UMA SEMANA INTEIRA HAVIA se passado desde a batalha em Montbéliard quando o clima no pico nevado se estabilizou. Naquele período, em vez de congelar o meu rabo em menos vinte graus celsius, a temperatura beirava apenas os menos oito graus, o que já era um grande alívio para a minha carcaça cansada.
Brrrrr!
Para a minha frustração e impaciência, o meu treinamento em magia não começou com manipulação de varinhas mágicas ou o misturar de poções em caldeirões. No lugar de artefatos bruxos clássicos da literatura, a minha mestra decidiu me ensinar "Qigong", um tipo específico de prática oriental ancestral que servia para equilibrar o corpo e a mente.
De repente, eu estava me vendo do lado de fora da cabana no alto de uma das maiores montanhas do mundo, executando movimentos circulares com os braços, de olhos fechados. Inspirando e respirando. Deixando o ar gélido do Himalaia entrar por meus pulmões. Posicionando pés coreograficamente em conjunto com as mãos. Concentrando o meu "chi", e mantendo o foco naquilo que eu mais desejava visualizar.
Alexandra. Eu só conseguia pensar em minha filha. Eu só a conseguia visualizar em minha mente.
Durante os primeiros dias de treino, Caihong Chen me explicou a importância da prática do Qigong no florescer dos meus dons místicos dormentes. De acordo com ela, minha predisposição hereditária para a magia estava presente, mas eu ainda não usava livremente, pois não havia aprendido a deixar fluir o que já existia dentro de mim.
Numa daquelas noites, após o enegrecer total do céu, a velha chinesa revelou que o meu fator de cura vampírico havia evoluído nos últimos anos devido à minha latência à magia, e que o meu sistema imunológico canalizava aspectos místicos ao meu redor de maneira inconsciente, quase como numa reação natural.
Tendo em mente que eu havia sido exsanguinada por Dumitri Ardelean em 1853, carbonizada viva por Iolanda Columbus em 1865, quase feita em pedaços pelas metralhadoras nazistas em 1944 e trespassada por uma lança africana há menos de uma semana, era incrível que, mesmo uma vampira, conseguisse sobreviver a tudo aquilo sem danos mais permanentes.
Durante a noite, já ouvindo o crepitar do fogo da lareira e o ronronar de Xun deitado confortavelmente aos pés de Chen em sua cadeira, a mulher asiática me explicou melhor como aquela teoria de canalização mágica funcionava.
— Os feiticeiros como nós, do Conciliábulo Dubhghaill, somos eternos estudiosos do oculto. Ao longo de nossa vida, buscamos entender como o mundo ao nosso redor funciona e fazemos uso de poções, encantamentos e fórmulas antigas para alcançar os nossos objetivos místicos. Há aqueles que estudam os feitiços e os praticam até que se tornem bons em realizá-los, e há aqueles que já nascem com certa predisposição para a magia. A essas pessoas, damos o nome de "bruxos".
— Quer dizer que a minha bisavó era uma bruxa desde o nascimento?
Ela acenou que sim antes de continuar o seu argumento.
— Aqueles nascidos com o dom da magia, são capazes de realizar feitos incríveis como levitação, telecinese ou mesmo telepatia. O fator de cura também é mais aguçado no organismo de um bruxo, e ele pode ampliar essa proteção imunológica com o uso adequado do ambiente ao seu redor. Tanto um bruxo quanto um feiticeiro canalizam força extra dos elementos naturais. Assim, nos tornamos mais poderosos em contato com o ar, a terra, a água e o fogo. Aumentando as nossas habilidades extra-sensoriais.
Xun moveu-se como que a captar o som de algum animal de pequeno porte que passava do lado de fora da cabana. Ficou por alguns segundos de olhos abertos em direção à porta, até que se distraiu com a lareira e preferiu voltar a dormir, enrolado sobre os pés da dona.
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Alina e a Chave do Infinito
VampireNascida e crescida na região da Valáquia, Alina Grigorescu é uma valente vampira secular que enfrentou inúmeros desafios para sobreviver ao longo do tempo. Entre bruxos das trevas, seitas satânicas e seres licantropos de imenso poder, a filha de Rux...