13: Minha cidade.

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Esther

“Eu quero tirar você da minha cabeça!”

Fico pensando nas suas palavras. Tentando entender o que ele quis dizer. Volto a atenção para a minha irmã, tento dar outra colherada para ela da papinha. Nasceu um dente na frente, mesmo que nasça todos vou continuar chamando ela de banguela.

Laurinha não me deixo dormir à noite. Chorando de madrugada. Era mais fácil quando ela estava na barriga da mamãe.

— Esther, eu posso ficar com ela hoje. É minha folga. — Minha mãe aparece na cozinha com umas compras.

Ultimamente ela está tentando ser mais presente. Fazer mais.

— Ok. — Não vou recusar.

— Tete! — Fala balanço os bracinhos.

— Ai, meu Deus, fala de novo! — Pego o celular para gravar. — O Doyoon vai se morder de inveja.

— Dodo!

— Não, fala só Tete, esqueci esse outro. Só o meu nome, banguela. — Incentivo antes de começar a gravar.

Minha mãe passa rindo.

— Tete, tete! — Bate no andador. Suas pernas são curtas, e eu comprei meio grande. Então ela não alcança o chão.

— Isso, vou mandar para ele. — Sorri com ar de maldade.

Não demoro muito para ele mandar um áudio revoltado: “Não acredito que você me traiu Laurinha. Não fala o nome dela, fala só o meu, Doyoon, não, tenta só Doy que é mais curto.”

— TETE! — Chama de novo irritada.

Viro minha atenção para ela. Pego a banguela no colo, ela não gosta de ficar muito tempo parada. Pelo menos comeu um pouco.

Aperto sua bochecha:
— Você é tão fofa.

— Me dá ela aqui. Você tem um trabalho da faculdade para finalizar, não é?

— Sim. Tenho que entregar amanhã cedo. — Está quase seco. Mas quero ficar de olho para cobrir se aparecerem rachaduras.

( … )

Aproveito o silêncio da biblioteca. Minha aula foi cancelada. É como já estou acostumada a ficar aqui. Vim adiantar coisas de outras matérias, sento na mesa mais afastada. Para minha sorte o Ruan acha que estou em aula, vou embora antes de encontrar com ele.

Sinceramente, não me confio perto dele. Suas mãos grandes me apertando, não dá, garotas também ficam excitadas. Não são só os homens que sentem tesão. E isso não tem nada haver com gostar ou não.

Me distrai. Já é bem tarde. Junto as minhas coisas para ir embora. Escuto batidas fortes e me levanto apressada. O ruivo esmurra a porta irritado.

— Ei, o que você tem? — Franzi a testa, surpresa por vê-lo aqui também.

Ele se vira. Revira os olhos assim que percebe que sou eu:
— Estamos trancados. Achei que só tinha eu aqui para falar a verdade.

— Não, não. Isso não tá acontecendo!

Vou na direção da porta. Giro a maçaneta e tento forçar para abrir. Empurro com o ombro. Não adianta. E às vezes quem cuidar da biblioteca ponhe cadeado, porque aqui também tem computadores. Sou só eu e outro garoto, ele já deve ter ido embora.

Encosto a cabeça desanimada:
— Só tem um jeito.

Viro as costas e vou na direção da janela. Três andares não dá para morrer, eu acho. Talvez quebrar um ou dois ossos. Destravo antes de puxar para cima. Me apoio tentando subir.

Suas mãos puxam minha cintura bruscamente para trás.

— Garota você é doida. Prefere pular a janela do que ficar presa comigo? Fala sério.

Me viro tirando suas mãos de mim. Me afasto um pouco também.

— Prefiro. E daí?

— E daí, que se você morrer vão me culpar por assassinato! — Bagunça os cabelos frustrado.

— Estou morrendo de pena do garoto rico. O coitadinho. — Eu também não pretendia morrer de qualquer maneira. — Ah, vá pro inferno!

— Coincidência, pensei a mesma coisa!

Suspiro cruzado os braços.

— Aposto que se eu morrer você daria uma festa. — Ri sem humor.

— E dançaria no túmulo! — Acrescenta.

Levanto rosto, sentindo as bochechas queimarem de irritação. Estou com vergonha e raiva ao mesmo tempo, não sei explicar. Ele uso minhas palavras para me provocar.

— Você é um babaca, sabia? — Ele se inclina vindo pra cima do meu rosto. Ando pra trás nervosa. — Ei, espera, o que você está fazendo? Ei, para…

Suas braços estão atrás do corpo:
— Procurando o botão de desligar.

Viro o rosto andando para longe. Eu não sou assim, não desisto sem lutar. A pior cidade do clube de apostas. Bato as costas na parede.

— Eu sou a cidade do caos, você não pode… — Ele pôs o dedo indicador em cima da minha boca.

— Shi… Você fala demais. Eu juro que se você der mais um piu eu vou realmente te beijar até que sufoque sem ar!

Afasto sua mão de perto de mim. Ruan levanta uma sobrancelha esperando que eu retruque. Quero mostrar que não me importo com suas palavras, mas também não quero que pareça que estou desesperada por um beijo seu.

Me dá uma vontade louca de rebater. Seguro meu espírito feminista até onde dá. Me esquivo dele, deslizando pela parede. Corro pra longe dando a volta na mesa da recepção.

Já deve ser quase 7 da noite.

— Tenta a sorte. Eu acerto suas bolas! — Não demora muito para ficarmos presos em um jogo de gato e rato.

Ele de uma ponta da mesa e eu da outra. Ruan não cederia por nada. E nem eu. Corri para um lado achando que ele fosse para o outro, mas o infeliz me alcanço. Me prende nos seus braços. Minha respiração se agita.

Tento fugir. Mas por alguma razão estou feliz de ter sido pega. O ruivo me encurrala em cima da mesa, ele se inclina sobre mim, apertando meu pescoço e os fios de cabelo da nuca. Isso só me deixa mais ansiosa.

Viro rosto. Não deveria estar gostando nem querendo nada disso. Seus lábios passeiam entre meu pescoço e minha mandíbula.

— Abra os lábios para mim. — Sussurra.

Entreabro a boca involuntariamente. Ele puxa meu lábio inferior com os dentes. Depois puxa meus cabelos para baixo enquanto espaga os meus lábios. Tento respirar pelo nariz, aperto sua camisa. Sua língua brinca com a minha, meu piercing apenas lhe dá mais incentivo.

Tento empurrá-lo para longe quando fico sem ar. É difícil acompanhá-lo. Mordo seu lábio e ele volta a raciocinar, se afasta. Estou ofegante e ele também, tem um sorriso no seu rosto. Ruan segura minha cintura se metendo mais entre as minhas pernas.

— Você está tentando me matar?

Declara. Ignorado minhas palavras:
— Minha, a minha cidade.

— O que? — Recupero o fôlego. Sem acreditar que deixei ele me beijar mesmo.

— Veneza, você é a minha cidade, só minha. Entendeu?

Meu coração dá um salto. Puxo ele pelo pescoço, fazendo a última coisa que deveria fazer. Beijo o idiota com vontade. Seus lábios são viciantes, é difícil me manter longe.

Falo entre o beijo:
— Não sou de ninguém, querido.

Garotos cruéis! - Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora