QUANDO ABRI OS MEUS OLHOS e observei o meu entorno, a primeira pergunta que me fiz é se eu tinha morrido na subida até o topo da montanha. Eu estava deitada em uma cama de palha bastante confortável que estalou quando me mexi. Vi a minha mochila jogada ao lado das minhas botas de escalada, e ainda era possível ouvir o uivo dos ventos do lado de fora da cabana onde eu me encontrava.
O lugar possuía um telhado rupestre que protegia seus ocupantes das tempestades de neve e das rajadas furiosas de vento que varriam a montanha. Sua estrutura era modesta, composta por apenas um cômodo principal e, com uma olhada, eu consegui identificar tudo que havia em seu interior.
As paredes internas eram decoradas com tecidos coloridos retratando símbolos místicos e motivos budistas. Luzes suaves provenientes de velas e pequenas lâmpadas de óleo iluminavam o ambiente, criando uma atmosfera acolhedora e tranquila.
No centro da cabana, um fogão de ferro fundido emitia um calor reconfortante e, ao lado dele, havia uma pequena mesa de madeira, cercada por manuscritos antigos e artefatos místicos que eu não sabia descrever.
Uma janela simples permitia avistar o lado de fora da cabana. Quando fiz menção de olhar em direção à mulher parada de costas para mim, a apreciar a tempestade branca através do vidro, a sua voz soou exatamente idêntica àquela que eu tinha ouvido na subida até ali.
— Devia ter esperado a tempestade se dissipar antes de escalar a montanha. Você teria apreciado melhor a vista até aqui.
Eu me sentei conforme procurava massagear pernas e braços. Ainda estava dormente. Até mexer o maxilar para falar era difícil.
Se eu estivesse morta, não estaria sentindo tanto desconforto... estaria?
Eu não sabia a resposta para a minha pergunta... Mesmo depois de experimentar a morte três vezes!
— Você... entende o que eu digo?
A mulher de cabelos grisalhos compridos era mirrada. Media menos de um metro e cinquenta e, como eu esperava, possuía feições asiáticas. Fez um aceno simples de cabeça em resposta à minha pergunta, mas disse algo enigmático que me pôs a pensar.
— Nossas mentes se comunicaram enquanto você escalava a montanha. Estamos ligadas psiquicamente, por isso, eu posso falar mandarim que você vai me compreender perfeitamente em seu idioma nativo. Assim como o contrário também.
— Então... Você é chinesa... Como veio parar aqui no Tibete?
A pergunta parecia estúpida, mas ela me respondeu com bom humor.
— Estou fazendo intercâmbio desde 1730.
Todo o ambiente da cabana era bastante acolhedor, apesar do clima glacial do lado de fora. Desde que tinha sido envenenada por Adela Quinn e ingerido um supressor líquido das minhas habilidades vampíricas, eu evitava beber qualquer coisa que me oferecessem. Porém, decidi abrir uma exceção no caso da chinesa adorável que me recebera em sua casa. Ela me serviu uma xícara de chá e, mesmo sem saber qual era o sabor, eu tomei, a fim de espantar de vez o frio.
Caihong Chen era uma mulher com mais de duzentos anos de idade, mas assim como outros feiticeiros com quem eu havia topado ao longo da minha extensa vida, ela não aparentava ter mais do que cinquenta. Esperou que eu tomasse meia xícara da bebida adocicada para iniciar um diálogo mais esclarecedor.
— Depois que você desmaiou, tomei a liberdade de avaliar se estava ferida antes de trazê-la até a cabana. Não pude deixar de notar as coordenadas marcadas em brasa em seu antebraço — e ela apontou para o meu punho direito, agora coberto pela manga do agasalho. Suspendi levemente o tecido reforçado apenas para constatar que a marca antes incandescente havia sumido totalmente de sobre a minha pele. — Tem o toque místico de Thomas Blackwood. Foi ele quem te enviou até mim?
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Alina e a Chave do Infinito
VampireNascida e crescida na região da Valáquia, Alina Grigorescu é uma valente vampira secular que enfrentou inúmeros desafios para sobreviver ao longo do tempo. Entre bruxos das trevas, seitas satânicas e seres licantropos de imenso poder, a filha de Rux...