Alina e a Chave do Infinito

Capítulo 12 - Por entre as eras

AS MEMÓRIAS DE COSTEL

"Quando se compartilha o corpo com um outro espírito, o acesso de memórias antigas é uma via de mão dupla, logo, eu também adquiria inúmeros conhecimentos a respeito de Thænael, o nefilim demoníaco que era caçado por seu pai, Akanael, por eras desde a época do que a Bíblia Cristã chamava de o Antigo Testamento.

Décadas após o seu aprisionamento no Sheol, uma dimensão esquecida do universo para onde iam as almas carentes de penitência, Ešum — o seu nome de batismo, dado por sua mãe, Inanna — aliou-se a dois outros nefilins, Sin e Anthea, na esperança de que encontrassem um modo de escapar daquele lugar, e pudessem se vingar dos seres angelicais que os havia matado e condenado as suas almas àquela prisão.

Não se podia ter uma noção exata de tempo no Sheol, mas Ešum acreditava que mais de quinhentos anos terrestres tinham se passado entre a sua chegada ali e o dia em que a sua ira contra os Céus chegou ao conhecimento de um dos comandantes do Inferno, o próprio Demophilus, ou Senhor do Oitavo Círculo, como era mais comumente chamado naquela dimensão.

Numa certa noite (ou dia), ocorreu uma rebelião num dos corredores inferiores do Sheol e descobriu-se que um grupo grande de prisioneiros agia no intuito de forçar a sua saída do lugar, agredindo e dominando os carcereiros. Em meio à confusão criada pelos demais detentos, Ešum, Sin e Anthea foram abordados por alguém que dizia conhecer um meio rápido e preciso de enganar os anjos que tomavam conta do portão principal, e que ele próprio os conduziria de volta à Terra.

O tal sujeito mostrou-se, logo depois, um demônio travestido de humano e, quando perceberam, os três amigos haviam atravessado um véu tênue que os levou direto ao Inferno, direto aos domínios do Senhor do Oitavo Círculo.

Demophilus era uma criatura apavorante de pele alaranjada cujo tecido semitransparente parecia ocultar canais de lava incandescente por baixo dele. Não possuía chifres, mas ostentava protuberâncias irregulares no alto da cabeça, bem como asas disformes nas costas e um membro reprodutor rígido e comprido a pender por entre as pernas. Um monstro aterrador, na melhor concepção da palavra.

Em troca de obediência total e servidão eterna, o comandante de um dos círculos mais baixos do reino infernal ofereceu uma chance para que os três nefilins escapassem do Sheol, além de poderes acima de sua compreensão para que conseguissem resistir às agruras que sofreriam a caminho do mundo terrestre.

Ávidos por uma chance de se vingar, enfim, de Akanael, Samyaza e Uriael, os seus pais, o trio nem chegou a titubear ante à oferta da criatura incandescente. Em consenso, aceitaram imediatamente receber dons demoníacos para o cumprimento de sua missão, e passaram a fazer parte das legiões infinitas comandadas por Demophilus.

Como sinal de sua boa-fé, ele os rebatizou pessoalmente como Thænael (aquele que inspira), Jæziel (servo fiel) e Sephiræd (deusa da ruína), depois, os ajudou a encontrar novos corpos terrestres que pudessem possuir e, assim, retornar ao seu planeta de origem.

Entre os oito senhores do Inferno — no qual dizia-se que Lúcifer era o principal deles — Demophilus era um dos únicos que usava da ira dos nefilins em proveito próprio, e que empregava da graça residual deles — uma espécie de marca genética concedida pelos anjos na concepção com humanas — para amplificar o seu poder e lhes dar habilidades sobre-humanas.

A criatura diabólica previa que um combate final entre as hostes celestes e as fossas infernais era inevitável, por isso, pretendia organizar os seus exércitos e prepará-los para que essa luta fosse justa.

Quem além de um legítimo filho de anjo seria tão mais qualificado para agir como um soldado em uma guerra?

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