Capítulo 13

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Suguru saiu do quarto, imaginando que poderia assistir televisão lá embaixo até a hora do jantar. Agora que Frankie estava fora da casa há alguns dias, quase parecia que Ryan e Toge finalmente estavam relaxando um pouco. Especialmente Ryan. Normalmente tão tenso como uma corda de violão em qualquer tipo de interação, ele agora ficava no sofá com Toge e até mesmo tinha feito um esforço para aprender um pouco da linguagem dos sinais.

Ele passou pelo quarto de Toge e o viu ajoelhado perto da mesa de cabeceira, acariciando algo sobre a mesa. Algo... difuso. Ele roubou um gato da vizinhança ou algo assim? Talvez um gato morto, porque aquela pilha de pêlo ou seja lá o que fosse, parecia desgastada.

Toge era o mais novo na casa, mas parecia muito mais jovem do que realmente era. Havia uma certa inocência em seus olhos que Suguru não via com frequência nos outros. Frankie descontava muito de sua raiva em Toge, constantemente gritando com ele e apontando o dedo em seu rosto. Toge podia não ser capaz de ouvir cada grito, mas a forma como seus ombros se curvavam e como ele se encolhia era um sinal evidente de que ele, sem dúvida, sentia a raiva por trás de cada golpe no ar.

Suguru abriu a porta e acenou com a mão em um grande círculo, na esperança de chamar a atenção de Toge. Por respeito, ele não invadiria seu espaço, sabendo muito bem o quanto ele mesmo odiava isso.

Toge se virou para ele e se endireitou, ficando em frente à mesa de cabeceira para que Suguru não visse.

— O que você tem aí? — Suguru gesticulou.

Nada. — Toge abaixou a cabeça e depois espiou por entre os cílios.

Suguru cruzou os braços e encostou-se ao batente da porta.

Os ombros de Toge caíram. Ele suspirou, em seguida, começou a mover as mãos rapidamente, muito rápido.

— Vá mais devagar, por favor. Eu não consigo acompanhá-lo. Um coelho? — Suguru focou nas mãos de Toge, parando-o e só gesticulando para ele repetir algo novamente quando perdia o fio da troca.

O apelido de Toge quando criança era coelhinho. Sua irmã mais velha lhe dera um coelho de pelúcia porque a lembrava de como ele pulava quando ficava animado. Era a única coisa que ele tinha de sua irmã antes que fossem separados em um orfanato quando eram crianças. Toge e seu coelho de pelúcia bem esquisito tinham sofrido bastante ao longo dos anos.

Toge fez sinal para Suguru entrar em seu quarto. Ele apontou para a orelha rasgada e a cauda felpuda faltando. O rasgo foi cortesia do idiota do Frankie na primeira noite de Toge na casa, um mês antes. Aparentemente, ele o manteve na mesa de cabeceira para evitar que o pobre coitado ficasse pior.

— Ele precisa de um enterro. — Suguru gesticulou.

Os olhos de Toge se arregalaram e ele sacudiu a cabeça de um lado para o outro.

— Estou brincando. Estou brincando. Ele só precisa de um pouco de remendo.

Toge encolheu os ombros. Ele estendeu a mão e distraidamente acariciou a orelha boa ainda conectada ao coelho.

— Leve essa coisa lá em baixo. Acho que precisamos levá-lo ao pronto-socorro.

Toge franziu a testa e apertou os lábios.

Você é louco.

Suguru riu.

— Talvez. Um pouco. Vamos lá. Traga essa coisa.

Suguru desceu as escadas e foi até a cozinha, sem esperar que Toge o seguisse.

— Ei, Haibara. Você tem um kit de costura?

A Worthy Man | SatosuguOnde histórias criam vida. Descubra agora