CAPÍTULO 03|MELANIE

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Oi, pessoal, demorei, mas cheguei! Vamos lá, conhecer mais um pouquinhos dos nossos personagens. Sugestivamente, esse capítulo traz apenas uma ideia do que Grant está disposto a fazer para proteger sua cidade. 

Na noite seguinte, eu estava de volta ao trabalho no Spooke Saloon. O ambiente, mesmo preenchido com risadas e música, ainda carrega resíduos da confusão da noite anterior.

Mas, isso não durou muito porque quando Jay Stone apareceu no bar, ele trouxe a animação junto com ele. Eu queria agradecer e me desculpar, mas, ele foi logo sendo rodeado por todos que ali estavam e as coisas só ficaram ainda mais intensas quando ele gritou "essa rodada é por conta da casa".

Foi pela volta da normalidade que eu comecei a relaxar, apesar disso, eu não parei de pensar na minha conversa com o Xerife ontem. Porra, Melanie, você chama aquilo de conversa?

E os meus pensamentos não saíram dele durante boa parte da noite, principalmente porque, em dado momento, ele acabou aparecendo no Spook também.

"― Eu sinto pelo que aconteceu com você, Melanie." ― Pois é, ele insistia em falar meu nome, saboreava cada letrinha. M-E-L-A-N-I-E. Aquilo só poderia ser de propósito. "― Saiba que se você quiser formalizar uma denúncia, pode aparecer na delegacia a qualquer hora."

Naquela hora, a única coisa que eu fiz foi assentir. Mas, foda-se, nem que o diabo me obrigasse, e com certeza eu preferia ir para o inferno abraçar o Lúcifer, eu colocaria meus pés lá.

"― Agora... eu me sinto na obrigação de ser sincero com você." ― Quando meu pai dizia que ninguém oferece nada de graça – nem honestidade – ele provavelmente estava falando de coisas como essa. Por que caralhos ele só não me deixava ir? Havia questionado silenciosamente. "― Eu sei quem você é."

Só de pensar naquelas palavras meu coração gela novamente exatamente como na noite de ontem. Milhões de perguntas e coisas passaram pela minha cabeça, mas só uma eu consegui verbalizar: "― O que?"

Grant Marshal riu como um grande filho da puta descarado.

"― Você é uma mentirosa."

Oh. Porra. Sim. Eu sou uma mentirosa. Uma das mentirosas mais perversas que a humanidade já produziu. Mas isso era um crime porquê se, merda, eu só queria sobreviver?

"― Mas, Melanie..."

― Melanie. Melaaaaanie... Meeeeel. ― Eu me virei imediatamente quando a voz do Xerife na minha cabeça desapareceu e foi substituída pela voz de Dallas. ― Você pode atender o Grant, por favor?

Eu olhei para o local em que vi o Xerife antes e só aí que eu vi que ele estava acenando para mim. Minha vontade era dizer que não, mas se o Xerife já desconfiava de mim, e ele com certeza já desconfiava, eu não podia me negar a atendê-lo para evitar levantar mais suspeitas.

"― Mas, Melanie, saiba, eu faço qualquer coisa para proteger minha cidade e os meus amigos, então, seja lá qual for a razão de você estar em Coleman, e eu vou descobrir qual é essa razão, e..."

A ameaça do Xerife criava eco na minha memória e enquanto eu me aproximava dele, o doce perfume de puta barata preencheu meu olfato. Observei a loira que estava ao seu lado e não pude deixar de pensar que, embora Grant Marshall coubesse perfeitamente no meu tipo de homem, havia um canyon entre mim o tipo dele.

― Boa noite, em que podemos servi-los hoje? ― Grant olhou para mim, ele olhou especialmente dentro dos meus olhos e eu sequer respirei.

― Eu quero um brisket ― disse, enquanto a moça olhava indecisa para o cardápio.

― Por favor, o mesmo para mim e uma margarita. ― Ela sorri para mim e eu sorrio de volta. Seu sorriso é tão genuíno que eu me arrependo imediatamente de sugerir, mesmo que em pensamentos, que ela seja uma "puta barata".

― Certo ― digo, terminando de anotar o pedido sob o olhar rígido do Xerife. ― As comidas devem demorar um pouco mais de meia-hora, mas, eu já trarei suas bebidas. Caso desejem algo mais, vocês podem me chamar. Com licença.

Eu atravessei o longo salão em direção ao balcão que nos separava da cozinha. Coloquei o pedido sobre ele e dei duas batidinhas. Antes que eu me virasse, Dallas veio até mim com cara de poucos amigos.

― O Xerife veio com uma garota nova ― disse, como se sentisse nojo por dizer cada uma daquelas palavras.

― E qual é o problema? ― perguntei antes de visualizar a mesa na minha mente: o Xerife de um lado, ela de outro e os olhares bastante sugestivos vindo dos dois lados. ― Não me diga que você tem interesse?

― Que nojo!

Ela praticamente cuspiu no piso de madeira do Spook Saloon.

Não havia nada mais que eu pudesse fazer além de rir. Apesar disso, quando ela se afastou e eu precisei atender a outras mesas, eu me pegava olhando para onde o Xerife conversava e ria com aquela mulher.

Estava sentindo inúmeras coisas estranhas naquela noite e quando, um pouco mais tarde eu deixei os pedidos na mesa dos dois, eu identifiquei uma delas: não, não é ciúmes porque eu não sou tão louca.

Era inveja, a mais pura e amarga inveja.

― Você está bem? ― eu me assusto um pouco quando ouço a voz um pouco rouca atrás de mim. ― Soube o que aconteceu ontem.

Will. Will Graysson. Jesus Cristo. Eu tentei focar só no seu rosto, mas, não deu, era impossível, sua camisa cinza estava um pouco suja de terra vermelha, pelo menos três botões na parte de cima estavam abertos e deixavam a mostra seu largo e forte peitoral. Abençoado seja o trabalhador braçal.

Melanie, eu te odeio.

― Ah, eu estou bem, essas coisas acontecem ― respondo, sinceramente. Não deveriam, mas acontecem. Eu tratei logo de mudar de assunto. ― E você, como vai? Te arranjo uma mesa?

― Não... eu estou de passagem. Vou tomar uma cerveja no balcão.

― Certo, se eu puder te ajudar em algo... ― Ele sorriu e se afastou, ainda pude observar por um tempo os seus ombros largos se movendo conforme se afastava.

Deus abençoe o Texas.

Grant Marshall me deixou uma boa gorjeta. Mas, para muito além disso, ele me deixou cheia de coisas para pensar. Primeiro, por que descobrir sobre mim era tão importante? Ele acha mesmo que eu sou um risco para os seus amigos?

Sendo muito sincera, eu sou mesmo um risco não só para os seus amigos, mas para a "sua" cidade também. E toda vez que eu penso nisso, eu me sinto mais inclinada a entrar no carro e ir embora. Apesar disso, correndo o risco de já soar muito apegada, não me sinto tão feliz em fazer isso.

― Amanhã de manhã vamos ao clube, quer ir? ― Eu criei regras para mim, para sobreviver, então, obviamente, minha resposta para Dallas só poderia ser...

― Eu vou ver e te falo. ― Que era outra forma de falar que não.

― Tá bom, se você decidir vir, é na rua Neches, número 1700.

Depois que deixei o Spook, eu entrei no meu jeep e dei uma volta pela cidade, tentando fazer um caminho diferente para o hotel, não que fosse difícil me achar lá ou até mesmo em Coleman que, mesmo não sendo pequena, continua sendo um ovo de passarinho já que todo mundo conhece todo mundo.

Em quase dois anos fugindo, acho que a pior parte de viver assim é quando fico sozinha. São os piores momentos porque minha mente desliga um pouco das pessoas com quem estou convivendo e foca na solidão.

As memórias aos poucos invadiam minha mente, eu não conseguia dormir, não conseguia respirar. "Você é patética!" "Eu vou matar você, Melanie." Eu fecho os olhos, tento respirar devagar, mas, é impossível, eu sinto que estou colapsando. "Ela é um perigo para tudo o que construímos, Oliver. Ela precisa morrer."

E eu quase morri.

E ai? Vocês já têm algum palpite sobre o passado da Mel?

Amores Texanos 01 - Grant & MelanieOnde histórias criam vida. Descubra agora