29: Me alimente!

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Esther

Seu cuidado exagerado comigo me deixa um pouco surpresa. Decidiu sozinho que me carregaria para os lugares, não que eu ache ruim. Ponhe meus pés no chão devagar. O box do seu banheiro tem vidros embasados.

Faço com que vire de costas para mim:
— Desculpe, isso vai arder no banho.

Noto que tem marcas, além das que eu fiz, quase imperceptíveis. Dá para sentir quando toco.

— Isso me consola, pelo menos você não vai sentir dor sozinha. — Se vira, abraçando minha cintura.

— Que romântico! — Reviro os olhos. Um sorriso involuntário toma o canto dos meus lábios. — Já disse que não dói mais, só incomoda um pouco.

Arde, mas é suportável. Estaria mentindo se falasse que não doeu. Ele liga o chuveiro e me puxa para baixo primeiro, em seguida pega o sabonete.

— Eu posso fazer isso — ignora meus protestos.

— Deixa eu cuidar de você… — Esfrega minha barriga, e embaixo dos seios. — Por que tiro o piercing? — Muda de assunto tentando me destruir.

— Achei que você não gostava — admito envergonhada com seus olhos me encarando. Seus cabelos ruivos estão bagunçados, para cima das vezes que puxei. Se ajoelha esfregando as minhas pernas, sinto um pouco de frio. Desligo a água que ainda cai no meu cabelo.

— Não gosto, eu adoro, sou completamente obcecado por tudo que diz respeito a você. — Nada me espanta mais do que ele admitindo qualquer coisa por mim.

( … )

Me aninho no seu colo. Hoje minha mãe iria para a casa da namorada com a Laurinha e eu posso passar o fim de semana e o feriado na casa do meu namorado. As mangas do seu moletom em mim cobrem minhas mãos, puxo o tecido para pegar um pouco da pipoca. Presto atenção no filme de terror enquanto ele está quase dormindo.
Quando o filme acaba, faço menção de levantar. Ele acorda, abraçando minha cintura. Viro o rosto.

— O filme acabo. Mas ainda tem pipoca.

Ele puxo o controle do nosso lado, me entrega, esconde a cabeça no meu pescoço e fica cheirando. Tão estranho. Procuro outro filme na plataforma que ele paga para assistir.

— Como está a sua boceta? — Pergunta baixo.

— É a quarta vez essa noite que você me pergunta isso. — Ocupo a boca com pipoca, mastigo ignorando sua insistência. — É quase de madrugada, vá dormir!

— Pergunto, porque você não me responde!

— Ruan, você não me vê perguntando do seu pau! — Faço uma careta com a ideia.

Ele desiste:
— Tudo bem, tem razão.

Assistimos o filme em silêncio, eu assisti. Apaguei em algum momento dormindo ali mesmo. Lembro vagamente do Ruan me carregando.

Abro os olhos com o sol invadindo a janela. Me sinto faminta, tem uma sessão de vazio na minha barriga. Ponho o braço na frente do rosto. Viro e dou de cara com ele. Seu braço pesando em cima da minha cintura. Puxo sua bochecha tentando acordá-lo.

— Querido, vamos comer. Eu estou com fome. — Chamo enquanto balanço seu ombro. — Vem me alimentar.

Chamo um pouco mais. Nada funciona. Abro um sorriso com uma nova ideia:
— Ruan, vamos transar!

Ele abre os olhos de uma vez. Bato no seu peito indignada. Esse pervertido.

— Agora? — Coça os olhos.

— É, agora! Acha que não consegue ficar duro? — Não sei se ele não percebe o sarcasmo ou ainda está dormindo.

— Eu já estou.

Abro a boca. Minha bochechas ficam vermelhas. Ele fala as coisas com tanta facilidade.

— Tem que me alimentar primeiro… — Tento mudar de assunto.

— Você fica vermelha nos momentos mais estranhos. Não ficou com vergonha quando fez greve e veio me deixar com tesão durante a última semana! — Aperta meu nariz.

( … )

Corto o pão enquanto ele frita o queijo e o presunto. Aqui é bem diferente da minha casa, o Ruan sai para comprar pão toda manhã ou ele faz panqueca, essas coisas de gente com tempo e disposição.

— Ainda não acredito que você saibe cozinhar!

— Fiz um curso mais os caras, o Enzo é o único de nós que se arrisca a cozinhar coisas demoradas. — Desliga o fogo.

Me aproximo com o pão, pego a colher da sua mão e recheio o meu primeiro. Em uma mordida levo quase a metade da massa. Mastigo lhe dando as costas sento na ponta da mesa balanço as pernas, é de madeira e aguenta meu peso. Observo ele pegar o outro pão que eu cortei.

Ruan coloca suco pra mim, mas já estou terminando de comer.

— Estava com fome mesmo! — Aceito o copo, bebendo dois goles.

Queria outro, mas não quero parecer morta de fome, mesmo já parecendo. Nunca comi tão rápido.

Ele praticamente lê os meus pensamentos:
— Quer outro?

— Eu amo você! — Solto lhe fazendo rir.

— E não tem nada haver com a comida! — Se move pela cozinha cortando o queijo e pegando o presunto na geladeira.

— Talvez?

Vira a cabeça negando:
— Vou fingir que acredito.

Espero calada. Ele me entregar depois de um tempo no fogão. Se acomoda entre as minhas pernas, sua mão vai para dentro do moletom, acaricia minha barriga esperando que eu coma tão rápido como da primeira vez. Dessa vez percebo que está quente, bebo o suco de morango primeiro. Aos poucos o segundo sanduíche vai embora.

— Como estava a comida?

— Incrível. — Encosto meus lábios nos seus em um selinho rápido. — Não vai comer?

— Eu posso? Acho que sim, já está na mesa mesmo! — Abre um sorriso malicioso.

Garotos cruéis! - Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora