CAPÍTULO 22 - GRANT

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O silêncio sempre foi um velho amigo meu. Depois de um dia cheio, eu gostava de voltar pra casa e deixar que ele me envolvesse. Mas naquela noite, o silêncio parecia diferente. Não me acalmava como de costume. Algo estava errado.

Eu desci as escadas devagar, o cheiro de torta de nozes ainda preenchendo o ar. O sorriso que Melanie me deu durante o jantar não me convenceu. Eu já a conheço bem demais. Quando ela está tentando esconder alguma coisa, seus olhos a entregam. Hoje, eles estavam cheios de preocupação. Cheios de medo.

E agora, enquanto eu caminhava pela casa escura, essa sensação me corroía. A sensação de que havia algo no ar, algo que eu não conseguia ver, mas que estava prestes a nos alcançar.

Eu parei na sala, encostado na parede, cruzando os braços enquanto olhava para o nada. Minha cabeça ainda estava a mil, lembrando dos eventos do dia. Os assaltantes estavam atrás das grades agora, mas meu instinto, aquele mesmo instinto que me manteve vivo por tantos anos, continuava gritando que o verdadeiro perigo ainda estava lá fora.

Melanie é forte. Mais forte do que ela mesma sabe. Mas mesmo ela tem seus limites. E a forma como me olhou durante o jantar, como se estivesse a ponto de dizer algo e depois desistisse... Isso não era normal.

Eu suspirei, passando a mão pelo rosto. Essa mulher estava se infiltrando em todos os cantos da minha vida. Eu já tinha enfrentado criminosos, enfrentado tiros, feito o que fosse necessário para manter a cidade em segurança. Mas o que estava acontecendo agora era diferente. Isso não era só meu trabalho em jogo. Era ela. E isso me deixava com medo.

Medo de não conseguir protegê-la.

Resolvi subir de volta, ver se ela já estava dormindo. Talvez conversar um pouco mais, tentar entender o que estava se passando na cabeça dela. Mas antes de alcançar as escadas, algo me fez parar.

O celular dela, esquecido na mesa de jantar, vibrava. Um número desconhecido.

Eu não sou o tipo de cara que mexe nas coisas dos outros. Não sou o tipo que invade a privacidade de ninguém. Mas o som da mensagem me chamou de uma forma que eu não consegui ignorar. Peguei o telefone, hesitante, e li a mensagem que acabou de chegar.

"Sabemos onde você está." Repetido em várias mensagens.

O sangue gelou nas minhas veias.

Merda.

Subi as escadas mais rápido do que nunca, o coração acelerado e a mente correndo a mil. Ao chegar no quarto, encontrei Melanie sentada na cama, olhando para o nada. Seus olhos, antes cheios de receio, agora estavam distantes, como se ela já soubesse o que eu tinha visto.

— Por que é que você não me contou? ― perguntei, levantando o celular.

Ela não se moveu, nem desviou o olhar. Apenas ficou ali, sentada na cama, os olhos fixos em algum ponto distante do quarto, como se estivesse enfrentando uma batalha interna.

― Melanie ― chamei de novo, mais firme dessa vez.

Ela respirou fundo, mas o silêncio que veio depois foi como um soco. O ar parecia ter ficado mais pesado, e eu podia sentir o conflito em cada fibra do corpo dela. Melanie, sempre tão determinada a se proteger, estava claramente tentando me poupar de alguma coisa. Só que isso não ia funcionar dessa vez.

― Eu... ― ela finalmente sussurrou, a voz trêmula. ― Grant, eu não sabia como...

― Não sabia como o quê? ― cortei, minha voz mais baixa, mas carregada. ― Você acha que eu não sei lidar com isso? Acha que você esconder a situação vai fazê-la desaparecer?

Amores Texanos 01 - Grant & MelanieOnde histórias criam vida. Descubra agora