Capítulo 20 - Emboscada nas Pirâmides de Visoko

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O AR TORNOU-SE MAIS denso à medida que a vegetação ao redor de Visoko agitou-se por uma lufada que trouxe o cheiro de morte. O céu sobre nós jazia nublado. As nuvens cobriam o que ainda restava do sol poente. Eu sentia as minhas energias se recarregando à medida que os meus inimigos se aproximavam. Cada vez mais.

André e eu ficamos cercados rapidamente, acuados contra a Pirâmide do Dragão, uma das três elevações em forma geométrica que sondávamos na esperança de encontrar Thænael. Em vez disso, acabamos caindo em uma armadilha armada por seus aliados.

À nossa esquerda, a mulher que eu conhecia como a condessa Cassandra de Montbéliard agora possuía um olhar ferino no rosto citadino. Os cabelos loiros ondulados brilhavam num tom quase prata e os seus movimentos eram duros, mecânicos, como se a criatura dentro dela ainda não estivesse suficientemente acostumada com a forma esguia da mulher.

— Há quanto tempo, Alina Grigorescu! Você não deve se lembrar de mim, mas da última vez que nos encontramos, nós duas estivemos intimamente ligadas. Conectadas como almas gêmeas!

A voz ainda era a da vampira pomposa e elegante que eu havia conhecido há alguns anos na morada francesa de Lucien Archambault, o patriarca dos sanguessugas europeus. Mas a mim, era bem óbvio que não havia mais nada de Cassandra dentro daquele corpo.

— Hora de pagar pelos seus pecados, salope! L'heure de mourir!

O ataque foi inadvertido. Cassandra avançou contra mim de maneira incisiva. Agarrou-me o pescoço comprimindo a minha traqueia, chocando a minha nuca contra a estrutura rochosa às minhas costas. Tentando me estrangular.

— Sephiræd!

O cheiro de enxofre que exalava da mulher era inesquecível. Em nosso último encontro, o seu espírito havia sido liberado das profundezas do Sheol pela Ordem Negra, uma seita satânica que pretendia abrir passagens do submundo infernal para a Terra. Sob as ordens de alguém chamado Kelvin Gallagher, os ocultistas haviam se reunido em torno do Stonehenge, no Condado de Wiltshire e, através de um sabá, tentavam libertar a alma daquela criatura para uni-la a um corpo mortal. No final das contas, a megera tentou tomar o meu, e se deu mal.

A grande ironia nisso tudo era que Sephiræd era, na verdade, uma nefilim. Mas não qualquer nefilim. Ela era uma das maiores aliadas de Thænael nas fossas do Inferno. A sua grande aliada, que agora, de alguma forma, estava conectada ao corpo da condessa Cassandra.

L'heure de mourir, salope!

Sephiræd me atingiu com tanta força que a rocha se partiu em vários pedaços impactada pela minha cabeça. Aturdida, sentindo os punhos da nefilim-demônio me acertando repetidas vezes o rosto, eu ouvia ao longe um tropel causado pelo levante das tropas vampíricas sob o comando dela.

André foi arrastado para o meio da batalha, espancado de todas as direções. Os meus sentidos estavam confusos, mas eu calculava que devia haver pelo menos uns trinta sanguessugas ali. Talvez mais.

"Use a sua magia, Alina. É a sua única chance!"

A voz psíquica do brasileiro ecoou em minha mente um segundo antes de Sephiræd desferir um chute que me jogou de cara para o chão. Como vampira, a condessa Cassandra já era extremamente forte, mas, aparentemente, as suas habilidades tinham sido ampliadas por conta da sua possessão demoníaca. Eu tinha sentido cada um daqueles socos e pontapés. Estava em larga desvantagem.

— Nós não precisamos mais de você, salope. Thænael me deu autorização para destruí-la junto a seu lacaio brasileiro. Ele mandou que levássemos a sua cabeça como troféu.

Era claro que a mulher-demônio não estava se contendo e que ela queria mesmo acabar comigo. No entanto, em seu excesso de confiança, no momento em que foi desferir mais um chute em mim caída, eu me projetei contra ela e agarrei a sua perna. A desequilibrei o suficiente para que batesse as costas contra uma das paredes laterais da Pirâmide do Dragão, então, usei o meu cotovelo para fraturar a sua rótula. O som dos ossos se partindo foi aterrador. Não tanto quanto o grito de dor da vadia.

Alina e a Chave do InfinitoOnde histórias criam vida. Descubra agora