CAPÍTULO 01|MELANIE CARTER

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COLEMAN, TEXAS, 2022.

Você não sabe do que é capaz, até precisar fazer o necessário.

Nos últimos dois anos, eu nunca chamei qualquer lugar de casa, de lar. E é claro que Coleman não será quem mudará isso.

Estou na cidade há um pouco mais de uma semana. É um lugar bonito, amigável, apesar de provinciano, você pode ser capaz de dizer se as pessoas são boas apenas pela forma como são umas com as outras.

Coleman cumpre o que promete em alguns quesitos. Primeiro, o pôr-do-sol era mais bonito que uma pintura do Da Vinci. E segundo, Deus, a comida era como estar no céu.

O trabalho que consegui não é o ideal e está muito longe de ser discreto, mas, paga bem todas as minhas necessidades e eu posso manter as coisas sob controle. Há algumas vantagens de trabalhar em um lugar desses, saber em primeira mão o que acontece na cidade.

― Os meninos da mesa quatro não param de olhar pra cá.

Eu não me virei imediatamente. Apertei a bandeja sob meu braço e sorri discretamente para Dallas. Ela sorriu de volta, sem timidez, acenando para os caras da mesa quatro.

Eu conhecia aquela garota há apenas cinco dias e, honestamente, eu já amava seu espírito doido de pedra.

Aos poucos, eu me virei e olhei na mesma direção que ela. E, ok, eu não estava preparada.

Aqueles três homens claramente estavam acima da beleza padrão.

Um deles, o mais sério, tinha a sua frente, sobre a mesa, um chapéu na cor cinza e vestia uma camisa azul sob a jaqueta de couro marrom bem gasto, claramente era um cowboy. Os ombros eram largos, assim como os braços, ele é forte e o sorriso é daqueles de arrebentar corações.

O segundo claramente não valia nada.

Seu sorriso escorria, além de malícia, certo ar de maldade. Ele vestia uma regata do Nirvana que deixava à mostra completamente seus braços com músculos bem definidos cobertos por tatuagens. Os cabelos cacheados, quase loiros, caíam sobre os ombros de forma selvagem e harmônica com a barba largada. Esse eu já conhecia porque ele é dono do "Spook Saloon".

O terceiro... Porra.

Eu não preciso de muito para saber que ele é meu tipo de homem. Pois é, depois de um tempo você percebe que tem um tipo. E o meu? A cara de mocinho é obviamente perfeita para encobrir a radiação digna de Chernobyl.

Sua barba é grossa, mas, perfeitamente bem cuidada. Está vestindo uma camisa branca social, ela está um pouco amassada de forma que estou supondo que acabou de sair do trabalho. Apesar dos braços cobertos, dá pra ver que eles são fortes. Seus olhos não estão em nenhum lugar que não seja eu.

Sinto meu corpo inteiro ser esquadrinhado. De repente, ele parece perigosamente perto de um predador e, claro, eu sou a presa. Seu braço se levanta, chamando. Eu me viro, me dando conta de que Dallas não está mais lá e eu sou a única quem deve atender àquela mesa.

― Ei, moça, os caras não têm importunado você, certo? ― foi o cabeludo quem perguntou. Eu nem sabia o que dizer. ― Se eles estiverem, você pode falar comigo ― diz, abrindo um largo sorriso para mim e eu aceno. ― Estes são Will e Grant.

Eu aceno, dando um sorriso meio sem graça.

― Melanie.

― Você não é daqui, é, Melanie? ― Por quê? Apenas por que eu estremeci quando ele disse meu nome daquela forma?

― Porra, Grant, deixa a moça! Você não tá no trabalho. ― Uma luz imediatamente se acendeu na minha mente e eu me lembrei do que diziam as pessoas.

Grant Marshall. O Chefe da Polícia local.

Eu não queria que ele pensasse que eu tinha algo a esconder, e, pela maneira com que me olhava como se estivéssemos na inquisição, ele já estava julgando até mesmo a minha demora em responder.

― Estive em Phoenix antes daqui ― respondi com sinceridade.

― E antes de Phoenix? ― Marshall perguntou quase que instantaneamente. Seria possível que apenas seu "faro de tira" lhe contasse aquilo? Ou eu estava lhe dando as pistas com meu nervosismo.

Eu sorrio, relaxo a postura e tento parece o mais confortável possível naquela situação. Eu estava mesmo sendo interrogada. Ele sorriu de volta. Um daqueles sorrisos matadores: uma mão quentinha e ardente arrastando meu corpo inteiro para o inferno... Meu Deus, pare de pensar nessas coisas, mulher!

Felizmente, antes que eu pudesse responder, Dallas, cantando "Roscoe", salvou minha pele. Pelo menos por hora. Eu ainda sentia o olhar do policial em mim e, infelizmente, eu sentia que o havia atraído naquela noite por um longo tempo. Ou até eu entrar no meu jeep e fugir para bem longe daqui.

E quando a música acabou, Hunter pediu as bebidas e eu me apressei para ficar o mais longe possível da mesa deles pelas próximas horas. Isso, claro, não foi difícil, o Spook estava cheio.

Não abriam na segunda, mas, depois disso, cada dia e noite daquela semana, as pessoas de Coleman e região lotavam o lugar para beber e ouvir música. Era quase uma tradição. Em todos os lugares do país onde estive, eu sentia o Country como um estilo musical, mas no Texas... Ah, no Texas, muito mais que isso, é um estilo de vida.

Perto das quatro da manhã eu voltei para o Budget, um motel de beira de estrada, local adequado para uma fuga em potencial. O local é simples, mas tem seu charme. Tem uma cama larga e macia, uma TV com canais de filmes e séries, uma cozinha pequena e um banheiro ainda menor. Eu não cozinhava, porque, na verdade, como cozinheira eu era excelente pianista.

Sou. É incrível como, ao mudar de perspectiva, é fácil ver as coisas como elas costumavam ser. É ainda mais incrível, ou até mesmo inacreditável, como mesmo que com dois anos me separando de um piano, quando eu me deitava e relaxava a tensão, meus dedos ainda realizassem esses movimentos. Eu ainda posso sentir cada tecla sob meus dedos, eu ainda posso sentir a melodia se construir através delas.

A música é mais que uma paixão pra mim; é parte de quem eu sou. E talvez por isso o Texas tenha me pegado de jeito.

Dormi até às dez da manhã. Após sair do hotel, decido explorar um pouco Coleman City. Apesar de ser famosa no Estado todo, a cidade ainda mantém essa atmosfera provinciana e o charme nostálgico dificilmente encontrados em lugares mais movimentados.

Grande parte das pessoas em Coleman tem aquele olhar intimista típico de honorários cidadãos, guardiões de segredos e tradições. Eu vi muito disso por aí. Por outro lado, também existem olhares gentis e receptivos, vindos de pessoas que conversariam com um estranho a tarde toda se fosse preciso.

Aconteceu na pequena Loja de Conveniências. Eu parti da cidade anterior tão apressadamente que acabei abandonando metade de tudo o que eu tinha. Com a necessidade de roupas frescas para aguentar o calor do Texas, escolhi camisetas leves e shorts. Olhei para as minhas botas e fiquei um pouco envergonhada.

Cara, eu preciso de botas novas.

Levantei os olhos institivamente ao reconhecer a voz grossa vindo de algum lugar atrás de mim.

― Eu também preciso de botas novas. ― Não. Não.

O Xerife sorriu como um grande filho da puta, revelando um misto de bom humor e travessura em seus olhos. Ele é um canalha!

Melanie do céu, ele é a porra de um cafajeste. 

E você sabe como é, com cafajestes não se brinca! Espero que estejam gostando. Aguardo vocês no próximo capítulo❤

Amores Texanos 01 - Grant & MelanieOnde histórias criam vida. Descubra agora