De olhos arregalados, encarei o capitão, sem saber como expressar minhas emoções. Se aquilo era um sonho, eu não queria mais acordar e ao olhar para nossos companheiros, percebi que não era a única admirada.
Notando meu olhar de interrogação, Grace apenas sorriu de forma contida e Bernard piscou para mim em cumplicidade. Queria entender o que tinha acontecido para essa grande mudança no capitão, queria saber qual havia sido o grande ponto de virada, mas por hora, precisava focar no nosso problema atual.
— Já chega dessa palhaçada! — Conrad parecia fazer um grande esforço para se manter estável — Flora, vou pedir pela última vez, venha até aqui agora!
Sua voz fria me fez lembrar de sua ameaça de antes, assim como dos dois pesadelos que eu tivera e levada pelo medo, dei um passo à frente, pronta para intervir por meus amigos. Mas antes que eu fosse mais longe, Jack colocou um braço à minha frente, me impedindo de continuar.
— Não vá — ele olhou para mim com uma expressão suave — Confie em mim, Flora, por favor.
— Mas é que...
— Você não precisa se sacrificar, estamos todos juntos nisso e vamos sair juntos daqui — a intensidade de seu olhar me prendeu ali e me agarrando na confiança de suas palavras, voltei atrás.
— Tudo bem — com um aceno de cabeça, me detive ao seu lado.
— Se é assim que deseja, então muito bem — O Duque sacou sua espada e se voltou para o chefe de seus marinheiros — Tragam a garota ilesa para mim, os outros vocês podem matar.
O barulho de passos havia diminuído repentinamente e apesar do perigo em que nos encontrávamos, Jack parecia calmo e até mesmo confiante.
— Precisamos ganhar um pouco mais de tempo — ouvi Bernard murmurar atrás de nós, segurando sua espada com firmeza.
Ganhar tempo, hein? — pensei tomando minha decisão.
Com a pouca coragem que ainda tinha, me virei para a frente e ergui a cabeça.
— Conrad, espera! — exclamei chamando a atenção de todos e fazendo-os parar para me ouvir.
— Mudou de ideia? — perguntou ele com um sorriso convencido.
— Não! — afirmei e o sorriso sumiu de seu rosto — Não posso me casar com alguém que não amo e que também não me ama.
Seu rosto foi consumido por uma óbvia confusão.
— Como assim? É claro que te amo!
— Não, Conrad — encarei seus olhos claros sem medo — Se você realmente me amasse, me deixaria livre e não me obrigaria a fazer algo que não quero!
Um silêncio pairou sobre o ar, a atenção agora voltada para a reação dele.
— Te deixar livre? E por que eu faria isso? — um sorriso desdenhoso se espalhou em seu rosto — Para você ficar com ele? — apontou para o capitão — Ah, mas não mesmo! Não depois de tudo que fiz e do quanto tive que esperar!
— Não consegue enxergar?! — senti um aperto no peito com a crescente aflição que toda aquela situação me trazia — Nunca seremos felizes juntos! Precisa me deixar ir...
— Isso nunca! — a firmeza em sua voz me fez fraquejar por um segundo, mas permaneci firme.
— Eu não irei com você, Conrad — encarei seus olhos — Desista logo e vá embora!
Podia ver de onde estava, o rosto dele se contorcendo em fúria, contudo, um instante depois, ele se acalmou e sorriu friamente.
— Você virá comigo de um jeito ou de outro — disse com confiança — E para que isso aconteça, vou me livrar de cada empecilho que aparecer pelo caminho. Assim como fiz com seu pai.
— Meu... pai? — aquela menção fez um frio se instaurar em minha barriga e ao perceber isso, o sorriso do Duque se alargou.
— Isso mesmo. Como ele não cooperou, tive que fazer alguma coisa.
— O que você fez?! — dei um passo à frente, a angústia nascendo repentinamente em mim.
— Calma, Flora, ele só está tentando te afetar — Jack repousou uma mão sobre meu ombro e deu um leve aperto.
— É isso que você pensa? Não sabia que era tão ingênuo, Jack... — o Duque me encarou sem um pingo de remorso e continuou — Não achou estranho seu pai adoecer de repente, logo quando ele parecia tão bem?
— O que está querendo dizer com isso? — eu tinha um péssimo pressentimento sobre aquilo.
— A verdade é que eu visitei seu pai depois daquele dia em que ele deixou claro que não me daria sua bênção. E como vi que ele se oporia a nossa união, contratei um homem para envenená-lo escondido.
Senti minhas pernas fraquejarem ao ouvir tais informações. Achei que iria cair, mas o braço de Jack me amparou prontamente.
— M-meu pai foi envenenado... ? — murmurei com a voz embargada e algumas lágrimas desceram sem que eu pudesse contê-las.
— Eu sinto muito, querida — a voz suave do capitão, próxima ao meu ouvido, foi o que me consolou naquele momento de tormento — Não tenho palavras para confortá-la neste momento, mas saiba que estamos todos do seu lado.
— O-obrigada... — fechei os olhos com força e respirei fundo algumas vezes até me acalmar. Olhei para cima, encontrando seus olhos preocupados sobre mim e dei-lhe um pequeno sorriso — Vou ficar bem.
Ele hesitou por alguns segundos, mas assentiu e se voltou para a frente.
— Você vai pagar por todos os seus crimes, Conrad — afirmou estreitando os olhos na direção dele — Não foi a mim que você mais ofendeu com seus erros.
— Ah, e a quem foi então? — zombou o outro.
— A Deus — a resposta de Jack novamente deixou todos surpreendidos.
— O que estão esperando?! — Conrad exclamou perdendo toda a compostura — Matem eles!
Os capangas, que até então assistiam tudo paralisados em seu lugar, voltaram a se mover em nossa direção.
— Esse seria um bom momento para os reforços chegarem! — Grace comentou se preparando para o ataque.
Mal acabara de dizer isso, ouvimos o som de passos mais altos desta vez e um intante depois, Hugo rompeu da floresta seguido por um grande grupo de piratas que se colocaram à nossa frente com espadas à postos.
— Espero não ter perdido muita coisa, capitão! — disse o marujo entre grandes resfolgos e encharcado de suor.
— Não, você chegou bem na hora — respondeu o capitão com um sorriso satisfeito.
Os homens sob o comando de Conrad diminuíram a velocidade, agora mais cautelosos com a quantidade de adversários que precisariam enfrentar.
— Estamos só esperando suas ordens, capitão — disse Bernard sem baixar a guarda e com uma expressão determinada.
Todos os marujos também se voltaram para Jack, suas feições emolduradas de coragem e confiança.
— Preparem-se para batalhar, mas... não matem ninguém — disse enfim e levantou o punho em direção ao céu — Vamos lá, companheiros, vamos mostrar a eles a nossa força!
Um coro de gritos em concordância se espalhou por entre todos os ali presentes e então, os marujos correram de encontro aos inimigos.
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Flora Harper E O Navio Pirata - Amor Em Alto-Mar
Любовные романыSinopse: Flora Harper, uma garota cristã e gentil, vive em uma cidade portuária com o pai, dono de uma pequena e singela sapataria. Até que um dia, após a repentina morte de seu pai, ela se vê obrigada a se casar com um homem cruel a quem não ama e...