Capítulo 30 - O massacre de Uluru

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AS MEMÓRIAS DE COSTEL

"Em 1454, o contexto político e religioso na Europa era marcado pela transição da Idade Média para o Renascentismo. No Vaticano, o Papa Nicolau V promovia um florescimento artístico sem precedentes, o que o levou a renovar a Basílica de São Pedro sob a direção do arquiteto Bernardo Rossellino, bem como a participação de artistas renomados da época como Leonardo da Vinci, Botticelli e Michelangelo.

No âmbito nacional, a Itália estava dividida em várias cidades-estado independentes, como Florença, Milão, Veneza e Roma. Cada uma tinha a sua própria política e liderança, o que ajudava a gerar intrigas entre famílias nobres que competiam por poder e influência.

Como se dizia no populacho, 'do jeito que o Diabo gosta'.

Naquele período de reconquista de poder, o Vaticano buscava unificar os seus polos principais — a Igreja Católica Ocidental e a Igreja Católica Oriental — com o Concílio de Florença e, enquanto o Papa Nicolau se ocupava com a reforma da basílica, vários arcebispos decidiram conceder poderes a grupos religiosos radicais sem o consentimento do pontífice. Um desses grupos foi criado para combater as ameaças à ortodoxia eclesiástica, e era denominado de a Ordem de São Miguel.

A Ordem de São Miguel era formada por fanáticos católicos que acreditavam numa vindoura guerra entre o Céu e o Inferno. Eles caçavam demônios, bruxas e entidades malignas que se manifestavam de inúmeras formas em todo o mundo, e agiam quase que exclusivamente de maneira extraoficial, sem dar os devidos créditos aos altos escalões da Igreja e do Vaticano.

Em meio a esse cenário de conflitos religiosos, havia Ulisses Pirlo, um cidadão de Florença que havia sido nomeado recentemente a Bibliotecário-Chefe na Biblioteca Apostólica Vaticana, e que, como tal, tinha acesso irrestrito a uma vasta coleção de textos religiosos e históricos da Igreja. Tudo isso sem chamar a atenção para si mesmo.

Como chefe de seu setor, Pirlo era também membro da equipe responsável pela preservação do conhecimento eclesiástico. De tempos em tempos, interagia com autoridades da Igreja lhes extraindo informações valiosas, e tinha contato quase que direto com relíquias e artefatos sagrados que eram cuidadosamente armazenados sob a sua supervisão.

Era uma profissão como qualquer outra para um cidadão ilibado e de bons costumes, e a presença de Ulisses ali não suscitaria nenhum tipo de alarde se ele não fosse, secretamente, um nefilim-demônio infiltrado estrategicamente no Vaticano para colher informações preciosas e repassá-las para o seu superior, o próprio Senhor do Oitavo Círculo, Demophilus.

As suspeitas de que um ser das fossas infernais havia assumido uma posição de destaque dentro do Vaticano para expor as suas vulnerabilidades não soou bem para o comando da Igreja, o que fez com que a Ordem de São Miguel logo fosse acionada em regime de urgência.

Sem que os arcebispos que controlavam a subdivisão religiosa sequer desconfiassem, no entanto, havia um agente entre as suas fileiras mais do que capaz de detectar e caçar o intruso. Assim como o Inferno tinha infiltrado um dos seus na Igreja, o Céu também havia mandado um caçador para a missão. Foi então que o Santo Vigia Samyaza voltou a seguir os rastros de seu filho, Jæziel.

A perseguição ocorreu nas ruas do coração do Vaticano. Jæziel escapou por uma passagem secreta das muitas existentes na Biblioteca Apostólica Vaticana e correu em busca de proteção até as ruas estreitas da cidade que davam direto em seu centro. Ao fundo, a Basílica de São Pedro servia como cenário para a fuga do nefilim que, de repente, se viu cercado por mais de vinte membros da Ordem de São Miguel. O santuário celestial e epicentro da fé cristã erguia-se em uma construção colossal, cercada por uma praça ornamentada que exalava grandiosidade e reverência e, pela primeira vez em sua longa história, serviria de palco para um confronto sangrento entre pai e filho.

Alina e a Chave do InfinitoOnde histórias criam vida. Descubra agora