capítulo 35

2K 142 4
                                    

Eu estava aqui no hospital, esperando o bendito Bobô vir me buscar.

A médica tinha me dado alta, disse que estava tudo ok e que minha memória iria "voltar" aos poucos e eu não precisaria e preocupar.

Mas teria que ir pelo menos uma vez na semana para fazer exames.

Chatão pra caralho isso, tomar no cu!

Bobô: Tá pronta?

Chapadona: Vai me levar pra onde?

Bobô: Pra minha casa.

Chapadona: Não, eu nem te conheço.

Bobô: Conhecer tu conhece, só não lembra.

Chapadona: E se tu me sequestrou e pagou pra todo mundo fingir que eu esqueci minha memória?

Bobô: Tenho certeza que quando tu matou teu pai, cê num tinha nem duas tatuagens.

Falou e eu olhei para o meu corpo.

Bobô: Confia em mim parceira, não vou fazer nada contigo, tá suave!

Chapadona: Minha vida de qualquer jeito já está uma merda mesmo.

Bobô: Num vou nem citar a minha.

Saímos do hospital e ele me levou pra casa dele, colocou minhas coisas em um quarto que não era o dele e me levou pra cozinha.

Bobô: Como tu não lembra de nada, nem do nosso lance, tu vai dormir em outro quarto pode pá? Os menor limpou tudo hoje mais cedo.

Chapadona: A gente ficava?- me fingi surpresa. - nossa!

Bobô: Porque? Vai dizer que seu gosto mudou.

Chapadona: Não é que eu não esperava por isso, que bom que a eu do futuro ainda tem bom gosto.

Bobô: Ó me senti lisonjeado.

Falou e eu ri negando.

Ele fez comida pra nós e jantamos só nós dois.

Bobô: Aí? E esse negócio do seus pais? Se tu não quiser falar fica tranquila pô, sem pressão.

Chapadona: É que meu pai sempre bateu na minha mãe, desde quando eu me entendo por gente, e esses dias, que acho que faz anos pra vocês, ele bebeu e se drogou demais, bateu nela e atirou nela com uma arma que eu nem sabia que ele tinha, fiquei sentada em choque sem saber oque fazer.

Falei e parei lembrando daquele dia.

O ódio veio novamente no meu peito.

Chapadona: Eu não sabia oque fazer, mas corri quando ele veio pra cima de mim tentando me estuprar, consegui correr até a cozinha e ameaçar ele com uma faca, ele saiu correndo de casa e eu fui atrás, teve uma hora que ele caiu no meio da favela, e eu subi em cima dele e dei várias facadas.

Falei e limpei minhas lágrimas.

Chapadona: Voltei pra casa correndo e tentei salvar minha mãe, levei ela no postinho e deixei ela com uma enfermeira, depois disso só me lembro de ter acordado na cama do hospital e ver vocês lá.

Na real não, lembro muito bem dos caras do morro me levando para o desenrolo no meio do mato e tudo querendo me matar, dizendo "vida paga com vida".

Esse dia era aterrorizante pra lembrar, sabia que foi o melhor a ser feito, mas sinto sempre uma angústia por não ter ela mais ao meu lado.

Por ter me envolvido nessa merda.

Por sentir tanto ódio e usar isso para fazer coisas absurdas.

Eu nunca me perdoei por ter matado ele, como também não perdoei ele por ter matado a minha mãe.

Sei que ele ainda vaga pelo mundo, na espera do meu perdão, mas nem morta isso vai acontecer!

Bobô: Caralho parceira, cê sofreu pra porra né?

Chapadona: A vida toda, ainda não tô botando fé que ela não tá aqui e que anos se passaram, pra mim ela ainda tá internada.

Bobô: É foda um bagulho desses, mas tamo aí pra qualquer coisa pô.

Vida Bandida (M)Onde histórias criam vida. Descubra agora