Capítulo 37 - Perdão

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A BRISA QUE SOPRAVA contra mim trazia o odor tenebroso da morte. Os campos antes verdes do vilarejo pooka estavam agora manchados de sangue, cobertos de corpos inocentes... e a culpa era inteiramente minha.

O líder dos seres encantados meio-homens e meio-animais jazia ajoelhado diante de seu melhor amigo e conselheiro. Ambos se conheciam desde a infância, quando a Terra ainda era tomada de magia, e por onde caminhavam livremente os povos feéricos, os gnomos e os leprechauns.

— Por que entregou os braceletes, Alina? Era seu dever protegê-los, impedir que caíssem em mãos inimigas... por que permitiu que os levassem?

Aodh estava com a mão sobre o peito aberto de Meliodas. O gigante havia revertido à sua forma humana e seus olhos jaziam arregalados em sua última expressão de dor. Estava morto e nem mesmo os conhecimentos druidas de seu povo podiam reverter o seu estado.

— Se eu não entregasse o que eles queriam, todos vocês estariam mortos agora. Eu impedi que houvesse mais carnificina, mais sangue derramado.

O homem pequeno em sua cabeleira vermelha lançou um olhar ao seu redor apenas para constatar que muitas vidas já tinham sido tomadas, e que era tarde para impedir derramamento de sangue.

— Nós estávamos em maior número — falou Berta, a esposa de Meliodas. Ela era uma mulher grande de pele acinzentada que possuía um nariz redondo e carnudo no meio do rosto. Enquanto falava, as lágrimas rolavam de seus olhos escuros. A sua expressão era a de quem estava sofrendo muito. — Você só precisava distraí-los por mais tempo. O nosso exército daria conta dos bastardos.

Houve concordância por parte dos demais membros da casta rinoceronte a acompanhá-la. Eram quase trinta deles.

Eu permiti que Caihong Chen se apoiasse em meu ombro para se levantar, mas ela mal conseguia sustentar o corpo esguio. Tinha sido agredida por Serj Bogdanov e viu como última medida enfeitiçar os braceletes para que as joias não pudessem ser removidas de seu pulso com ela viva. Próximo dali, Olympia Grealish continuava trêmula. A sua pele empalidecera e era uma questão de tempo para que a garota entrasse em choque pela perda de sangue do braço amputado.

— Vocês não entendem. As forças de Thænael não se deteriam enquanto um de nós continuasse respirando. Eu fiz o necessário para salvar quantas vidas eu pudesse...

— Diga isso a Meliodas... ou às dezenas de pookas que morreram nesse campo tentando defender as peças da chave forjada por sua bisavó.

Havia rancor no tom de voz do líder dos pookas. Eu estremeci ao sentir cada um dos olhares atravessados em minha direção. Berta franziu o cenho antes de se voltar para mim.

— Nós confiamos em você. Acreditamos que estaríamos seguros aqui e que você não permitiria que nenhum mal nos alcançasse. Nós estávamos errados.

Chen tentou argumentar com a mulher rinoceronte, mas tossiu sangue quando sua voz ameaçou soar da garganta.

— Eu não sabia que eles podiam rastrear Brittany e Scott até o vilarejo. Eu não tive culpa...

— Você não é mais bem-vinda em nossa casa, Alina Grigorescu. Recolha os seus feridos, pegue as suas coisas e saia imediatamente do vilarejo. Você trouxe a morte para o Entremundos, precisa ficar longe desse lugar.

Não havia qualquer sinal de compaixão no rosto carrancudo de Aodh. Eu encarei o estado lastimável de Chen e o de Olympia. Ainda tentei argumentar:

— Eu... Eu não posso partir agora. Chen e Olympia estão feridas... Bethany e Brittany ainda carecem de cuidados...

— Genevra e eu cuidaremos do nosso povo. Não há mais espaço para estrangeiros em nossas terras. Vá embora e não volte mais.

Aquelas foram as palavras finais de Aodh que me deu as costas para ajudar Aran a se erguer. Assim como mais da metade da casta urso, o irmão de Berta estava bastante ferido e precisava de atendimento médico. Os rinocerontes começaram a ajudar na remoção dos mortos e foi então que eu me dei conta que tinha mesmo sido expulsa da terra dos pookas.

Alina e a Chave do InfinitoOnde histórias criam vida. Descubra agora