Capítulo 02

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— Geto Suguru — disse o oficial, olhando através da tela no painel de metal.

Suguru levantou-se da cadeira dobrável e foi até a janela. Ele odiava seu nome - uma piada estúpida de seu pai bêbado escolhendo aleatoriamente sílabas no quadro de avisos de serviços da sala de espera do hospital. Ou talvez fosse porque o seu querido e velho pai estava bêbado demais para sequer escrever direito na certidão de nascimento, rolando e arrastando as letras assim como falava quando estava muito bêbado para pensar direito.

— É Geto.

O oficial deu-lhe o olhar autoritário padrão com o qual ele estava familiarizado quando ousava mostrar qualquer sinal de ir contra a corrente.

— Geto Suguru — o guarda repetiu com um sorriso irônico. — Tenho pertences pessoais do seu check-in, incluindo uma carteira de couro, duas notas de dez dólares e uma carteira de motorista. Também temos dois itens pessoais da sua cela, incluindo um caderno e uma fotografia. Assine aqui. — o oficial entregou a prancheta e jogou o conteúdo em uma grande pasta parda.

Ele pegou a caneta e esboçou sua assinatura. Ele puxou a gola de sua nova camiseta preta, que ficava um pouco mais justa do que sua roupa rígida habitual da prisão. Ele esfregou as mãos nas coxas cobertas pelo jeans e deslocou o peso de um pé para o outro, desfrutando da sensação das botas novas em seus pés.

O oficial recuperou a prancheta e verificou o formulário, arrancou uma cópia e entregou a ele.

— Você precisa assinar isso também.

Em troca de sua segunda assinatura, ele recebeu uma cópia cor de rosa com uma nota novinha de cem dólares para despesas de transferência. Em uma ironia triste e distorcida da vida, isso era mais dinheiro do que ele jamais teve em mãos de uma só vez nos vinte e um anos antes de ter entrado neste lugar. Cem dólares por uma década perdida nesse inferno.

Ótimo. Ele agora era um ex-presidiário de trinta e um anos. Ele poderia ouvir o tumulto de pessoas esperando para conhecê-lo. Não.

— O Sr. Geto será o responsável pelo seu transporte.

Sr. Geto?

— Deve haver algum engano.

Isso lhe rendeu outro olhar de repreensão.

Ele suspirou.

E xingou baixinho.

Eles provavelmente bagunçaram a papelada e viram “pai” marcado em alguma caixa e presumiram que compartilhavam o mesmo sobrenome. Afinal, quem diabos mais ele tinha para levá-lo para a nova casa de reintegração onde deveria passar os próximos meses de sua liberdade condicional. Seu pai bêbado lhe deu o esperma e uma vida inteira de socos e dores de cabeça, mas ele definitivamente não havia dado seu nome ou pedido a mão de sua mãe em casamento antes de ela morrer durante o parto. Ele perdeu a conta de quantas vezes agradeceu os céus porque o hospital lhe deu o sobrenome de sua mãe em sua certidão de nascimento. O seu querido e velho pai o acolheu, mas com certeza foi rápido em jogá-lo na rua assim que completou os dezoito anos e a assistência do governo parou.

Independentemente da circunstância, ele ficou feliz em sair daquela casa. Parecia que o único propósito de vida de seu pai era lembrar ao filho o quão inútil ele era para a humanidade, e havia um limite dessa merda que uma pessoa poderia suportar e permanecer sã.

— A papelada foi aprovada. Lide com isso. Fique com a caneta. Tenha uma ótima vida. — o guarda saiu da mesa, levantou-se da cadeira de rodinhas e saiu, deixando-o sozinho para separar cuidadosamente os pouco itens em sua carteira. Adorável. Como alguém poderia soltar uma bomba daquelas e sair?

A Worthy Man | SatosuguOnde histórias criam vida. Descubra agora