Capítulo 18

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Versalhes, França.
Maio de 1816.

Depois de ter a única deliciosa noite de sono devido a turbulência durante esses dias de preparativos, com a ajuda das criadas, faço minha rotina matinal. Odeio chamá-las assim, embora aqui todos vejam isso com grande normalidade. Mesmo assim faço questão de as chamar pelo nome. Elas me rodeavam e se dirigiam a mim com tanta gentileza que acabavam me constrangendo. Já estou vivendo no palácio há quase uma semana e ainda não me acostumei com todas as mordomias e costumes que terei nos próximos anos da minha vida.

Após todo o preparo, me encontro com um vestido tão exuberante quanto os que tenho usado durante toda a semana. Minha pele não sentia um sol desde que saí de Londres e hoje estava um dia perfeito lá fora. Espio pela janela da Grande Sala, podendo ver toda a paisagem que cercava o palácio. O sol era tímido, e mesmo trazendo um ar mais feliz, isso não tirava a tensão por conta da possível morte do Rei Aramis a qualquer momento. O médico e enfermeiras acompanhavam seu estado o dia inteiro e durante todas as madrugadas.

Avisto da janela, Adam com uma feição nada boa, enquanto falava com alguns oficiais. Parecia dar ordens e então os homens montam seus cavalos e saem às pressas em direção à cidade.

Ele não falava comigo como antes a dias e o clima entre nós estava frio. Eu com meu orgulho não me permiti ir até ele e perguntar o que estava acontecendo, mas decido tomar uma atitude. O vejo entrar no palácio e vou até a porta de entrada, onde o encontro bufando e desfrouxando sua roupa.

— Bom dia. — O olho antes de fazer uma pequena reverência e ele sorri fraco.

— Bom dia, Beatrice. — Responde e eu começo a dar alguns passos, afinal estava atrasada para meu encontro. — Está tudo bem?

— Sim. Estou indo encontrar a rainha e minhas futuras damas para alinhar alguns detalhes do nosso... casamento. — Respondo e ele balança a cabeça em concordância. — E você?

— Apenas um problema na praça da cidade, mas nada que deva se preocupar... — Diz.

— Oh, certo... — Digo e ele continua me fitando, esperando que eu falasse algo.

— Não está mesmo com nenhum problema? — Pergunta preocupado, se aproximando de mim e eu suspiro.

— Não, Adam. — Digo, de forma áspera e dois guardas que estavam a muitos metros de nós, se entreolham discretamente. Eles não estavam acostumados com a forma que nós dois lidávamos um com o outro. Respiro fundo e falo mais baixo dessa vez. — Foi você quem se afastou e agora está agindo como um estranho. — Digo de uma vez. Ele franze o cenho e ergue as mangas de sua camisa.

Me questiono se é tolice minha fazer esse tipo de pergunta enquanto estamos com mil afazeres e obrigações nos esperando.

— O que? — Pergunta intrigado.

— Você me ouviu, Adam. Se afastou desde que chegamos aqui. — Continuo firme.

— Beatrice... — Ele murmura.

— Não me chama assim. Está acontecendo alguma coisa?

— Não! — Ele altera a voz, irritado e quando eu me calo ele observa meu rosto se transformar em apreensão. — Desculpe... Você sentiu medo de mim? — Pergunta encabulado e eu permaneço calada.

Nós ficamos em silêncio por alguns segundos até ele respirar fundo e voltar a falar.

— Não quis me afastar de você, mas está acontecendo muitas coisas nos últimos dias e eu estou me preparando para ser o rei que todos esperam. O rei que você espera. — Ele fala e eu sinto meu corpo todo congelar. — Depois que te dei instruções e você não as seguiu, tive que colocar a cabeça no lugar e pensar como tenho de agir com você. Não quero ser um idiota e agir como seu superior. Quero que sejamos um casal que apoia e respeita um ao outro. — Ele faz uma pausa e eu me culpo por ter o julgado tão mal. Durante esses dias ele só queria um tempo para organizar suas ideias.

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