Capítulo 1

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Pov Emma Myers

Aos 19 anos, fui expulsa de casa pelo meu pai depois de me assumir como lésbica. Meu pai é um tanto complicado, ele é o tipo de pessoa que trabalha muito e acaba passando o dia todo sentado em uma cadeira só para ter mais dinheiro na conta. Eu nunca quis ser assim como ele, mas infelizmente, ele não aceitou minha orientação sexual, mesmo eu sendo uma mulher intersexual. Na verdade, no começo, eu até pensei em fazer uma cirurgia para me sentir mais confortável com meu corpo, mas acabei aprendendo a aceitá-lo e nos damos bem agora. Desde criança, sempre me senti atraída por meninas e achei que era hora de contar isso para o meu pai, mas ele não reagiu bem e me expulsou de casa. Minha mãe, bem, ela sempre ficou do lado dele, sendo submissa a todas as escolhas erradas que ele faz na vida.

Eu tenho quatro irmãs: Clara, Sofya, Alexandra e Isabel. eu sou a mais velha do grupo, com 22 anos. Clara, a segunda mais velha, tem 21 anos. Sofya e Alexandra, são as gêmeas do grupo, têm 20 anos. Por fim, temos Isabel, a caçula da família, que tem 19 anos. Nossos pais se casaram muito cedo, resultando em uma rápida expansão da família. Atualmente, minhas irmãs estão na faculdade, enquanto eu não pude seguir esse caminho devido à falta de tempo. Ainda assim, não posso negar o desejo de também me formar.

Mas agora estou sem tempo para pensar, pois o dia acabou de amanhecer e tenho apenas 20 minutos para me arrumar e ir para o trabalho. Trabalho em uma oficina aqui perto da república onde moro junto com meus amigos Hunter e Georgie. Aqui há muitas pessoas, mas não me importo, pois foi o único lugar que me deu abrigo quando precisei. Devo muito a Hunter e Georgie, pois eles são a força por trás da pessoa forte que sou hoje. Aprendi que a vida não se resume apenas a festas, baladas e curtição, mas sim à sobrevivência. Sou muito grata por meu pai me expulsar de casa e me deixar sem nada, porque a partir daquele dia aprendi a me virar sozinha. Minha vida não é tão ruim, ganho três mil reais por mês, pois a oficina em que trabalho é frequentada por pessoas de classe alta, que confiam seus carros e motos a nós.

— Georgie arcodar porra — Georgie está dormindo profundamente, e eu já o chamei mais de trezentas vezes — Você vai se atrasar idiota — disse para o meu amigo — Seu Heitor ainda vai te dá demissão — ele resmungou e eu coloquei minha mochila nas costas e me preparei para sair do quarto — Eu não quero problemas com o chefe, então estou indo — falei, saindo do quarto. Eu, Georgie e Hunter dividimos o mesmo quarto, o que pode parecer estranho, mas não é. Hunter é mais afeminado que eu, e Georgie não liga para essas coisas, já que está sempre chapado.

— Georgie ainda vai perder o emprego, moleque irresponsável do caralho — falei assim que cheguei perto de Hunter.

— Emma, Georgie está chapado. Ele não vai trabalhar hoje, nem a pau — ele disse, levantando do sofá.

— Problema é dele. Eu sei que estou indo trabalhar. Onde já se viu encher a cara sabendo que vai trabalhar no outro dia? — reclamei. Hunter riu e foi em direção à sua moto, assim como eu.

— Georgie é desse tipo. Não se preocupe, eu sei que ele vai se entender com o senhor Heitor. Além disso, ele dá uns amassos na filha dele. Georgie não é idiota — comentei, colocando meu capacete e ligando minha moto, indo em direção ao meu trabalho.

Chegando lá, fui colocar o uniforme. Por sorte, não era feio. Seu Heitor é rabugento com essas coisas, já que sua oficina é de classe alta, e todos têm que estar dentro do padrão. Uma coisa meio louca, já que no final do dia, o uniforme está todo sujo.  Mais seu Heitor também é um cara cuidadoso, ele sempre dá uniformes novos, então eu não preciso me preocupar com a sujeira. Hoje, a oficina estava tranquila, o que era estranho, mas eu estava agradecendo. E Georgie não deu as caras aqui, e seu Heitor estava puto com ele.

— Emma, venha aqui! — ouvi Hunter me chamando, e saí de debaixo de uma Range Rover Evoque que estava me dando trabalho.

— O que foi, mano? — perguntei antes de chegar perto dele.

— Dar uma olhada no carro da dona Clotilde, está com problema de novo —  disse ele, rindo ao ver a senhora ao lado de seu carro. Apesar de ser rica, ela não largava seu Jeep 2015 por nada.

— Qual é o problema dessa vez? — perguntei para ela.

— Um dos pneus está furado, e tem algo errado no motor. Fica fazendo um barulho estranho quando eu ligo — explicou ela. Comecei a analisar a situação dos pneus e vi que estavam todos desgastados.

— É a suspensão. Os pneus já precisam ser trocados. O motor eu dou uma olhada nele agora — disse, abrindo o capô do carro. Peguei minhas luvas do bolso e coloquei. O motor estava quente, o que dificultava as coisas — Parece que o óleo precisa ser trocado — falei ao ver que o líquido estava grosso — Vai demorar para consertar aqui — avisei. A senhora assentiu e saiu para fazer uma ligação — Tu é doido, esse carro está pedindo um descaso — comentei, olhando para a aparência dele. Hunter deu uma gargalhada.

Trocar os pneus não foi tão difícil, mas tirar todo aquele óleo do motor levou mais tempo. Se demorasse mais um pouco, o motor já era. Finalmente, meu expediente acabou. Tomei um banho antes de ir para casa. Uma outra coisa boa de trabalhar com seu Heitor é que tudo aqui é tão luxuoso, desde os uniformes até o tratamento que os funcionários recebem. Podemos tomar um banho na hora do almoço e na hora de ir embora. Se quiser, uma única coisa ruim é o trabalho pesado, mas fazer o que né?

— Bora desgraça! — gritei da portaria de um condomínio chique. Já perdi as contas de quantas vezes já gritei assim. É o meu outro trabalho pessoal, saca — Não tenho o caralho do tempo todo do mundo, não caramba! — falei, já cheia de ódio por causa da demora — Olha que sabe, eu não sou puta, não. Eu vou vazar — falei, colocando a sacola de volta na mochila.

— Calma aí, estressadinha — me virei para ver quem era, e era uma mulher com aparência asiática.

— Calma é o caralho, tô cheia de entregas pra fazer e tô atrasada por causa da demora de vocês. Eu não sou mordomo de vocês, não pow — falei, indo entregar as sacolas para a mulher que estava com uma expressão insignificante.

— Tomar aqui uma gorjeta — me virei rindo para ela.

— Vai se ferrar, namoral — a mulher pareceu não ter gostado do que ouviu, e eu não tava nem aí.

— O aplicativo vai ficar sabendo desse atendimento merda, viu?

— Vai é? — falei, chegando mais perto dela — Pode deixar, eles cientes mesmo. Você acha que eu ligo? Vocês que ficam me fazendo de palhaço e vem com essa onda de "O aplicativo vai saber desse atendimento merda, viu " a vai à merda — falei e coloquei meu capacete, fui em direção à minha moto, subindo nela e depois ligando. Saí cantando pneu.

Esses povos acham que eu não tenho o que fazer, só pode. Eu odeio trabalhar com entregas porque tenho que passar por esse tipo de coisa. Só não larguei ainda porque preciso da grana. De todos os meus trabalhos, o que eu mais odeio é esse. Ainda bem que amanhã é sábado e eu não vou trabalhar com entrega, só pela manhã na oficina. À noite vou pro boxe. Dá uma grana boa, mas eu luto mais pelo prazer do que pelo dinheiro. Imagina só, você fica a semana toda estressada com o trabalho e luta nos finais de semana. É tão maravilhoso e prazeroso.

(...)

Olá pessoal, sejam bem-vindos ao meu novo projeto, " Crossed Destines". Espero que vocês gostem. Preparem-se para muitas resenhas sobre esse livro. ❤️

Crossed DestiniesOnde histórias criam vida. Descubra agora