Encarei o teto, perdido nos pensamentos que assombravam minha mente desde aquela manhã.
— Desculpe por desapontá-lo, mas não tenho tempo para isso — Conrad revirou os olhos e voltou seu olhar para Flora — A garota. Me devolve a garota ou farei questão de não deixá-lo vivo desta vez.
Depois de tudo que ele fez comigo, depois de ter estragado a minha vida, quando finalmente nos encontramos, tudo que ele fez foi me ignorar completamente. A única emoção que via nele era uma breve surpresa, mas nem um pingo de remorso ou arrependimento.
Me sentei sobre a cama e cerrei os punhos diante do ódio que tomava conta de mim.
— Aquele maldito... eu vou matá-lo! — murmurei para mim mesmo em meio à escuridão e o silêncio da noite.
Sabia que não ia conseguir dormir com a mente tão turbulenta como estava, por isso me levantei e saí em direção ao leme. Mas ao chegar no convés principal, percebi que não fora o primeiro a chegar lá.
Flora estava de costas, sentada no chão em um canto e me aproximando um pouco mais, percebi que ela chorava baixinho.
— Flora? — chamei, fazendo-a levantar a cabeça e me encarar.
Seu rosto estava molhado pelas lágrimas e seus olhos vermelhos, ela parecia assustada.
— O-oi... — disse desviando o rosto para o outro lado e enxugando-o rapidamente com as mãos.
— O que aconteceu? — me agachei ao seu lado, e estendendo uma mão, virei seu rosto em minha direção — Não gosto de te ver chorar...
Seus olhos fitaram os meus com surpresa, e fungando algumas vezes, abaixou a cabeça com uma tristeza que me deixou ainda mais incomodado. Sem pensar muito, toquei seu rosto com o polegar e limpei os vestígios de lágrimas.
— Me conta o que te deixou assim, por favor... — pedi em um tom baixo e suave e ela finalmente voltou a me encarar.
— Não é nada demais, eu só... tive um pesadelo — murmurou com a voz embargada.
— Quer falar sobre ele? — questionei e ela nada disse por um momento, então balançou a cabeça em negação — Tudo bem.
Sentei ao seu lado, me escorando na parede atrás e olhando para a frente.
— Mas se precisar conversar, estou aqui — sugeri olhando para ela pelo canto dos olhos.
Ficamos ali por alguns minutos sem dizer nada, o único som ouvido era o das ondas do mar e o vento frio da noite.
— Jack? — Flora olhou em minha direção e eu a encarei de volta — O que aconteceu entre você e o Conrad?
Senti meu corpo ficar tenso com sua pergunta. O único que sabia a verdade sobre mim era Bernard e minha irmã com seu marido, e a alguns dias atrás eu iria preferir que continuasse assim.
Mas agora... eu queria compartilhar minha história com ela, queria falar sobre minhas dores e medos, mesmo que isso me fizesse sentir... vulnerável e fraco. Só porque era ela.
— Acho que já está na hora de te contar... — falei com um pequeno sorriso, e respirando fundo. Não havia um dia em que eu não pensava em meu passado, e por isso, não precisei pensar muito para saber por onde começar — Antes de me tornar um pirata, eu morava em uma pequena e distante cidade. Meus pais haviam morrido fazia alguns anos, então fui criado pela minha irmã mais velha.
Percebi a expressão surpresa de Flora com esta última informação, mas ela nada comentou, permitindo que eu continuasse minha história.
— Nós sempre fomos muito próximos e ela era como uma segunda mãe para mim. Também éramos bem vistos por todo o povo, que nos tratava com carinho e admiração, enfim... vivíamos uma vida boa e tranquila. Até que ele chegou. — o sorriso nostálgico em meu rosto foi substituído por uma carranca — Conrad embarcou em nossa cidade parecendo completamente perdido e como eu trabalhava no porto, fui o primeiro a cumprimentá-lo e a oferecer ajuda. Ele disse que havia se separado de sua tripulação e que levaria alguns dias para que chegassem ali. Ele não tinha nada além da roupa que vestia, então, eu o acolhi. Levei ele para minha casa, onde eu morava com minha irmã, o alimentamos e demos uma cama para dormir, e como tínhamos a mesma idade, rapidamente nos tornamos bons amigos.
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Flora Harper E O Navio Pirata - Amor Em Alto-Mar
Roman d'amourSinopse: Flora Harper, uma garota cristã e gentil, vive em uma cidade portuária com o pai, dono de uma pequena e singela sapataria. Até que um dia, após a repentina morte de seu pai, ela se vê obrigada a se casar com um homem cruel a quem não ama e...