Vida Bandida (M)

Capítulo 52

Canta galo - Rj

Bobô

Depois do disparo eu só conseguia ouvir gritos e mais gritos. Estava sem entender nada e ainda aéreo com a notícia.

Eu vou ser pai de novo?

A cria morreu?

Primo: Colfoi tia, pra de gritar!

Sandra: Você acertou a barriga dela, meu Deus.

Gavião: Tá fazendo oque aqui tia? Era pra tu tá no interior!

Sandra: Socorre ela! Socorre ela!

Gritou me balançando e eu estava paralisado vendo ela me olhar com uma mão na barriga e sangue saindo pela boca.

Chapadona: Não mata nosso filho, por favor.

Sandra: Ela está gravida meu filho, eu fui fazer o teste com ela, no particular, a médica é minha chefe, eu sei do que eu estou falando, salva a vida dessa criança, por favor.

Primo: Herdeiro dessa mandada não vai viver aqui na minha favela!

Sandra: Eu levo ele para o interior comigo, mas deixa eu salvar o meu neto, Nicolas!!!

Gritou mais uma vez, eu não conseguia reagir.

Como ela tava grávida esse tempo todo e não falou nada? É desde antes dela ir pra outra favela.

Que porra tá acontecendo?

Senti uma ardência no rosto e vi a mão da minha mãe na minha direção, novamente.

Sandra: Acirda! Põem ordem aqui e leva ela para o hospital, AGORA!

Respirei fundo tentando me concentrar e sai da transe, peguei o corpo dela do chão e corri para o carro.

Primo: Se algum deles voltar com vida pra cá, quem morre é tu, filho de alemão não é bem vindo aqui.

Gavião: Irmão, ele tem sangue nosso também.

Primo: Tu já tá ciente dessa parada, mete o pé e não volta mais. Quem da tua família continuar aqui, morre hoje mermo.

Falou subindo na moto dele e saiu a mil por hora de la, entrei no carro com Chapadona no colo e o gavião entrou dirigindo.

Demos entrada no hospital quase meia hora depois, entramos por trás e fomos direto para a sala de cirurgia, os médicos pegaram ela e tiraram nós de onde estávamos.

Ficamos na sala de espera, mas mesmo depois de horas não tínhamos notícias dela, eu estava nervoso, precisava saber como ela estava.

Como meu filho estava.

Bobô: Como tu descobriu a gravidez?

Perguntei pra a minha coroa.

Sandra: Ela me ligou um tempo depois que nos encontramos no shopping, chorando muito e pedindo muito perdão. De primeira não aceitei e desliguei diversas chamadas dela, até ela me mandar mensagem dizendo que era sobre meu neto.

Falou e respirou fundo.

Sandra: Achei que era sobre o Kyan e que algo estava pra acontecer com ele, então primeiro busquei ele na escola e fiquei tranquila em saber que ele estava bem, após isto, ela ainda me ligava então decidi escutar ela.

Gavião: Tu não falou nada pra nós, porque?

Ela só negou, ja dizendo mesmo sem falar, que não podia fazer isto.

Sandra: Me encontrei com ela no shopping novamente e lá ela chorou muito e me mostrou um teste de gravidez, de primeira eu falei que era do namorado dela e que não aceitava ela fazer essas palhaçadas, até ela falar que não tinha relações com ele desde quando veio para a favela, eu duvidei, mas não sabia oque fazer, ela estava desesperada.

Bobô: E oque tu fez?

Sandra: O óbvio né? Levei ela na minha antiga patroa, ela é obstetra e pedi para fazer um exame e me falar com quanto tempo ela estava, assim a gente fez o teste e deu de cinco meses, agora deve ser seis, eu só confiei nela, porque ela disse que iria morrer e precisava se esconder até a criança nascer e que iria se entregar para o primo após o parto e que se eu quisesse, era pra mostrar onde ela estava assim que a criança saísse dela.

Falou e secou as lágrimas.

Sandra: Meu filho, ela estava perdida, ela não tem ninguém desde nova, ela só conhece o crime, não sabe oque é o amor de uma família, não sabe nada sobre a vida fora dessa merda toda, a única experiência foi contigo e deu nisso tudo, ela se ajoelhou pedindo pra eu proteger ela, mas eu não sabia que ela já tinha sido sequestrada, eu fui atrás dela depois que tu me deixou no aeroporto e descobri que ela estava lá, por isso eu voltei, ela não pode morrer, ela tem que viver essa vida de mãe, ela vai mudar, eu sei que vai!

Bobô: Não importa se ela vai mudar, os crias vão matar ela, se eu perdoar ou não, e eu também posso ser morto.

Sandra: Eu sumo com ela, não tem problema, a gente some!

Bobô: Se a criança estiver viva, eu sumo com ela e vocês só vão saber de nós, quando eu souber que estiver tranquilo pra vocês saberem, se não sobreviver, aí eu não posso fazer mais nada.

Sandra: Ela vai viver, meu Deus é justo e vai deixar ela viver uma vida boa de mãe!

Doutor: Parentes de Nicolly Silva?

Meu coração palpitou na merma hora, ela tem que estar viva e essa criança também.