capítulo 33

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Sabe quando você tem certeza que está extremamente fodida e não quer voltar para a realidade?

É assim que eu estou nesse exato momento.

Eu tinha acordado logo cedo, não passava das seis da manhã, disso eu tenho certeza.

Tinha alguns soldados comigo na salaz porém estavam dormindo, mas não fui burra e esse tempo todo me fingi também.

Não queria falar com ninguém, e a cada soldado que entrava para trocar de turno, cada conversa deles, cada olharzinho, eu estava nervosa.

Pra caralho!

Não sabia de quase nada.

A não ser que o primo descobriu algo de mim, porém não quer contar ainda.

Mas disseram também que provavelmente o sub deve saber, e o sub daqui é quem mesmo?

Nada mais, nada menos que o:

Bobô.

Eu sabia que estava fodida, ele iria me odiar pra caralho!

E eu só tinha uma carta na manga e que eu estava rezando pra que desse certo.

Porque se não der, fodeu de vez.

Tudo bem que entrei aqui de cabeça e deixando toda minha vida pra traz, desistindo de tudo que eu já conquistei.

Mas mano, confesso não estar pronta para morrer assim tão cedo.

Bobô estava na sala fazia algumas horas, e a médica veio aqui e disse que era possível eu acordar entre esses dias.

Porque meu corpo estava reagindo muito bem aos medicamentos e tudo mais.

E que eu poderia ter uma perda de memória, pelo jeito que eu bati a cabeça no chão, então era isso que eu tinha ao meu favor.

Fingir não conhecer ninguém.

Daqui uns meses eu falo que tô lembrando de tudo, mas claro fingindo lembrar das coisas pouco a pouco.

Abri os olhos quando já estava ouvindo poucas vozes na sala, assim que olhei ao redor, tava todo mundo me olhando.

Me fingi de sonsa e franzi o cenho.

Vamos fingir que voltei a ter 15 anos.

Época que eu fui para o hospital depois de ter matado "meu pai".

Apanhei pra caralho naquele dia e fiquei traumatizada por meses até conseguir usar tudo aquilo que aconteceu comigo ao meu favor e me tornar oque sou hoje.

Bobô: Até quem fim acordou, princesa - falou no deboche.

Fingi não reconhecer e fiz cara de pânico misturada com medo.

Chapadona: Quem é você?

Soldado: Ah tá de brincadeira? E agora?

Gavião: Qual foi? Tá doido?

Soldado: Se ela sabe de alguma merda, como vai contar se perdeu a memória?

Chapadona: Eu não perdi a memória, vim pra cá depois da merda que aconteceu na minha casa, cadê minha mãe? Quem são vocês?

Na hora Bobô bufou cheio de raiva.

Bobo: Chama a porra da médica lá, temos que resolver isso.

O menino saiu e voltou um tempo depois com duas enfermeiras.

Enfermeira: Boa noite Nicolle, tudo bem?me chamo Thais e estou cuidando do seu caso, junto com a enfermeira Fabiana.

Chapadona: Boa noite doutora, você pode me dizer quem são eles? E como a minha mãe está?

Thaís: Eles são soldados aqui do morro, seus amigos - falou e eu neguei - você deu entrada aqui sozinha, mas se quiser ligamos para a sua mãe, pode ser?

Falou e eu neguei de novo.

Vamo lá né, se fingir mais uma vez.

Chapadona: Eu lembro de deixar ela com uma enfermeira mais cedo doutora, ela estava muito machucada, mas eu deixei ela aqui e disseram que iam salvar ela - falei chorando.

A real é que lembrar desse dia me dava um ódio e eu chorava fácil lembrando da minha mãe, já que ela era tudo que eu tinha.

Thaís: Tá bom, vou mandar verificar nós quartos e te dou uma resposta ok? - falou e eu concordei - Quantos anos você tem?

Chapadona: 12 anos.

Thaís: Você mora com quem?

Chapadona: Com os meus pais.

Thaís: Onde seu pai se encontra nesse momento?

Chapadona: Morto.

Thaís: Qual a data que ele morreu?

Chapadona: Foi hoje mais cedo, eu matei ele - falei, comecei a chorar e ela me olhou assutada - Ele tentou tirar a vida dela e a minha eu só defendi minha mãe, eu juro que não queria fazer aquilo.

Thaís: Tudo bem, está tudo bem, se acalma, não vamos te julgar.

Chapadona: Por isso eu quero saber da minha mãe, como ela está?

Thaís: Olha fica calma, vamos conversar tá bom?

Falou e eu concordei

Fabiana: Bom você entrou aqui a um mês atrás, depois de uma invasão que teve aqui no morro e você participou, você levou três tiros, um no peito e dois na perna.

Chapadona: Como isso se eu estava em casa? Doutora você está com a fixa trocada, eu não mexo com armas e nem nada do tipo, por favor não fala isso.

Gavião: Calma Chapadona, está tudo bem, elas só tão tentando ajudar.

Chapadona: Me chamo Nicolle Santos do Nascimento, tenho 12 anos, eu nunca trabalhei, só estudo, minha mãe se chama Marcela Santos do Nascimento, trabalha de costureira em Bangu, meu pai se chama Jessé do Nascimento Júnior, ele é pedreiro trabalha na firma de meu padrinho, Júnior's reformas e construções, eu não tenho envolvimento ao tráfico, por favor doutora me ajuda.

Falei chorando mais ainda.

Thaís: Em que ano estamos?

Chapadona: 2010.

Ela me olhou e depois olhou para outra enfermeira, ela fez mais algumas perguntas e depois me levou para fazer alguns exames.

Fiquei horas fora do quarto, fazendo todo tipo de exame que tinha, aquando voltei já era de madrugada.

Estava cansada, fechei meus olhos e respirei fundo tentando dormir.

Só estava eu naquele quarto, não sabia onde estava os meninos e estava com medo deles puxarem algum assunto comigo.

Mas depois de um tempo, quando estava caindo no sono, escutei eles estrando e conversando.

Gavião: E se nós fizer seção de hipnose nela? Será que ela não volta a lembrar?

Bobô: Nós tá mó fodido com morro, quase até sem droga pra vender e tu acha mermo que temo dinheiro pra essa porra? Se liga gavião!

Gavião: E ela vai ficar assim pelo resto da vida?

Bobô: A médica disse que ela volta daqui uns meses, então é só esperar.

Vida Bandida (M)Onde histórias criam vida. Descubra agora