Epílogo:

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Ruan me ajuda a vestir a roupa que o meu pai mandou para o velório. Encaro o nada, sem acreditar. Ele me ajudo a tomar banho, e eu não sabia o que fazer, minha cabeça tinha parado. Minha mãe tem arrumado a casa para ocupar a mente, ela até cuido da minha irmã enquanto eu sou incapaz de vestir uma roupa.

Ela é mais forte do que eu, sempre soube disso. Mas agora, sinto que eu deveria ser forte por nós duas, e é ela quem faz isso. Ele passa o meu batom e se dá o trabalho de tenta passar o lápis de olho.

Viro o rosto para o garoto, a cicatriz cortando a pele no meio do seu olho me chama atenção. Toco sua bochecha e passo o polegar abaixo do seu olho, ele ponhe sua mão por cima da minha.

— Foi a única que eu não consegui apagar. — Conta. — Mas eu apaguei todas as outras, não queria lembrar!

Acaricio o seu cabelo com a outra mão, ele me puxa para um abraço apertado. A ficha ainda não caiu e sua história me distrai da minha mente caótica.

— Quer ouvir uma história? — Pergunta baixinho, faço que “sim” com um movimento de cabeça. —  Era uma vez, 4 garotos, eles tinham tudo, mas aparentemente lhes faltavam coragem. Eles passaram pelo inferno, mas conseguiram o que faltava. Agora, eles têm coragem, mas não tem onde usar. Moral da história: Ter é uma necessidade, mas quando se tem, quase não se usa.

Encontro seu rosto. Suas íris castanho escuro me encaram de volta. Ele abaixa a cabeça. Puxo sua cabeça e encosto seu rosto no meu peito, apoio o queixo no seu cabelo.

— Obrigada por tentar me distrair, e por ficar comigo mesmo agora! — Me aperta em um abraço.

— Sinto muito, eu não queria magoar você naquela hora, foi tão difícil falar do seu irmão… — Acaricio os fios ruivos. — Eu…

— Eu sei, tudo bem, não foi sua culpa! — Envolvo os braços nele.

( … )

Os velórios da família normalmente acontecem na casa do meu pai. Um retrato fica no meio rodeado de crisântemos brancos, uma tradição coreana da parte da família do meu pai.

Minha mãe segura a Laurinha em um abraço e usa a mão livre para segurar a minha. Ruan vem logo atrás, a senhora Helen também veio.

Caroline usa uma roupa parecida com a minha, inconsolável. Segurando o choro em um canto, com o olhar perdido. Sento no chão ao seu lado, evitando encarar o retrato do Doyoon. Minha mãe senta de frente para mim na outra ponta da sala, com a minha irmã em seus braços.

As pessoas deixam uma flor e lamentam a perda para a família. A banguela começa a chorar, minha mãe cobriu o rosto com a mão chorando baixo. Libero a dor na garganta, chorando também.

— Eu quero o meu irmão de volta! — Minha visão fica embaçada. Ruan repousa a mão na minha cabeça e acaricia meus cabelos.

Caroline segura minha mão, aperto de volta. A ruiva comprime os lábios enquanto as lágrimas rolam. Fungo, meus olhos estou vermelhos de tanto chorar. Não há espaço para nada, só uma dor incompreensível, e só o amor pode machucar assim.

O incenso queima. Fico mesmo quando os amigos e alguns familiares vão embora, fico mesmo quando praticamente todo mundo vai embora, fico quando minha mãe vai embora, fico. Ruan simplesmente não sai do meu lado. Caroline olha fotos dos dois juntos.

O ruivo senta ao meu lado:
— Ele disse que me mataria se eu te fizesse sofrer.

Sorri torto. Ele não foi alguém fácil, mas você se apega com facilidade. Levanto de repente, presiso ficar um segundo sozinha.

— Vou respirar um ar, já volto. Fica um pouco com a sua irmã. — Aviso. Ele concorda.

Sai para a varanda, me apoio na parede e respiro fundo. Meu celular toca de repente. Pego no bolso da saia do vestido, aceito a ligação no automático.

Ponho no ouvido. Só ouço uma respiração.

“Alô, quem é?”

A respiração é pesada e faz o telefone chiar. Crio uma esperança boba de ser o Doyoon.

“Quem é? Eu vou desligar.”

Espero mais um pouco. Demora para responder.

“É o Yuri, o seu irmão mais velho!”

Fim?

Garotos cruéis! - Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora