Capítulo 52 - A Chave do Infinito

3 2 0
                                    

ERA UMA QUESTÃO DE tempo até que os arranhões provocados pelas garras de Alex me matassem. A perfuração abdominal não parava de sangrar um só minuto. O meu chi de cura já não conseguia mais dar conta de reparar o dano. Um colapso físico era iminente.

As vozes em minha cabeça eram agora ecos dissonantes, distantes. Com tanta dor, era difícil ouvir o que Thomas, Eleonor e Raul tinham a me falar. Lá na frente, eu perdia o rastro de Thænael por entre o labirinto de túmulos, esculturas e sepulcros do cemitério. Ele estava com as cinco metades da Chave do Infinito e eu não sabia o que fazer para detê-lo.

"Você detém o poder do espírito, criança. Use-o. Abasteça-se dele para se reerguer. Canalize a nossa força espiritual", era a voz longínqua de Blackwood em minha mente.

"O seu corpo está debilitado, mas o seu verdadeiro poder advém da sua mente. É ela quem comanda as suas ações", inspirou Bridge, em seu tom austero.

"Levante-se, chica. É chegada a hora de usar a sua verdadeira fuerza!"

O meu cérebro queimava como o fogo controlado por Raul Calderón. As minhas mãos ensanguentadas agarraram a laje de um túmulo que se erguia a quase oitenta centímetros do chão, então, senti a força dos elementos retumbarem ao meu redor. O tremor da terra controlada por Caihong Chen, a alguns metros de mim, procurando conter Alex. A chuva intensa que ameaçava desabar do céu sob o comando de Eleonor. Os ventos inspirados pela sabedoria de Thomas. O fogo que voltou a arder no corpo de Kelvin Gallagher, incitado pelo mexicano de voz aguda e doce.

"Não pense na dor, Alina. Esqueça os seus instintos vampiros. Use a sua verdadeira herança sanguínea. Seja uma bruxa!"

Eu não reconhecia aquela última voz a ressoar em meus ouvidos, mas quando me voltei para a direção de onde vinha, enxerguei uma mulher de estatura mediana, cabelos negros como o ônix e olhar expressivo no rosto alabastrino. Usava um vestido longo de tecido escuro e um corpete a afinar a cintura. Possuía muitas pulseiras douradas e prateadas em ambos os braços. Soava em absolutamente tudo como deveria parecer Alanna Dubhghaill, a maior bruxa que o mundo havia conhecido.

— Como... você pode estar aqui? — eu balbuciei aquilo sem conseguir entender o que enxergava. Ela sorriu em minha direção e apontou a quase oito metros de distância o jazigo de sua família.

"O conciliábulo lhe deu a oportunidade de invocar o meu espírito por meio dos restos mortais a descansarem naquele túmulo, Alina. Eu estou aqui para lhe ajudar a cumprir a sua missão".

Mais de cem anos transcorriam desde a sua morte, mas era como se a minha bisavó estivesse mesmo ali. Eu conseguia sentir a sua presença. Ouvir a sua voz dentro da minha cabeça. Ouvi-la respirar.

Ao longe, os rugidos emitidos da briga entre Chen e Alex ressoavam nos corredores labirínticos. A mulher asiática também estava em seu limite. Não conseguiria resistir por muito mais tempo. Eu precisava me mexer para ajudá-la.

— Ele... ele tem todas as peças da chave. Eu falhei em detê-lo.

Alanna curvou as sobrancelhas em uma expressão de simpatia.

"Ele não pode ativá-la. A chave foi encantada para que apenas um descendente de sangue de quem a forjou pudesse usá-la. Você é a única que pode, minha bisneta".

— Thænael absorveu o meu sangue... ele o tem em seu organismo.

"Não importa. O verdadeiro poder da chave só beneficia aquele que possui o sangue dos Dubhghaill. Alguém que possui a magia em seu âmago. O nefilim não tem nada disso. Ele é indigno de empunhar o artefato que criei".

Alina e a Chave do InfinitoOnde histórias criam vida. Descubra agora