Capítulo 44 - Flora

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Vi o exato momento em que as espadas de ambos os lados se chocaram, e logo se via por todo o espaço da clareira, pessoas enfrentando umas às outras.

— Neste momento, eu deveria dizer para que você se escondesse em um lugar seguro, mas temo que aproitessem isso para pegá-la de volta. Portanto, fique perto de mim e não se preocupe... — Jack olhou para mim e sorriu — ... Prometo protegê-la com a minha vida.

E sem me dar oportunidade de responder, ele se virou para a frente e levantou a espada no momento que dois homens se aproximaram de nós, e rapidamente contra-atacou golpeando-os com a parte cega da espada e os derrubando no chão.

Eu permaneci em um canto mais afastado, mas perto o bastante do capitão, e fiz a única coisa que podia: orei incessantemente pela segurança e vitória de meus companheiros.

A luta se estendeu por longos e angustiantes minutos em que os dois lados não queriam ceder facilmente, mas enquanto os marinheiros do Duque pareciam cada vez mais cansados, os piratas ficavam mais fortes e animados.

Assisti admirada meus amigos derrotando seus oponentes, até que finalmente os inimigos, um a um, começaram a fugir correndo em direção à floresta. Mas o sorriso esperançoso sumiu de meu rosto assim que percebi a chegada repentina de Conrad perto de Jack, que por pouco bloqueou o ataque do mesmo.

— Não vou deixar que fique no meu caminho de novo! — exclamou o duque com uma fúria assustadora.

— Já chega disso, não precisamos continuar lutando — Jack respondeu segurando sua espada contra a dele — Vá embora agora e garanto que nenhum de nós irá atrás de você!

— Acha mesmo que acreditarei em você?! Suas palavras não significam nada para mim! — o Duque atacou com mais força, fazendo Jack se esquivar.

— Nós já fomos amigos, Conrad, e é em nome dessa amizade que peço que pare antes que se machuque!

— Está enganado, eu nunca fui seu amigo, apenas o usei para meu próprio benefício!

Gritei horrorizada quando a espada deslizou a poucos centímetros do braço do capitão, cortando um pedaço de sua camisa.

— Ainda dá tempo de se arrepender e de recomeçar! — Jack se recuperou do susto e desviou de mais um ataque.

— Está dizendo que quer esquecer tudo e se tornar meu amigo? — sua voz estava carregada de sarcasmo e um sorriso zombeteiro brincava em seu rosto.

— Não, Conrad, não posso esquecer o que você me fez — Jack parou por um instante e o encarou com firmeza — Mas estou disposto a te perdoar.

Nós dois olhamos para o capitão, o Duque por não conseguir acreditar em suas palavras e eu por estar imensamente feliz ao ver que finalmente ele abrira mão de sua vingança.

— Você só pode estar brincando comigo! — Conrad se recuperou da surpresa e desferiu vários golpes, mas diferente dos outros, estes pareciam confusos e sem força, os quais foram facilmente bloqueados por Jack.

— Desista logo, você não tem mais chance de ganhar.

O Duque olhou para trás e constatou que era verdade, pois poucos de seus subordinados continuavam lutando e já pareciam estar prestes a serem derrotados.

— Não vou deixar que leve a mulher que amo — Jack afirmou fazendo meu coração bater mais forte.

— Sendo assim... — o olhar de Conrad se voltou para mim e encontrou o meu — Se você não vai ficar comigo, então também não vai ficar com ninguém!

Ele correu em minha direção e ergueu a espada. Dei alguns passos para trás, tentando fugir de seu alcance e de sua má intenção, mas sabia que não conseguiria desviar.

Quando já estava próximo o bastante, ele manejou sua espada para me acertar e paralisada onde estava, fechei os olhos e me preparei para o golpe que viria. Mas nada aconteceu, e só quando abri os olhos entendi o porquê.

À minha frente estava o capitão, protegendo-me com seu corpo e de costas para mim. Virando o rosto em minha direção, ele olhou em meus olhos e sorriu.

— Graças a Deus você está bem... — murmurou com a respiração inconstante e com os dentes cerrados, caiu de joelhos.

— Jack! — me aproximei dele rapidamente e percebi o grande corte em seu peito coberto de sangue — V-você está machucado...

Ele caiu lentamente para trás e de olhos arregalados, amparei seu corpo em meu colo.

— Não se preocupe comigo — sua voz estava cada vez mais fraca e seus olhos pareciam pesados.

— Você precisa ficar acordado, Jack! — desesperada e lutando contra o enjoo que todo aquele sangue me causava, arranquei um pedaço da saia de meu vestido e pressionei no ferimento — Por favor, fique acordado...

Ignorando as lágrimas que teimavam em descer, olhei de um lado para o outro em busca de ajuda, mas todos pareciam longe e concentrados demais em suas próprias lutas.

— Eu avisei... — observando tudo com um sorriso doentio, Conrad se aproximou de onde estávamos e olhou para mim — Agora... pela última vez, você virá comigo?

— Nunca!

— Então fará companhia à ele! — Mais uma vez, ergueu sua espada e se lançou na minha direção.

Sem nem pensar em fugir, apertei o corpo de Jack contra o meu e o virei um pouco para o lado, com a intenção de protegê-lo. Mas antes que pudesse nos acertar, Bernard apareceu em meu campo de visão e com um forte golpe, desarmou o Duque fazendo-o cambalear para trás e sua espada voar para longe.

— Paradinho aí, ou garanto que o matarei aqui mesmo — ameaçou com a espada apontada para o peito do mesmo e me lançou um rápido olhar — Flora, a ajuda já está chegando.

Antes que eu pudesse compreender com clareza suas palavras, Grace veio até nós e começou a examinar o capitão. Ele apertava os olhos por causa da dor e respirava com dificuldade, e ver isso sem poder fazer nada, cortava meu coração.

— Nossa, é um corte bem feio... — murmurou ela quando terminou.

— E-ele vai ficar bem, não vai? — encarei seus olhos castanhos em busca de uma resposta, mas ela fixou sua atenção no ferimento.

— Vou fazer o que for possível...

Com essa resposta vaga, virei o rosto enquanto ela retirava seus materiais da bolsa que sempre carregava e começou a trabalhar para fechar o corte. Todo aquele sangue estava me dando náuseas, mas continuei ali, apoiando o corpo dele em minhas pernas e orando em meu íntimo para que ele ficasse bem.

Até que um toque fraco em minha bochecha me despertou dos meus pensamentos.

— Flora... — Jack me encarava parecendo se esforçar muito para continuar com os olhos abertos.

— Por favor, não se esforce muito, você precisa poupar suas energias...

— S-se tudo o que aconteceu contribuiu para que eu te encontrasse... — sorriu fracamente — ...então sou grato a Deus por tudo.

— Não fale como se isso fosse uma despedida! — implorei tentando controlar o choro.

— Você é a única mulher.... que conseguiu conquistar meu duro coração... — completou e vi uma única lágrima escorrer por seu rosto — Eu amo você, Flora...

Depois de dizer isso, sua mão escorregou da minha bochecha e caiu ao lado de seu corpo, seus olhos se fecharam por completo e uma palidez tomou conta de seu rosto.

— Jack... ? — chamei em um fio de voz, mas não obtive resposta.

— Flora — Grace chamou me fazendo erguer a cabeça para encará-la, seus olhos estavam marejados — E-eu fiz tudo que podia. Sinto muito...

Demorou alguns segundos para que eu finalmente compreendesse o significado dessas palavras, e quando isso aconteceu, senti uma dor aguda no peito.

— Jack, acorda! Por favor, por favor...— sacudi seu corpo desfalecido com cuidado, mas ele nem se mexeu — Por favor, Deus... — fechei os olhos com força e supliquei de todo o meu coração — Salve o meu amado!

Sem conseguir mais me conter, permiti que as lágrimas me consumissem por completo e vi meu mundo novamente desabar.

Flora Harper E O Navio Pirata - Amor Em Alto-Mar Onde histórias criam vida. Descubra agora