Capítulo 31

99 6 7
                                    

Versalhes, França

30 de maio de 1816.

TRISS

Cinco semanas. Cinco semanas se passaram desde o início da guerra e ainda não teve fim. Todas as cidades da França vivenciaram os conflitos ente nós e os espanhóis, até mesmo nos campos. Havia noites em que não dormíamos com os sons de canhões e de fogo atingindo lugares bem próximos ao Palácio Buc.

Era algo que nos afligia dia e noite, a rainha passava a tarde toda na janela mais alta do palácio com um olhar vago. E eu? Eu já não tinha notícias de Adam faziam quase duas semanas. Sempre recebíamos cartas ou telegramas, mas agora tudo que sabíamos era que eles estavam ao norte do país no maior combate enfrentado até agora. Seria a partir dessa batalha que saberíamos se os espanhóis se renderiam ou não. Nós com certeza estávamos com vantagem, nosso exército estava bem mais preparado, mas ainda assim morreu muita gente nessas cinco semanas.

Nessa tarde é uma das primeiras vezes que começo a fazer algo produtivo, não apenas porquê eu precisava, mas para manter a mente ocupada. A cada minuto que se passava, minha mente inventava centenas de possibilidades do que poderia ter acontecido com Adam ou não. Só Deus sabe o tanto que já havia rezado por sua vida em vinte e quatro horas.

Continuo a Campanha Higienista que já estava quase toda completa, não tivemos tempo de colocá-la em prática devido todos os acontecimentos que vieram inesperadamente, mas todos acreditávamos que logo poderíamos voltar a nos concentrar nessa missão.

Enquanto fazia algumas anotações, o silêncio que era quase impossível de existir nos últimos dias, me atinge. Eu inspiro fundo e olho para o piano fechado a alguns metros de mim. Fazia muito tempo que eu não tocava e estava com uma saudade enorme de fazer isso. Ando até o instrumento que em questão de segundos tem meus dedos correndo por suas teclas.

Perco a contas de quantas músicas eu já havia tocado quando batidas na porta me tiram a atenção. Olho na mesma direção, vendo nosso Chef Leonard.

— Me desculpe, Majestade. — Ele se curva e eu sorrio fraco.

— Sem problemas, Leonard. Algum problema? — Pergunto, confusa.

— Majestade, apenas vim comunicá-la que nosso cardápio hoje está mais limitado, não tivemos retorno do transporte que nos trazia os alimentos necessários para o jantar. Acredito que devido as batalhas estarem se aproximando do vilarejo... — Leonard diz, com um rosto abatido.

— Obrigada por comunicar, Leonard. Espero que estejam bem e tenha sido apenas algum problema no percurso. — Digo e ele afirma antes de se retirar.

Desisto de tocar e fecho o piano. Me levanto e ajeito o vestido de cor terracota que eu usava hoje, e ao subir as escadas, sinto uma leve sensação de fraqueza que mal consigo dar atenção a ela quando cinco guardas quase arrebentam as portas do palácio. Pulo com o barulho e me seguro no corrimão para olhar na mesma direção.

— Majestade, venha conosco, já! — Um deles grita e dois correm em direção à biblioteca onde estava a rainha.

— O- o que está havendo? — Pergunto totalmente amedrontada, meu coração já se encontrava em minha garganta.

— Estamos sendo atacados. Para o subsolo, depressa! — Assim que o rapaz diz isso, eu olho para a janela, e vejo todos os guardas que faziam vigias dia e noite, se preparando com um arsenal enorme e logo em seguida uma explosão no campo a menos de um quilômetro da nossa propriedade.

Desço as escadas correndo, ignorando meus tremores e a vista embaçada e acompanho os guardas. Os servos começam a correr para ir em direção ao subsolo assim como nós e eu percorro os olhos por todo lugar em busca da rainha.

Amor e ResiliênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora