mas eu não quero atrapalhá-los, então...

— De forma alguma, a senhora não está nos atrapalhando — tratei de explicar olhando para meu companheiro com súplica — É logo ali, Bernard, não vamos demorar muito. E eu me odiaria se negasse ajuda a alguém que posso ajudar.

Flora Harper E O Navio Pirata - Amor Em Alto-Mar Onde histórias criam vida. Descubra agora