33: Só o amor...

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Esther

Bato na porta, demora um pouco. Ruan está com uma expressão esgotada, ponhe o dedo na frente da minha boca. Pensando melhor, não sei porque aceitei deixar minha irmã aqui, durante o caminho fiquei com vontade de voltar várias vezes, mas dei um voto de confiança.

— Shi…

Sorri, ele tento sorrir de volta. Minha irmã deve ter dado bastante trabalho. Mas ele ficou com ela mesmo assim, foram 3 horas, deve ter passado uma eternidade para ele. Entro, vejo seus amigos que ainda estão aqui. Jogados no sofá. Vou para o quarto. Minha irmã dorme em meio ao montante de lençóis empilhados ao redor do colchão, e o colchão está no chão. Eles devem ter ficado com medo dela cair.

Sussurro:
— Acho que vou esperar ela acordar.

Voltamos para sala, ele me acompanha durante o caminho. O clima entre eles está no mínimo estranho. Cruzo os braços, olho para o meu namorado desconfiada. Ruan senta no sofá e encara o chão. Seus amigos não dizem nada.

— O que foi? Eu sei que demorei um pouco, e já está de noite praticamente…

— Esse não é o problema! — Seu tom sério não combina com sua personalidade despreocupada e brincalhona. — Ruan, fala pra ela.

Franzi a testa, esperava essa atitude de qualquer um deles, menos do Marcos, e olha que eu nem conheço ele direito. De toda forma eles estão começando a me deixar nervosa. O ruivo não olha na minha direção nem uma vez.

— Qual é o problema? — Me aproximo. Agacho na sua frente e inclino o rosto. — Ruan olha pra mim, o que foi?

— Sinto muito!

Seguro suas mãos, estão frias. Quando seus olhos tristes encontraram os meus não entendo o que tenha acontecido para ele ficar assim. Parecia que ele sabia, que suas próximas palavras quebrariam o meu coração, ele nunca faria isso.

Ele faz:
— Seu irmão está no hospital, foi esfaqueado, ele não tem quase nem uma chance de sobreviver!

Nego, balanço a cabeça, desacreditada.

— Você está brincando comigo. Ruan, por favor, diga para mim, diga que não é verdade. — Aperto sua mão. Ele me puxa para um abraço. Tento me afastar. — Não. Como espera que eu diga isso para a minha mãe?

— Ela já sabe, está no hospital com a minha irmã.

— Ela teria me ligado… — Encontro os seus olhos.

Segura meu rosto entre as suas mãos:
— Ela não teve coragem.

Pisco para afastar as lágrimas. Escondo o rosto no seu peito.

— Ele ainda está vivo, só não queria que criasse esperanças, podemos ir para o hospital — aperto o tecido da sua camisa.

Ele pode morrer a qualquer instante, foi isso que ele quis dizer, vamos ficar perto pelo menos. A ideia me enche de medo e um sentimento de antecipação, você sofre antes com a ideia, mas não pode fazer nada, só ver tudo acontecendo é rezar para que seja diferente. É a realidade, e no mundo real tudo é tão cruel.

( … )

O corredor dos pacientes em cirurgia é quase tão frio quanto a sala de espera. Minha irmã dorme no meu braço enquanto o ruivo não sai do meu lado, aperto a mão dele. Caroline chora baixo no assento ao lado, ela estava lá. Minha mãe está tão dispersa quanto eu, os olhos vermelhos de tanto chorar.

Esperamos, e esperamos, por uma boa notícia. É a pior sensação do mundo.

Eu sempre soube que minha mãe não queria se apegar a nenhum de nós, quando meu irmão mais velho morreu, logo depois que nasceu, ela só cuido do Doyoon e de mim até termos idade para cuidarmos um do outro e me mando para ficar com o nosso pai, então ele me abandono. Voltei para casa, quando a Laurinha nasceu ela quis abortar, eu disse que cuidaria dela. Minha mãe se arrependeu de ter pensado nisso com o tempo.

Meu irmão estava comigo quando ninguém queria a gente, estávamos lá um pelo outro. Mal posso raciocinar e acreditar que ele está aqui.

Minha mãe se levanto e pego a minha irmã no meus braços tomando cuidado para não acordá-la.

— Eu tentei, eu juro que tentei, tentei não amar os meus filhos. Porque machuca muito quando eles vão antes de mim. — Me olha diretamente. — Mas eu amo…

Passamos as próximas horas em silêncio, esperando, e esperando. A cirurgia deveria durar horas. Uma enfermeira com uma prancheta se aproximo, paro entre uma família e outro.

— Senhora Lilith… — Minha mãe se levanto. Todos se levantaram em seguida. A mulher abaixo a cabeça e nego. — Eu sinto muito. Ele teve uma parada cardíaca e perdeu muito sangue…

Eu chorei igual uma criança. Caroline não estava diferente de mim, minha mãe não estava diferente de mim.

Meu rosto fica completamente molhado, fungo, me encolho abraçando os próprios braços. Choro compulsivamente. Meu coração afunda e vira uma bola de dor que aperta minha garganta e me deixa muda. Ruan me abraça apertado como se entendesse a minha dor melhor do eu mesma.

Encontro seus olhos e percebo:
— Eu sinto muito, docinho.

E agora, agora ele também se foi.

Garotos cruéis! - Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora