Capítulo 04

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garçom, me sirva um angst bem servido

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Suguru respirou fundo novamente, deleitando-se com o silêncio durante o resto do caminho até a casa de reintegração enquanto processava tudo que Satoru havia dito nas últimas horas. Nenhuma palavra foi dita nas últimas duas horas, mas um tipo diferente de silêncio se instalou entre eles, quase um entendimento na ausência da tensão que era tangível desde que haviam deixado a prisão. A noite já havia caído no momento em que pararam no estacionamento traseiro de uma grande casa imprensada entre o que parecia ser um distrito comercial. Ele puxou a caneta da espiral do caderno, fez uma anotação rápida na contracapa, e o fechou novamente.

Satoru estacionou o carro e permaneceu sentado enquanto o carro estava parado.

— Essa pode ser considerada nossa primeira briga? — perguntou Suguru, rompendo o silêncio.

— Eu não sei. Nós nunca gritamos um com o outro e eu não quero começar agora.

Suguru ficou quieto. A tensão era menor, mas o ar entre eles estava longe de ser a tranquilidade reconfortante que ele lembrava, pontuando o abismo crescente que ameaçava mantê-los separados.

— Por que você não me contou?

Satoru girou a cabeça contra o encosto de cabeça para encará-lo.

— Não contei o quê?

Suguru olhou para o caderno na mão, sacudindo a borda com o polegar.

— O que sua mãe fez. Você nunca mencionou ela deserdando você. — ele olhou para Satoru. — Por que você não me disse que estava sozinho?

— Você não queria me ver.

— Mas você não incluiu isso em nenhuma das cartas. — Suguru desviou o olhar, remexendo no caderno novamente.

— Eu não queria que houvesse nada negativo nelas. Imaginei que era difícil estar lá dentro e... não queria arriscar dizer nada para piorar as coisas. Achei que focar em nossos momentos, nas memórias... nas coisas positivas seria melhor. Achei que isso poderia… ajudar.

Suguru olhou para cima, olhando pelo para-brisa para a casa que seria sua casa nos próximos meses.

— Você não me disse sobre a linha de carros. A que você inventou. Você não me disse sobre mudar seu nome — disse ele, distante. Tinha tanta coisa que havia mudado e tanto que ele não sabia. Cada carta de Satoru relembrava algum momento de seus anos juntos. Cada carta era positiva, feliz e leve, mas quase não mencionava eventos atuais, especialmente os que mudavam vidas. Ele ansiava por saber as conquistas, mas sentia falta de pequenas coisas: se Satoru ainda odiava tomates em sua salada, se ele ainda odiava vestir algo laranja ou vermelho, se a rara brisa fresca que batia no seu rosto ainda o fazia sorrir.

— Ficar com o seu nome poderia ter levado você a pensar algo...

— Toru, não. — disse Suguru em uma reprimenda, virando-se para encará-lo novamente. — Nós dois escondemos coisas aqui. E admito que estraguei tudo por não te enviar cartas ou deixar você vir visitar. Eu tive meus motivos, mas... — ele balançou a cabeça, precisando dissipar os milhões de pensamentos que corriam por sua mente.

Nada do que ele escrevia saía certo. Ele não podia mentir para Satoru, e escrever uma carta dizendo que estava tudo bem seria uma completa mentira. Além disso, Satoru perceberia isso. Ele sempre percebia. E nem ferrando ele queria que Satoru realmente o visse como aquele “bandido” estereotipado que todo mundo dizia que acabaria na prisão um dia. Ele nunca quis tanto provar que alguém estava errado em toda a sua vida.

A Worthy Man | SatosuguOnde histórias criam vida. Descubra agora