Capítulo 17

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Suguru passou a mão pela página, esboçando as linhas mais escuras do desenho. Ele cravou os dentes no lábio inferior quando acrescentou um pouco de sombra, aproveitando o papel texturizado no caderno de desenho que Satoru havia lhe dado. Ele odiava aceitar presentes, mas não resistiu à vontade de desenhar novamente ou negar a excitação no rosto de Satoru quando ele aceitou o presente.

Ele olhou para os lápis aleatórios que reuniu de Haibara e Nanami na mesa de centro, procurando por um grafite mais duro que lhe desse a ponta fina que ele precisava para os detalhes que queria acrescentar. Ele nunca teve lápis de arte de verdade para usar, mas lápis padrão de diferentes marcas e tipos sempre funcionavam bem em seus esboços. Ele pegou outro lápis com a mão oposta e colocou o caderno de desenho sobre os joelhos, mudando de um lápis para o outro até que tivesse o equilíbrio certo entre sombra e detalhes que queria. Ele esticou os braços, segurando o desenho à sua frente para inspecionar os detalhes.

Ele conteve um sorriso.

Perfeito.

Ele pegou um lápis diferente da mesa e acrescentou mais alguns toques. Ele olhou para o relógio de parede. Seu pulso acelerou, percebendo que Satoru deveria chegar em cerca de dez minutos. Ele finalmente deixou escapar o sorriso, grato por sempre parecer perder a noção do tempo ao desenhar. Fez uma anotação mental para desenhar algo todas as noites para ajudar a passar o tempo até a chegada de Satoru. Com certeza era melhor do que desgastar o chão da casa com seus passos enquanto esperava sua chegada.

— Geto, alguém está aqui para ver você. — gritou Ryan da entrada da frente.

Suguru fechou o caderno e colocou-o na mesa. Talvez Satoru tenha pedido ao seu motorista para levá-lo até a Halfway House hoje, em vez de dirigir por conta própria e estacionar atrás? Ele pulou do sofá e foi até a porta da frente, sorrindo, se perguntando se a chegada antecipada de Satoru significava que ele estava igualmente ansioso por seu tempo juntos. Era como se eles tivessem voltado no tempo, conhecendo-se e descobrindo quais peculiaridades antigas ainda existiam e descobrindo outras novas. E ele não negaria que se apaixonou por Satoru novamente.

O sorriso derreteu de seu rosto e seu coração acelerou contra o peito. Olhos que refletiam sua forma e cor olhavam para ele.

— O que você está fazendo aqui? — ele perguntou, sua voz dura e seu tom um pouco grosseiro por conter a tempestade de memórias que inundavam sua mente.

Cada golpe.

Cada grito.

Cada nome e palavra repugnantes vomitados nele.

— Isso é jeito de falar com seu pai?

Os anos de álcool obviamente cobraram seu preço. A cor de sua pele tinha um leve tom amarelo que não existia antes, e seus dentes haviam ficado de alguma forma acinzentados com o passar dos anos, escurecendo o sorriso de escárnio dele. As rugas em seu rosto haviam se aprofundado e fios prateados agora coloriam seus cabelos escuros, mas ele ainda ostentava sua altura e corpo forte com intensidade. Não era um pesadelo de infância. Seu pai era, de fato, o monstro alto e forte que ele lembrava e esperava esquecer.

— O que você quer? — Suguru perguntou, suas mãos apertando em punhos ao lado do corpo.

— Eu ouvi dizer que você foi solto. Eu queria ver meu filho.

— Chocante. Lembro-me de você me expulsar de casa no meu aniversário de dezoito anos. Por que o interesse repentino?

O homem mais velho gargalhou e o cheiro de álcool em sua respiração fluiu até Suguru, revirando seu estômago com desgosto. O homem deu um passo à frente, atravessando o batente da casa de reintegração.

A Worthy Man | SatosuguOnde histórias criam vida. Descubra agora