𝓿𝓲. não precisa de sorte

1.4K 120 5
                                    




capítulo seis
❛ não precisa de sorte ❜
ponto de vista, iris golding

Estamos no ônibus do Real Madrid em direção a um estádio onde haverá um jogo. É simples: filmar rotinas, os jogadores entrando nos vestuários, alguns comentários. Dentro de campo, fora de campo. É um trabalho cansativo, mas vale a pena quando vejo um Instagram tão bem organizado.

Respondemos caixinhas de pergunta, postamos stories e passamos a maior parte do tempo olhando telas. O fato de usar o celular por tanto tempo me trás dores de cabeça constantes, efeito da falta de um óculos.

Mesmo sentada na cadeira dos corredores do estádio, sendo ajudada por Sydney, não posso evitar que certos olhares passem por mim. Penso que estou em um péssimo estado para ser olhada e por isso minha dor de cabeça só piora.

Corro para o banheiro mais próximo e me olho no espelho do banheiro, me lembrando de nunca mais usar esse rímel, porque borrou até mesmo com meu cansaço.

— Eu consegui um remédio. Paracetamol, serve? — Ela entra rapidamente no banheiro, acompanhada de uma garrafinha de água.

— Perfeito. — Pego as duas coisas, ingerindo o remédio com facilidade.

— Foi o Jude.

Sydney anuncia como se não precisasse dizer, mas quisesse. Olhando para ela pelo reflexo do espelho, tenho a impressão de que ela está supondo algo.

Ao mesmo tempo penso que está sendo divertido perturbar a cabeça desse jogador. Ele quer, e quer muito, mas sabe que eu não cedo e me ver aceitando algumas de suas investidas - ou pior, fazendo igual - e então dando para trás está enlouquecendo sua mente. É divertido.

— Agradeça a ele depois.

— Você mesma pode fazer isso. Pareciam próximos no dia do clube. — Ainda está falando em um tom curioso, e sinto que quer descobrir algo.

— Trocamos poucas palavras educadas, não foi nada demais.

— Ele te encarando a noite inteira não é nada demais? E eu até entendo, você tava linda, mas daí passa a ser algo constante. A troca de olhares.

Está raciocinando sozinha agora. E não interrompo.

— Na festa, depois da festa. E aí eu pergunto para alguém do vestiário se tinham remédio para você e ele é primeiro a perguntar se estava bem. Ele mesmo se vira para achar o remédio.

Guardo essa informação, não sei muito o que pensar com ela mas sei que quero guardar.

— Sabe a suspeita de que algum dos jogadores esteja querendo você? Acho que é ele...

Eu ri. Mas ri da forma mais engraçada possível. Não porque parecia uma piada, mas porque levou esse tempo todo para ela suspeitar que era ele. Ela está me olhando sem entender.

— É ele.

— Como assim é ele? Ele te disse isso?

A esse ponto, suas expressões faciais eram de pura curiosidade e me mato por dentro quando decido contar para ela.

— Eu conheço Jude. Antes do Real Madrid. — Anuncio, e agora não tem volta.

— Mas vocês se apresentaram naquele dia.

— Fingimos.

— Agora você vai me contar tudo.

Sydney tranca a porta do banheiro para fazer questão de que ninguém escute, o que é quase impossível já que estamos em uma área reservada ao time. Prefiro assim de qualquer forma. Não quero que saibam de nada, principalmente depois que eu e a mesma garota que está na minha frente fomos linchadas na internet com as fotos do dia do clube.

Ser a filha de Adam Golding e estar no mesmo ambiente público que Jude Bellingham cria especulações, que são abafadas depois que descobrem que nós dois não nos seguimos. "Ela faz parte da equipe do Real Madrid" é o argumento que tranquiliza as redes sociais por um tempo.

— Viajei para a Grécia, conheci alguém. Tive uma noite maravilhosa com um desconhecido. Pula para um mês depois quando o vejo na conferência do Real Madrid com uma camisa de treino e o número cinco estampado.

Aos poucos, Syd encaixava as peças e finalmente entendeu tudo. Agora ela sabia e eu estava querendo muito que fosse de confiança.

— O cara é o Jude.

Confirmo com a cabeça.

— E quando você diz noite maravilhosa... — Sua carinha é de curiosidade.

— Transamos, Syd.

— Ponto um: É a primeira vez que me chama de Syd, isso é fofo. É um passo enorme na nossa amizade. — Não consigo não rir com seu comentário, porque está comentando algo genuíno. — Segunda coisa: Eu não conhecia esse seu lado ainda, sua safada!

— O que? Não imaginou eu pudesse fazer uma loucura na vida?

— Quer a resposta sincera? — Estamos rindo agora, minha dor de cabeça está indo embora. — Mas isso esclarece muita coisa. Principalmente como ele não tira os olhos de você.

— Efeito Iris Golding.

— Posso saber detalhes? — Ela está animada, tão animada que seu sorriso transmite isso.

— Estamos pulando etapas, não acha?

E novamente estamos rindo. Sydney respeita isso.












Estamos novamente caminhando na direção do vestiário quando anunciam que o jogo logo começaria. Filma-lós e filmar suas expectativas é sempre genial, e saber que é o primeiro jogo não-oficial do Jude também me deixava curiosa para como ele reagiria.

Ele está sério, focado. Parece que mil coisas estão passando em sua mente. Me pergunto o que, mas consigo ter uma ideia geral. Também me pergunto como um uniforme cai tão bem nele. Mesmo não sendo o uniforme original.

Ele ainda não tinha me visto. Mas no momento que vê, anda até mim. Sem pensar.

— Sydney disse que não estava bem.

— Foi só uma dor de cabeça. Já passou.

Ele só confirma com a cabeça, ainda receoso.

— E obrigada pela gentileza. — Estou fazendo aquilo de sorrir de um jeito muito específico que só ele entende. — Ajudou muito.

Acho que isso o tranquiliza um pouco mais, distrai sua mente sobre o que é que estava pensando antes. Esse joguinho também é divertido.

— Por nada. Sempre que precisar. — Está sorrindo.

— No que está pensando?

— Que eu preciso me tranquilizar. — Está com a cara de foco de novo.

— Eu poderia te ajudar com isso, mas não acho que minha solução seria profissional.

Jude me olha. Ele sabe do que estou falando, e ainda por cima, sabe que estou brincando. Porque não vou fazer o que estamos pensando. Mas é um ótimo jeito de quebrar o gelo. Há um silêncio interessante nesse tempo.

— Você sabia que depois dos jogos os jogadores costumam ficar muito tensos? — Ele diz, está sorrindo sem me olhar. Ele sabe jogar esse joguinho. — Eu poderia usar esse seu anti-profissionalismo depois.

Agora dou uma risada, tentando me conter. Ele está feliz com a minha reação, posso ver isso nos seus olhos. Ele quase ri comigo.

— Eu vou pensar no seu caso.

No meu fone de ouvido, escuto que os jogadores deveriam estar concentrados de forma linear antes do portal de entrada para o campo. Eu e Sydney fomos instruídas a ir para as arquibancadas, lugares reservados para nós.

— Você precisa ir. — Aponto para o fone, ele entende e consente.

— Nenhuma palavra de boa sorte?

— Você não precisa de sorte. Faça o que sabe fazer, já é suficiente.

UNFORGETTABLE   |   JUDE BELLINGHAMOnde histórias criam vida. Descubra agora