O FUNERAL DE BRITTANY reuniu todas as famílias licantropas de Glenarm naquele início de noite. Ela estava vestida com uma túnica em pele de cervo e os longos cabelos crespos jaziam trançados, como costumeiramente ela os usava fora das missões dos Grealish. Gretta tinha feito questão de arrumar a filha antes da cerimônia de cremação. Ao lado do esposo, observava com serenidade a pilha de madeira onde se elevava a plataforma fúnebre. Seus pensamentos eram tranquilos por saber que, apesar do modo ríspido com que a garota havia partido, a sua morte tinha sido vingada pelos seus familiares.
Mason fez questão de dizer o quanto tinha orgulho da filha em seu discurso e emocionou a todos relembrando momentos de sua infância e do treinamento de luta que tivera ao lado dos irmãos Reece e Wolf. Como guerreira, Brittany era diferenciada. Mas, como pessoa, era inigualável.
— Sentiremos a sua falta, querida. Vá em paz e que Deus a acompanhe.
As demais famílias que também haviam perdido filhos, maridos, irmãs e primas na batalha em Zwei Flüsse aproveitaram o rito fúnebre para cremarem os seus mortos após Brittany. Por um longo período até o amanhecer, a floresta irlandesa se iluminou com as labaredas altas que queimavam as pilhas e pelas centelhas que se espalhavam pelo ar, algumas, indo em direção ao céu.
Akanni me acompanhou até a tenda reservada a mim na aldeia e nós ficamos a repassar tudo que havia dado errado na Alemanha, e como perdemos Thænael em seu momento de maior vulnerabilidade. Ainda estávamos cansados da viagem e ele precisava recuperar o joelho ferido em sua batalha contra o filho nefilim, assim, nos deitamos juntos na cama de palha da cabana e descansamos até que o dia voltasse a se tornar noite. Durante o luto dos Grealish, não teríamos outra opção a não ser esperar até que eles estivessem prontos para nos ajudar a caçar o nosso inimigo outra vez.
Alguns dias depois, eu consegui entrar em contato com o atual presidente da Rux-Oil, o meu amigo Saeid Al-Madini e, sem fazer muitas perguntas, ele me autorizou a usar um dos jatinhos da refinaria para que eu levasse os meus aliados de volta à Alemanha, para uma região próxima à cidade de Sttutgart. No caminho, sentada em uma das poltronas do avião, li em um jornal europeu matutino que o incidente no subúrbio alemão tinha sido abafado pela agência de informação controlada pela Célula. Segundo a matéria, um transformador de energia entrou em curto devido a tempestade elétrica que caiu sobre a cidade e isso causou as fortes explosões ouvidas pelos moradores locais naquela noite.
Depois daquelas manchetes jornalísticas e da limpeza local efetuada pelos homens de Stella, aparentemente, ninguém mais ousou questionar qualquer atividade sobrenatural na região, da mesma forma como tinha acontecido no caso de David Parker.
Após a sua derrota em Zwei Flüsse, os membros remanescentes da Ordem Negra foram aprisionados pelos agentes de campo da Célula, os mesmos que nos ajudaram com os explosivos que destruíram as duas torres de energia do gerador dimensional de Thænael. Logo em seguida, os bruxos foram removidos para um depósito de propriedade de Stella Brandt e lá permaneceram sob vigilância, até que nós decidíssemos o que fazer com eles.
— Por mim, eu enforcava os satanistas com os seus próprios intestinos — disse Bethany, em seu rompante de violência, quando Akanni e eu ainda pensávamos na melhor maneira de punir os ajudantes místicos do Concílio de Sangue. A garota britânica estava totalmente recuperada de seus ferimentos e tinha voltado a participar das missões com todo o seu vigor.
Em uma reunião a portas fechadas com o conselho deliberativo do clã Grealish, o anjo caído e eu decidimos que a melhor estratégia era mantê-los vivos e usá-los como trunfo de barganha, caso Thænael aceitasse trocá-los por algo que nos valesse a pena. Sabíamos de antemão que Kelvin Gallagher não era capaz de abrir portais de grande tecitura sozinho e que os sobreviventes da Ordem Negra eram tudo que o nefilim tinha agora, caso quisesse mesmo permitir a passagem de seus aliados das profundezas do Inferno.
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Alina e a Chave do Infinito
VampireNascida e crescida na região da Valáquia, Alina Grigorescu é uma valente vampira secular que enfrentou inúmeros desafios para sobreviver ao longo do tempo. Entre bruxos das trevas, seitas satânicas e seres licantropos de imenso poder, a filha de Rux...