Capítulo 15 - O retorno de Jæziel

4 1 0
                                    

AS MEMÓRIAS DE COSTEL

"Os diários escritos por Dumitri Ardelean contavam com riqueza de detalhes sobre os dez pontos energéticos que conectavam as Linhas Ley da Terra, bem como o poder que fluía por entre eles para detentores de dons místicos. Após os seus estudos incansáveis a respeito de Alanna Dubhghaill e o seu trabalho de impedir incursões indesejadas de outros mundos ao nosso, o velho moroi identificou duas das feiticeiras que a auxiliavam em sua tarefa e que faziam parte de uma convenção, cuja base de operações era a Bulgária, local de nascimento de Dubhghaill. A primeira dessas mulheres era uma chinesa de nome Caihong Chen. A segunda era uma irlandesa de nome Eleonor Bridge.

Embora ele comentasse em uma de suas passagens que havia ido até o Tibete, onde a mulher morava, não havia registros escritos mais detalhados a respeito do encontro entre Dumitri e a tal Caihong. Entre tantos dos volumes que escrevera, era fato que nem todos eles tinham caído nas mãos de Thænael, logo, era compreensível que não soubéssemos quase nada sobre a mulher chinesa. Em contrapartida, encontramos textos longos e bem detalhados sobre a segunda feiticeira, o que sugeria que ela havia tido, inclusive, algum tipo de envolvimento romântico com Ardelean.

Assim como eu, Dumitri era perito na arte da compulsão, um poder natural dos morois que interferia diretamente na vontade própria das pessoas ditas normais, e que fazia com que elas se abrissem a nossos desejos de maneira, às vezes, irresistível.

Segundo os diários do falecido moroi, Eleonor era uma mulher de pele alabastrina, cabelos castanhos curtos, olhos violetas e postura ereta como a de um guarda real britânico. Era magra e ágil em sua estatura mediana, além de possuir um tom de voz suave sempre que articulava as frases em seu sotaque irlandês. Havia nascido na cidade de Waterford, a cento e setenta quilômetros da capital do país, Dublin, porém, antes de completar os seus seis anos, foi viver com a mãe em Veneza, na Itália.

Filha de uma poderosa bruxa local, Eleonor treinou a vida toda para exercer o seu papel de protetora do véu espiritual e, quando foi convidada por Alanna a fazer parte do seu conciliábulo, soube na hora que estava na presença de uma das bruxas mais talentosas do mundo. O seu elemento preferencial era a água e era dela que a mulher retirava parte da sua força para conjurar os encantamentos que tanto dominava.

Ainda segundo as anotações de Ardelean, Bridge possuía um relacionamento estreito com Dubhghaill, por isso, foi designada para proteger um dos pontos mais frágeis entre os dez da lista. Assim que atingiu a sua maturidade mística, ela se mudou da Bulgária para Socotra, no Iêmen, e lá ficou por mais de cem anos, executando bem o seu papel de guardiã.

Foi nas paisagens inóspitas de uma das ilhas do arquipélago de Socotra, na África, que Dumitri viveu a sua breve história com a irlandesa, e onde ele descobriu mais sobre os braceletes destacáveis que formavam a Chave do Infinito, o artefato bruxo que trancava magicamente os portais com acesso, entre outros lugares, aos reinos do Sheol e aos Oito Círculos do Inferno.

Apesar daquela descoberta e das inúmeras vantagens que a obtenção de um artefato de tão imenso poder lhe daria em sua batalha pessoal contra o Concílio de Sangue, os seus grandes rivais no mundo sobrenatural, Ardelean não teve chance de fazer uso de tal informação, vindo a morrer pelas minhas mãos apenas alguns meses após escrever aquele relato no Iêmen.

Sem Adon Gorky para usar de seu poder bruxo e toda a influência garantida por sua Ordem do Portal de Fogo, Thænael não teve escolha além de apelar para uma lista de outros bruxos que Dumitri Ardelean também havia investigado em sua busca pelo passado de Alanna Dubhghaill. Além de Eleonor Bridge e Caihong Chen, pessoas que jamais agiriam contra aquilo que a sua líder pregava, havia também menções a uma bruxa dissidente do Conciliábulo Dubhghaill, uma espanhola chamada Iolanda Columbus, e um inglês de nome Kelvin Gallagher de quem, até então, eu nunca tinha ouvido falar.

Alina e a Chave do InfinitoOnde histórias criam vida. Descubra agora