26: Algemado.

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Ruan

Ela está fazendo, essa maldita passo uma semana me provocando sem nem chegar perto de mim, na sexta-feira estou no meu limite. Esther vem na minha casa todo santo dia, ela arruma um tempo e vem me infernizar. Como ela está fazendo agora, sentada em cima da minha mesa, sem calcinha, com uma mini saia xadrez, uma blusa curta de banda. Largo a faca e paro de cozinhar, me viro completamente assistindo seu showzinho particular.

— Vou foder você nessa mesa, depois no sofá com você em cima de mim, e na cama de quatro e então contra parede, e logo em seguida no banheiro em cima da pia — falo em tom de aviso. — Uma foda por cada dia que você me fez passar por isso! — Aponto para ela.

A garota morde o lábio, ela move os dedos na sua boceta em um vai e vem. A qual eu estava adiando me enterrar, porque ela não me disse, mas eu sabia.

— Por que não toca uma para mim também? — Sugere como uma maldita provocadora.

Como se eu já não tivesse feito isso durante a longa semana que se seguiu, enquanto tomo um banho gelado. Mas eu nunca admitiria, porque isso é o que fazemos. Não admitir é uma regra não dita, apenas pelo prazer de ver quem vai ceder primeiro. E eu odeio perder. Ela está bem na minha frente, mas seus gemidos não são por minha causa. É frustrante de certa forma.

— Pensei que a visão de um cara sem camisa e de avental fosse excitante o suficiente! — Provoco de volta.

Ela me xinga, e até isso me deixa com tesão. Cruzo os braços, engolindo em seco.

( … )

Acordo no meio da noite com o som do meu telefone. Procuro por ela ao meu lado primeiro, esticando o braço. Abro os olhos e não tem nada, a única coisa que me deixa mais puto do que tê-la aqui me infernizando é acordar sem ela do meu lado.

Ergo o tronco, pego o telefone em cima da cômoda já de mau humor.

“O que foi?”

“Sou eu.”

O Marcos fala com o tom sério, coisa que nunca acontece.

“O que aconteceu?”

“Eu fui preso. Pelo mesmo motivo de sempre!”

Levanto bagunçado o cabelo. Calço meu chinelo perto da cama. Só porque sou o mais velho não significa que gosto de resolver os problemas dos outros, mas o Marcos é uma exceção. Ele é o mais novo, e ele sofreu mais do que qualquer um de nós.

“Chego em 15 minutos”

Ele desliga na minha cara. Mas sei que é pelo tempo de ligação. Pego minhas chaves e coloco uma camisa. Ouço o som do chuveiro ligado, não posso esperar ela sair, estou com pressa. Deixo um bilhete em cima da sua bolsa.

Dirijo para a delegacia como se fosse normal ir buscar um amigo lá. O motivo não são as drogas, não, o Marcos não anda carregando isso por aí como se fosse água. Estácio, entro na delegacia sentindo cheiro de colônia barata e rosquinha.

— Boa noite. — O homem atrás da mesa do computador fala com um sorriso de atendente de loja.

— Vim buscar o meu amigo.

Sua expressão muda. O homem concorda fazendo careta, ele pega uma chave com desinteresse.

— Parece que viram ele com uma arma…

Interrompo ele:
— Era uma escova de cabelo, como a gente já tinha conversado da outra vez que você prendeu ele pelo mesmo motivo.

O homem solta um “rum”, desacreditado. Me deixando ainda mais bravo.

— Era uma escova, e isso é uma arma — tiro de trás das minhas costas, onde deixo presa na calça. Aponto para sua cabeça. — Agora levanta a bunda gorda dessa cadeira e vai soltar o meu amigo, seu racista do caralho!

Essa não vai ser a primeira vez, mas se depender de mim vai ser a última. No impulso irresponsável de tentar fazer aquele velho escroto entender, acabei sendo preso também por apontar uma arma para um oficial do governo. O Marcos ri da minha cara.

Tenho direito a uma ligação. Ligo para a Esther mesmo sabendo que vou ouvir um monte. O doce som da sua voz quase grita do outro lado.

“Como assim preço? E que história é essa de apontar uma arma para um policial?”

“É que, desculpa, você pode vir aqui?”

“Pra que? Para te bater, e no policial que te prendeu também, então ser presa!”

Acabo rindo.

“Para de rir, isso é sério. Agora vou ter que pedir um favor pro meu irmão!”

Ela desliga na minha cara. Encaro o aparelho telefônico com fio, seguro com as duas mãos algemadas.

Garotos cruéis! - Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora