03: Tarado!

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Esther

“Por que eu luto?” Não sei, só estou lutando. Correndo atrás de alguma coisa. Fazendo o que sempre faço, não preciso de motivos, preciso de dinheiro.

Ponho o dinheiro na mão da mulher gordinha e ruiva. Ela abre um sorriso. A cor dos seus cabelos me lembram dele. Espanto esse pensamento, é só mais um riquinho desocupado que paga para apanhar de mulher.

Minha irmã dormi tranquila no berço, observo sua respiração. Ela é tão pequena. A cuidadora já foi embora.

— Vou cuidar de você, eu prometo banguela — sussurro.

O som da porta batendo no andar de baixo e algo quebrando faz ela acorda esfregando os olhos e chorando. Pego no colo tentando lhe acalmar.

— Shi, foi só um susto.

Ela agarra minha blusa deitando a cabeça no meu peito. Tranco a porta. Coloco alguns travesseiros fazendo uma barricada, deito com ela do meu lado. Espero a Laurinha dormir para ir ver a nossa mãe.

Chego no andar de baixo e ela está jogada no sofá. Um copo quebrado no canto, perto da estante. Talvez ela tenha esbarrado nele. Me aproximo sentindo o cheiro familiar de álcool, tiro sua sandália. Confiro se a porta está trancada.

Tento lhe acordar para que tome um banho. Amanhã ela tem que trabalhar. Ela abre os olhos, resmungando. Passo um dos seus braços pelo meu pescoço, lhe ajudo a chegar no banheiro. Lhe coloco debaixo do chuveiro com roupa e tudo.

Minha mãe fica mais sóbria com o banho. Pego sua camisola. Ajudo a se vestir.

— Sinto muito, eu acordei a sua irmã?

— Ela é sua filha! — Resmungo.

Ela concorda. Se deita e dorme sem dar trabalho. Normalmente é assim. Ela sempre pede desculpa. Não posso lhe criticar, ela fez tudo por mim, tudo. E apesar de tudo ainda amo a minha mãe.

Volto para o quarto. Cuido do machucado na minha testa. Me deito junto da minha irmã na minha cama. Seu berço fica no meu quarto, todas as suas coisas também. Não confio na minha mãe o suficiente para deixar a minha irmã no quarto dela, principalmente quando ela sai para beber.

[ … ]

Assim que acordo. Faço a maquiagem de sempre. Batom preto, lápis de olho e delineador. Coloco o piercing no canto da minha sobrancelha. Os brincos nas orelhas, tenho 5 buracos na direita e 3 na esquerda. Dois colares e uma gargantilha, e os meus anéis. Pego a mochila e espero a cuidadora chegar enquanto dou mingau para a Laurinha.

Na faculdade, arrumo os livros na estante, organizo e devolvo para o lugar. É um trabalho chato e paga pouco, fica na biblioteca um dia sim, um dia não. Eu e o Fernando. Às vezes tenho aula bem cedo, por isso venho à tarde, mas não venho todos os dias para a biblioteca.

Subo a escada. Olho para baixo, foi assim que o tarado se soco dentro da minha saía. Guardo os livros que foram devolvidos.

— Ei, bruxa! — Alguém me chamo lá de baixo.

Desce a escada me segurando para não dar uma voadora em ninguém, hoje não quero briga. Me viro para a garota.

— Me arruma um livro de história.

Ela é mais alta que eu. Seu nome é Miranda, eu odeio ela e ela me odeia. Mas conhecida como Tokyo, a cidade de ferro. Vou até a sessão dos livros antigos.

— Sobre o que?

— Era Vargas.

Apongo para cima:
— Aquele.

— Pode pegar para mim?

Vaca. Ela pode pegar sozinha. Não sou paga para isso. Engulo a vontade de mandá-la ir a merda, estamos na faculdade. Pulo, tentando alcançar o maldito livro. A escada é pesada.

Sua risada presunçosa me dá nos nervos. Uma mão é mais rápida pegando o livro que eu indiquei. Me viro dando de cara com o ruivo. Ele estende para mim.

— Você me derrubo pulando mais alto que isso!

Puxo da sua mão entregando para a Miranda. Dou as costas para ambos. Volto para a recepção, sento na cadeira e dou baixa nos livros. Tem uma pilha deles que deixei acumular.

Apoia os braços cruzados na mesa, me olhando:
— Tem uma coisa me incomodando.

— Essa coisa me afeta?

— Não exatamente.

— Então, sofra em silêncio! — Não tiro os olhos do caderno, anotando o nome dos livros que foram devolvidos. Ele ri de mim. Virei comediante e não estava sabendo.

— Punk.

— Babaca.

— Chata pra caralho!

— Cretino!

— E o que mais? — Seus olhos encontram os meus com intensidade.

— Tarado!

— Só isso?

— Desgraçado metido a intelectual. — Termino de anotar, junto à maioria indo guardar nos lugares. O garoto não para de me seguir. — Tem certeza que não está apaixonado? Porque eu quero os 5 mil. — Paro, olho para ele.

— Veneza… — Interrompo sua fala.

— Não me chama assim aqui!

— Tudo bem, como eu deveria de chamar? Cidade do caos, coisinha rebelde, maníaca? Já sei, que tal docinho?

Mostro o dedo do meio para o babaca. Não gosto dele. O ruivo parece determinado. Mas não dou a mínima.

— Se você me chamar de docinho não queria nem saber o que vai acontecer. Conheço alguém que sabe como enterrar um corpo. — Falo seria para alguém que está blefando. Subo na escada. — E nem pense em ficar espiando embaixo da minha saía!

— Eu não sou um tarado. Meu nome é Ruan. — Resmunga.

— Sei… O meu é Esther. — Digo baixo.

Não preciso repetir. O sino toca, o intervalo já acabo. Olho para baixo, essa é sua deixa para ir embora. O garoto com uma cicatriz no olho esquerdo me olha de volta, está sério.

— Não foi tão difícil dizer seu nome. Só precisei implicar um pouco. A maioria das pessoas não demora tanto. — Fala como se tivesse me manipulado apenas para saber o meu nome.

— Tchau. Não volte nunca mais. — Ele continua no mesmo lugar. Suspiro, desistindo.

***

PS: Qual vocês acham que vai ser o apelido da Esther?

Garotos cruéis! - Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora