15: Ponto final.

615 98 13
                                    


Esther

Tento pentear o meu cabelo que ficou cheio de nós depois do banho. Passar a noite na faculdade não se encaixa nos planos de ninguém, muito menos nos meus. E para completar é difícil ignorar o ruivo, muito difícil.

Aquele beijo foi um erro. Aposto que ele está imaginando até o nosso casamento, nas fantasias na cabeça dele.

A Laurinha está brincando no berço. Termino de pentear o cabelo e desço para comer. Pego minha irmã antes. O cheiro da comida se espalha na cozinha.

Lilith é uma mãe diferente das outras. Ela parece super bem alguns dias e em outros se fecha para qualquer um. Coloco a branquela na cadeirinha, sento na mesa, mas levanto quando percebo que talvez ela queira ajuda.

— Posso ajudar?

— Claro, querida! — Abre um sorriso. — Aqui, corte os tomates e tire a semente.

Concordo. Vou para o lado da pia que ela aponta com 3 tomates, um cepo, e uma faca. Confiro se a minha irmã está bem, a garotinha morde um brinquedo tentando coçar a gengiva. Alinho o vegetal e corto em rodelas.

— Eu, eu não falo muito isso. Mas obrigada por cuidar de mim e da sua irmã… — Muda a expressão rapidamente pondo um sorriso gentil. — Para te compensar o que acha de irmos comprar umas conjuntos de lingerie? Você está precisando. Suas calcinhas estão morrendo o elástico!

Reviro os olhos. Estava demorando. Tenho pais estranhos.

— Tá bom. — Dou de ombros.

— Vamos depois do almoço. No carro do seu irmão. — Não tínhamos um carro. Mas às vezes quando eu ia na casa o meu pai, ele fazia o Doyoon emprestar o carro. — Como foi a aula pela manhã? Deve ter sido muito chato passar a noite trancada na faculdade.

— A professora de anatomia gosto do meu trabalho.

— Só gosto.

Ri sem humor:
— Bem, foi o único trabalho que ela só gostou!

( … )

Andamos pelo shopping. Fazer comprar é cansativo, ficar de loja em loja, mas deixar a minha mãe escolher é pior. Ela aponta para uma peça em exposição na vitrine, extravagante e do tipo que as garotas usam para tentar procriar.

— O seu namorado iria gostar desse!

— Ele não é o meu namorado.

Mas ele iria gostar. Acho que dá para ver até o meu útero usando aquilo.

— Ainda. Vai por mim, é melhor levamos. — Aconselha. Já entrando na loja. Ela carrega a minha irmã com as duas mãos com medo de derrubada. — O que eu sempre digo?

Sigo atrás:
— Cerveja antes da vodka, e não dar a bunda na primeira vez?

— É, isso também. Mas eu também digo: esteja sempre preparada, não aceito netos antes dos 26. — A loira vira a etiqueta para ver o número e eu quase caí para trás com o preço.

— 250,00 reais, em uma única peça!

Ela faz um movimento com a cabeça em desdenho:
— Vou comprar no cartão. E é o seu pai que vai pagar, então, pegue o que quiser.

Revirei os olhos. Os dois se falam como velhos amigos. Minha mãe usou o dinheiro dele para nos manter por muito tempo, sem nenhum remorso ou sentimento de dívida.

— Posso ajudar? — A atendente abre um sorriso.

— Sim.

— Não!

— Pode sim, eu quero essa peça da vitrine tamanho M.

[ … ]

A minha mãe tinha razão. Era uma questão de tempo, mas só para o sexo. O resto não viria a acontecer, o amor, não tinha amor. É eu colocaria um ponto final nessa história, daria o que ele tanto queria.

Buzino na frente da sua casa até ele aparecer. Vim com a saia mais curta, e o batom mais preto.

Abaixo o vidro encarando sua figura confusa:
— Entra no carro.

Ruan pisca, ainda parado no mesmo lugar. Buzino de novo, irritada. Ele se apressa e entra. Piso no acelerador, não sou boa dirigindo, mas consegui tirar a carteira na quinta tentativa.

Esbarro em umas latas de lixo e ele colaca o cinturo.

— Ei, escuta, você não precisa fazer isso. Para o carro o vamos conversar…

— Como assim? Tem alguma coisa errada? — Freio de uma vez antes de acertar uma velhinha atravessando a rua com um cachorro pequeno no colo.

O ruivo junta as sobrancelhas escuras, indignado.

— Tem, você, tentando matar a gente!

— Não estou tentando matar ninguém — acelero, assim que a rua fica limpa. —, só dirigindo.

— Dirigindo? É isso que chama de dirigir? — Ruan se segura no banco.

— Quer segurar a minha mão?

Nega sacudindo a cabeça várias vezes. Olho para frente. Ultrapasso uns carros lentos, alguns motoristas sempre buzinam para mim. Ruan pega o celular, ouço o som do teclado.

— Para onde está me levando?

— Você vai amor, querido! — Forço uma voz gentil.

***

Desculpem a demora. Deixei para postar hoje. Que é o meu aniversário. :-)

Garotos cruéis! - Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora