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— Você está me assustando, Eduardo. Estamos há vinte minutos aqui nessa praça e você não abriu a boca um minuto.

— Tenho medo da sua reação, não quero que briguemos, estamos tão bem. — Confessou.

— Mas se me esconde algo, as coisas não estão totalmente nos eixos. Então, desembucha, — Disse, encarando séria.

Ele ainda não olhou nos olhos dela, apenas batucava no banco da praça com um galho seco, olhando as famílias rindo com seus filhos. Alguns garotos jogando bola no campinho murado com alambrados verdes descascados, alguns cachorros de rua se misturando com as pessoas pedindo comida e senhoras se exercitando. O dia está lindo e revigorante, não cinza e sem graça, como pode ficar para Eduardo se Evelin brigar com ele.

— Quando jovem, conheci uma linda menina. Céus, ela era muito nova, mas me encantou de uma forma que nenhuma fez naquela época. Logo que nos separamos, prometi que a encontraria, porém, burro, esqueci de perguntar seu sobrenome, então foi muito difícil encontrá-la. Levei dez anos procurando-a, contudo, quando estava desistindo, ela apareceu. Eu não estava acreditando que era ela ali na minha frente.

— O que sentiu quando a viu? — Ela indagou, desviando seu olhar para um ponto qualquer.

— Sortudo. O homem mais feliz do mundo. — segurou na mão esquerda dela — Olha para mim, minha pequena índia.

— Por que não disse que sabia? Porque me escondeu esse tempo todo. — Inquiriu, fitando-o.

— Por medo. Percebi ser você quando fizemos amor pela primeira vez, antes disso eu já sabia que sentia algo, então vi que, se me declarasse, pensaria ter a ver por descobrir quem você é.

— E não é esse o caso? — Rebateu com uma pitada de amargura.

— Não, jamais faria isso. Eu te amo como nunca amei nenhuma outra. Você é a mulher que meu coração escolheu há muito tempo, achei que nunca a veria novamente, mas Deus pôs você na minha vida.

— Assim que te vi pela primeira vez, o reconheci. Meu coração se alegrou de uma forma. Apenas uma vez aconteceu isso, quando o conheci, mas você me tratou tão mal que ele se quebrou no mesmo momento em que se alegrava. — Confessou ainda magoada. Ela o perdoou, porém, isso não significa que esqueceu. Jamais esquecerá.

— Sinto muito por isso, linda. Nunca irei me perdoar por tratá-la tão mal. Estava tão cego de raiva que nem parei por um segundo para notar você, por isso não a reconheci, mas quando baixei a minha guarda, eu a vi, e meu Deus, foi tudo que sempre quis.

— Não sei se acredito, Eduardo. — Disse sinceramente.

— Não estou pedindo que acredite, diariamente lhe mostrarei o quanto a amo, pois o amor não é apenas palavras, mas ação também. — beijou as mãos dela — Você é tudo que sempre quis e você verá isso.

— Tudo bem, posso aceitar isso. — disse se levantando — Agora vamos, quero fazer amor com o meu marido a tarde toda.

Saíram da praça abraçados, sorrindo. Eduardo virou para todos os lados antes de atravessarem a rua. Foram apenas segundos quando viu a moto indo para cima de Evelin. Ele agiu rapidamente, puxando-a para trás.

— Nossa, o que aconteceu? — Ela nem conseguiu assimilar ainda.

— Aquela moto quase… — Não conseguiu terminar, pois o corpo dele não parava de tremer. Chegaram ao carro e ainda não haviam se acalmado. Ela o encarou de perto, preocupada.

— Calma, Edu, está tudo bem. — O acalentou. Achou um pouco estranho, porque quem deveria estar nervosa era ela, que quase virou tapete, não ele.

— Olhei por todos os lados e não notei nenhum veículo, não sei de onde essa moto apareceu.

— Isso acontece, não se culpe por algo que é estatisticamente possível.

Você não entendeu, se acontecer algo com você, eu morreria. Não posso viver sem você, pequena. — Confessou massageando o peito angustiado. Evelin não gostou do jeito que ele falou.

— Não fale assim. A vida é muito preciosa para você banalizar dessa forma. — segurou nas mãos dele — Eu o amo muito, mas posso viver sem você, a diferença é que eu não quero. Então, me prometa que, se algo acontecer comigo, viverá a sua vida. Prometa!

— Não posso prometer algo que talvez não cumpra. — Avisou não gostar do rumo dessa conversa.

— Apenas me prometa que vai se esforçar. — Pediu insistindo. Ela não poderia imaginar que ele estaria sofrendo.

— Tudo bem, prometo que irei me esforçar. — Falou irritado. Deu partida sem falar mais nada. Não parava de pensar que, nesse momento, ela poderia estar estirada no chão, ferida ou pior, morta.

***

O medo do desconhecido. Aquele frio na barriga, o nervoso de fazer algo errado. É assim que Evelin se sente no seu primeiro dia de trabalho. A angústia não é fazer algo errado nos seus afazeres, pois isso ela faz com facilidade, o problema é lidar com pessoas. Ela não é tão social quanto aparenta, e teme ser julgada quando descobrirem ser esposa de Eduardo. Assim como prometeu a seu marido, ela fez a seleção que durou uma semana. Primeiro passou por três entrevistadores sisudos, porém as perguntas foram mamão com açúcar para ela. Perguntas como: Que tipo de atividades um auxiliar administrativo deve desempenhar?

E a resposta dela foi rápida e objetiva.

— Acredito que auxiliares administrativos são membros-chave em empresas e indústrias. Além de acompanhar tarefas cotidianas, tais como arquivar documentos, organizar pastas e manter agendas atualizadas, essas pessoas também colaboram com outras, prestando todo tipo de apoio, fornecendo dados importantes e garantindo que os processos aconteçam conforme planejado.

Um dos entrevistadores até tentou disfarçar, mas gostou da resposta que a mesma deu. Logo depois, passou pela chefe do setor, Alessandra Mattos, a qual é um amor, e por último pelo RH. Nessa etapa já estava contratada, então falou seu nome certo para a responsável do setor. Ela não acreditou logo de cara, pelo menos, não até o chefão entrar pela porta e confirmar. Evelin não gostou dele interferir, por isso tiveram sua primeira briga após se reconciliarem. Ela ama a forma protetora que a trata, contudo, precisa que enxergue o quanto resiliente pode ser, que consegue lutar suas próprias guerras.

— Bom dia, gente, essa é sua nova colega Evelin. — sorriu — Deem as boas-vindas.

Evelin agradeceu à sua chefe por não dizer quem ela é. Conheceu seus colegas um por um. Ao todo, são sete pessoas na sala, incluindo a mesma. Júlio Santos, Maria Menezes, Carlos Melo, Huilse Sena e Vanessa Belmonte. Claro e a chefe do setor Alessandra. Carlos é o mais velho da turma, com 40 anos. A mais jovem era Vanessa, com 28 anos, mas agora que Evelin entrou, ela perdeu esse posto.

O trabalho foi feito tranquilamente, sem nenhum percalço. No almoço, Eduardo quis almoçar com ela, porém negou para comer com seus novos colegas. Parece que sempre que tem um novato na turma, eles fazem um almoço para receber a pessoa. Seu marido não ficou contente, mas entendeu.

— Pessoal, podem ir, amanhã temos mais. — Alessandra falou, dispensando todos. Evelin pegou suas coisas e se dirigiu à garagem, mas antes informou a seu esposo que estava saindo. Ele já havia lhe mandado há alguns minutos que a esperava no carro. Ela estava nervosa e com muita vontade de abraçar e beijar Eduardo. E foi isso que fez quando entrou. O abraçou apertado, como se não o visse há semanas.

— Isso tudo é saudade? — Sorriu, a abraçando.

— Pelo abraço que está me dando, posso dizer que não sou apenas eu que me sinto assim. — alisou sua face — Que tal chegar em casa, tomarmos um banho juntos, depois comer uma bela comida requintada? — Acho uma bela ideia, claro que tenho outras coisas a acrescentar quando chegarmos.

— Justo. — Ela respondeu animada. Ambos estão se acostumando com a nova rotina, e isso é bom. Concordam?








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⏰ Última atualização: Feb 15 ⏰

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