Los Angeles, 1996
Faltando uma semana para seu casamento com Jason Carver, Chrissy Cunningham está receosa se está tomando a decisão certa e decide revisitar o passado.
Um passado com um nome, toque e cheiro que ela conhece bem e não vê há 10 anos:...
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E só tem um jeito de fazer tudo isso parar.
A abstinência suga seus pensamentos, te tira a razão e a consciência.
Eddie Munson caminhou até o próprio camarim, não pode decepcionar ninguém hoje, precisa fazer o maldito show. E principalmente não quer que Chrissy chegue e veja como ele tá mal, não quer que ela veja outra maldita crise de novo.
Tremendo, desesperado, sem ar, ofegante, quase caindo no chão, Eddie entrou no camarim e fechou a porta, completamente sozinho, sem conseguir pensar, precisa de ajuda.
Não esperou ela chegar, precisa fazer isso antes dela chegar, porque não quer sentir aquela vergonha de ser um otário, aquela vergonha de quando ela o viu no meio de uma crise. Ele que precisa cuidar dela, e não ela cuidar dele. Isso é tão injusto com ela. Eddie enfiou na cabeça que precisa ficar bem hoje, tudo bem usar alguma merda hoje, ela não vai saber, e no sábado ele se interna, e tudo vai ficar bem.
É um viciado. Precisa de ajuda. Precisa muito de ajuda.
Ele ajoelhou no chão, completamente sozinho no chão do camarim cheio de tentações que Andrew montou de propósito porque sabia que Eddie não resistiria, porque não precisa de muita coisa pra fazer Eddie Munson ter uma quarta overdose.
Eddie respirou fundo, com vergonha de si mesmo, um perdedor, a porra de um perdedor.
De joelhos, no chão, ele secou a porra das lágrimas de vergonha de si mesmo, por ser a porra de um perdedor que precisa de ajuda, mas não consegue pedir. Porque não sabe como parar, desesperado, agoniado, quer parar, quer tanto parar, mas não consegue. Tá perdido no fundo do poço. Não importa se você está feliz quando é um viciado.
Talvez ele dê algo que todos querem, talvez morra, é o melhor pra todo mundo mesmo.
Talvez não morra. Não dá pra prever quando uma overdose vai chegar. Mas é rápida como um furacão, você demora a ver, mas quando chega, acaba com tudo sem dó nem piedade.
Não pode beber porque se beber Chirssy vai sentir o cheiro e o gosto na boca dele. Então ele fez algo ainda pior do que beber. Algo ainda mais fatal pro coração dele...como um viciado decadente, abriu o saquinho de cocaína, estirou na mesa, separou em três carreiras e cheirou todas de uma vez só...
Eddie jogou a cabeça pra trás, tossiu. Ele levantou do chão, a agitação já bateu com força, coçou o nariz, sentiu a típica queimação depois de cheirar. O coração acelerou no mesmo segundo. Toda a agonia passou, a abstinência também.
Richard Munson era só um viciado em bebida. O fundo do poço de Eddie Munson é ainda pior. E ele se odeia por ter se estragado ao ponto de não ser bom o suficiente para Chrissy. Não quer ser um fardo pra ela. Não pode ser um fardo pra ela. Precisa consertar isso, vai consertar isso. Vai se internar sábado, tá tudo bem, sábado tá próximo, ele não vai morrer até lá...só não pode morrer até lá.
