Capítulo 5 - A dominação

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AS MEMÓRIAS DE COSTEL

"Do sequestro em Oradea até a minha chegada ao cativeiro, eu passei mais da metade do tempo inconsciente. O meu corpo mal respondia aos meus comandos mentais, e nem mesmo o meu raciocínio era lúcido o suficiente para que eu chegasse a uma conclusão do que estava acontecendo comigo.

Em um desses momentos de despertar, me vi em um ambiente frio e fedorento. O ar à minha volta parecia queimar em enxofre. O chão era visguento. As paredes em torno de mim eram altas e maciças como as de um palácio. O teto era todo adornado com candelabros de ferro fundido com velas acesas. Muitas velas.

Eu estava crucificado com as mãos e as pernas presas por tiras grossas de metal. O extrato de alho que me mantinha dormente chegava a sair pelos meus poros, tal era a quantidade massiva que haviam me injetado. Os meus pulmões ardiam por efeito da planta mortal aos vampiros. Os meus sentidos jaziam totalmente fora de controle.

Dentro do espaço de pelo menos trinta metros quadrados no que se assemelhava ao hall de um castelo medieval, eu não estava sozinho. Através das lágrimas de sangue que escorriam de meus olhos constantemente, dava para enxergar pelo menos vinte pessoas a me encarar, como numa plateia de ópera à espera do concerto. À frente delas, zanzavam de um lado para outro, a preparar um tipo de ritual de sacrifício, meia dúzia de servos de alguém que lhes dava instruções mais ao canto, fora do meu campo visual.

Aquela voz me era mais do que familiar. A rouquidão característica. O sotaque ucraniano pomposo. A fala pausada. Eu tinha sido raptado por Adon Gorky, o feiticeiro com quem eu havia tido um breve embate na Rússia, em 1863, e que me atirara ao fundo de um rio, onde eu passei semanas submerso, lutando por minha vida.

Preparando uma festinha no castelo, Gorky? indaguei a ele, tentando impor um sarcasmo inapropriado na situação lastimável em que eu me encontrava. Quando me ouviu chamar por ele, o sujeito alto de cabelos acinzentados caminhou em minha direção. Surgiu diante de mim com expressão sisuda.

'É mais resistente do que eu supunha, senhor Grigorescu', comentou o desgraçado. Logo em seguida, ele mandou que aumentassem a dosagem do extrato de alho. Aquela injeção quase me matou.

Enquanto o meu grito de agonia ecoava no espaço fechado do castelo, a minha audição captava os batimentos cardíacos débeis de um outro homem que devia ter uns sessenta anos, e que estava sendo arrastado hall adentro, desfalecido. Era baixo, gordo e fedia a mijo.

O alho queimava em contato com o meu sangue. Era como se os meus braços e pernas quisessem implodir, tal era a dor causada pelo líquido que me havia sido inoculado. Enquanto eu me debatia inutilmente para escapar da cruz, os lacaios de Gorky prenderam o velhote fedorento do outro lado, a uns cinco ou seis metros de onde eu estava. Entre nós, havia uma espécie de halo metálico conectado a uma base de aço, com uns oito metros de raio. Talvez mais ou talvez menos. Eu não sabia para que aquilo servia.

Vamos ter show de malabares? Animais de circo atravessando um aro de um lado para o outro? pensei, procurando manter o meu bom humor, mesmo em situação tão escabrosa.

Foi então que a minha atenção se voltou para um dos empregados trajando toga vermelha que ateou fogo ao aro, e eu senti que a minha situação acabava de se complicar.

'O poder do portal é invencível. Nós somos imortais!'

Aquele mantra começou a ecoar ainda mais alto que o crepitar do fogo que consumia o combustível inflamável na auréola ao meu lado esquerdo. Os vinte espectadores, então, tornaram-se cinquenta. Cem. Duzentos. Era incrível pensar que coubesse tantas pessoas em um espaço tão pequeno.

Alina e a Chave do InfinitoOnde histórias criam vida. Descubra agora