Capítulo 24 - Jack

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Só depois que conseguimos contornar a tempestade, me permiti soltar um suspiro de alívio e deixar que a tensão em meu corpo fosse embora.

— Bom trabalho, marujos — exclamei reconhecendo o esforço e a competência de todos, sendo recebido por acenos de cabeça satisfeitos.

Me sentindo cansado e enxugando as gotas de suor da testa, me aproximei da borda do navio observando a calmaria do mar em meio à noite. Sem o meu consentimento, as lembranças muito recentes da queda de Flora veio em minha mente e estremeci só de lembrar da aflição que senti naquele momento.

— Jack? — Bernard chamou se colocando ao meu lado e olhando para mim com cautela — Fiquei sabendo agora do que aconteceu. Ela está bem agora, certo?

— Sim — respondi ainda encarando o mar à frente.

— Eu posso cuidar de tudo por aqui, então... — deu de ombros — Você pode ir vê-la, se quiser.

Direcionei meu olhar para o rosto dele em busca de qualquer insinuação, mas tudo que encontrei foi uma expressão compreensiva e um sorriso motivador.

— Tudo bem, eu só vou... — olhei para mim mesmo, percebendo meu estado deplorável — .... Dar um jeito nisso.

Bernard assentiu e aproveitei a deixa para seguir até a pequena sala que eu usava como quarto.

Depois de me lavar e trocar de roupas, segui até a cabine de Flora e parei em frente à porta.

— Flora? — dei duas batidas na madeira, mas não recebi resposta.

Segurei a maçaneta e hesitei por alguns segundos, até finalmente abrir a porta e adentrar o quarto.

Ela estava deitada, aparentemente dormindo, e a única luz presente no ambiente vinha de uma vela em cima de uma mesa no canto.

Me aproximei de onde ela estava, em completo silêncio e me sentei na beirada da cama. Sua respiração era profunda e constante, um bom sinal de que dormia bem.

— Você me deu um baita susto... — sussurrei observando seu belo e sereno rosto.

Permaneci ali, apenas admirando seus traços tão perfeitos, mas sorri ao me dar conta de que apesar de sua beleza exterior, o que mais me cativava nela era sua personalidade única. 

Mesmo sendo tão jovem, ela já mostrava ser uma mulher forte e destemida, que não se deixava abater pelas circunstâncias contraditórias, mas enfrentava tudo de frente com uma coragem inspiradora.

Me despertei dos meus pensamentos quando ela se moveu e sua mão veio parar perto de mim. Sem conseguir resistir, segurei sua mão na minha, sentindo sua maciez e delicadeza. Um sorriso se formou em meu rosto ao ver o grande contraste entre nossas mãos.

De repente, ela abriu os olhos e encarou meu rosto, ainda sonolenta.

— Jack? — sua voz soou rouca e pesada.

— Desculpa, acabei te acordando — murmurei em resposta.

— Tudo bem — seus olhos pousaram em nossas mãos unidas, suas sobrancelhas arqueando em curiosidade.

Me sentindo constrangido e querendo disfarçar o embaraço, soltei sua mão e fiz um afago no topo de sua cabeça.

— Fico feliz que esteja bem — sorri para ela.

— E a tempestade?

— Ah, nós a contornamos, então não precisa se preocupar.

— Graças a Deus — um fraco sorriso se abriu em seu rosto, mas não pude deixar de admirá-lo.

Flora Harper E O Navio Pirata - Amor Em Alto-Mar Onde histórias criam vida. Descubra agora