Capítulo 48 - O destino de Sephiræd

4 1 0
                                    

O ENCANTO ASTRALIS DIVISIO havia sido criado pelos celtas algumas centenas de anos antes de Cristo, e não constava em nenhuma cartilha bruxa como a grande maioria dos feitiços modernos. André Nascimento e eu havíamos tentado executá-lo apenas uma vez em Uluru, mas o resultado não tinha sido como o esperado. Na ocasião, me faltava convicção para o que eu precisava fazer, o que me sobrava na atual conjuntura dos fatos.

O cair da noite daquela sexta-feira foi bastante movimentado em Hîncesti. Eu havia desembarcado no aeroporto da Moldávia por volta das duas horas da tarde ao lado de Caihong Chen e de Akanni. Não tínhamos nenhum meio de comunicação com as demais equipes que seguiam para a América do Sul, África e outras partes da Europa, por essa razão, era importante que eu estivesse "presente" em todas elas ao mesmo tempo, servindo de ponte entre os nossos amigos.

A cripta onde eram guardados os restos mortais das famílias mais antigas de Hîncesti era um espaço estreito e claustrofóbico construído no subsolo do cemitério da cidade. Ali embaixo, ao passar das horas, Chen me ajudou a criar um cenário razoavelmente propício para que eu reproduzisse o astralis divisio e não acabasse morrendo de exaustão durante o processo.

A realização de um feitiço — qualquer um deles — exigia a comunhão com os quatro elementos naturais, o que não podia ser reproduzido naquele local abafado e levemente úmido da cripta. Faltava-me o fogo, a água e o ar, mas havia terra em abundância ali embaixo para que eu conseguisse convocar as forças espirituais em meu auxílio, e para que eu me comunicasse com o Gunya Marrang diretamente.

Segurei um punhado de terra entre os dedos, sentei-me em posição de lótus, descansei a Presa-de-Leão ao lado e, quando alcancei os espíritos de Thomas Blackwood, Eleonor Bridge e Raul Calderón no além-morte, me dirigi à chinesa levemente curvada sob o teto baixo da cripta:

— Peça para que Akanni entre em contato com os anjos. É chegada a hora.

Como tínhamos combinado, a asiática subiu de volta as escadas de pedra que conduziam até o terreno superior do cemitério para informar ao anjo caído que eu estava pronta para começar o ritual de divisão astral. Entre todos nós, apenas ele possuía um canal de comunicação direta com os seus antigos colegas Santos Vigias, e apenas ele podia convocar Samyaza e Uriael diretamente do Céu para a batalha.

A Ilha de Páscoa ficava localizada a três mil e setecentos quilômetros a oeste da costa do Chile. Conhecida localmente como Rapa Nui, era uma paragem remota no meio do Oceano Pacífico banhada por águas cristalinas, costas rochosas esculpidas pela ação do mar e falésias imponentes que se erguiam contra o horizonte. Toda a paisagem era pontilhada por gigantescas estátuas de pedra conhecidas como moai, testemunhas silenciosas de uma civilização ancestral. Essas esculturas monumentais tinham os seus rostos voltados para o interior da ilha e pareciam guardar cada um dos segredos antigos que ela possuía.

Quando o meu ego espiritual aportou no local, o sol ainda se exibia no horizonte, pronto a se pôr. Embora eu fosse uma vampira, a minha forma astral não podia ser afetada por ações físicas naquele estado, o que incluía a radiação solar. A vegetação em torno do meu campo visual era exuberante e diversificada, com palmeiras dançando ao ritmo suave da brisa marinha, flores coloridas desabrochando entre as rochas vulcânicas e sombras sendo produzidas pela imensidão dos moai.

Quando movimentei o meu ego translúcido pela ilha, não tive dificuldades em avistar uma pequena comitiva que se deslocava pelos vários quilômetros da ilha a caminho do ponto específico onde, segundo as informações que eles tinham, o fragmento do último bracelete do Infinito jazia escondido. Três jipes com tração nas quatro rodas se deslocavam em velocidade pelo solo irregular, levantando poeira atrás de si. Quando eles estacionaram, eu pude identificar parte de seus ocupantes.

Alina e a Chave do InfinitoOnde histórias criam vida. Descubra agora