01: Fazer dinheiro.

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Esther

“O que não te mata, te deixa mais forte”. Você pode apostar que deixa. A minha mãe já foi uma puta, das mais caras. Até a minha irmã nascer, o pai da Laurinha mandava dinheiro da pensão. Mas parou, e largou a minha mãe por uma garota mais jovem. Meus avós são coreanos, mas o meu pai nasceu no Brasil.

Hoje em dia, minha mãe tem um restaurante. Ela é chefe. Viciada em bebida e trabalho, seus hobbies incluem trabalhar e ignorar as filhas. Às vezes parece que ela esquece da gente.

Abandono esses pensamentos tirando a pomada da Laurinha, ela chora no mesmo instante. Espremeu quase tudo. Limpo seu rosto com o pano amarrado na chupeta.

— Nunca achei que magoaria alguém por não deixá-la comer pomada!

Com 1 ano, não posso esperar muito. Pego ela no colo, tirando da cama. Seguro de lado com um braço só, já estou acostumada. Ela para de chorar puxando meus cabelos quando não dou atenção para o seu drama.

— Ai, o cabelo não, quer ficar sozinha no berço, banguela? — Ela sempre ri quando fico brava e brigo. Deve ser bom ser ignorante assim.

Continuo andando pelo corredor até sair na sala, passo para a cozinha. A mãe deixo a mamadeira feita. Olho pela janela quando escuto uma cantoria. A mulher molha as plantas cantando uma música brega e antiga.

Cuido da minha irmã a maior parte do tempo. Quando estou na faculdade ou fazendo algum bico para juntar economias ela fica com a cuidadora. Minha mãe não tem tempo para mim, quem dirá para a Laurinha. Mas quando está em casa pelo menos tenta.

A bebê fica mordendo meu ombro. Seus dentes estão nascendo e ela está sensível. Os da frente ainda não nasceram, por isso chamo ela de banguela.

— Está me babando todinha! — Resmungo. — Vamos tomar café da manhã. Ainda tenho que ir ao supermercado.

( … )

Ter 21 anos não significa nada quando você ainda mora na casa dos pais. Mas não posso reclamar por ter a viva que tenho. Coloco um pano no cachinho de compras e ponho a Laurinha nele. Empurro para frente, ela olha para os lados. Deixo que segure meu dedo para não chorar. Ela está de chupeta e vesti um macacão de ursinho com capuz nela, porque está frio.

— Vamos ver a lista! — Pego o papel no bolso parando o carrinho perto das frutas. Falar sozinha viro um hábito.

Lista de compras:
1 pacote de sal.
Leite.
Açúcar.
Café.
Detergente.
Óleo.
Margarina.
Sabonete.
Arroz.
Macarrão.
Sabão em pó.
Pomada para bebê(lembrar de comprar mais).

Vou por item, pegando o que aparecer primeiro pela frente. Pego quase tudo. Me afasto por um minuto tentando pegar o Óleo na prateleira mais alta.

Seu choro manhoso começa:
— Eu já vou…

Me volto para ela. Laurinha tenta se levantar. Ri da sua tentativa até ela conseguir. Corri apressada quando a garotinha se jogo para fora.

Peguei ela no ar, por pouco, deslizando ao cair. Bate a cabeça no metal apertando ela contra mim.

— Nossa, ela se machucou…

— Meu deus, que perigo!

— Com licença. Você está bem?

Faço que sim, meio tonta. Sento no chão olhando se a minha irmã está bem. Ela chora me mostrando o dedo vermelho.

Pego seu dedinho e beijo:
— Pronto. Tá tudo bem.

Sinto algo escorrer pela minha testa. Toco e é sangue. Abro a boca surpresa.

— Moça, sua testa.

— Me ajude a levantar. — Peso. Pisco para afastar a tontura.

O homem de idade me ajuda. Ele foi o único que pergunto se estou bem. Não que eu me importe. Seguro minha irmã firme com um braço, empurrando o carrinho como se nada tivesse acontecido. Já apanhei muito da vida, ninguém bate tão forte.

Pego o que falta e sigo para o caixa, o rapaz me olha como se eu tivesse algum problema:
— A sua testa…

— É só sangue!

Pago e vou embora. Uma guarda me ajuda a carregar as compras até o carro. Laurinha me dá trabalho, sempre. Estou acostumada.

[ … ]

Deixo a minha irmã com a cuidadora a noite, minha mãe está namorado e hoje ela sairia em um encontro e eu cuidaria da Laurinha, foi o combinado. Mas preciso trabalhar. Deixo para pagar a cuidadora na volta.

Crianças ficam doentes com frequência. Com esse pensamento decide ter um fundo de emergência. O dinheiro da minha mãe é gasto com o restaurante, a casa e a faculdade.

Paris veio me buscar de moto como sempre. Ela fez uma tatuagem nova na perna. Minhas “amigas” são do conhecimento da minha mãe, mas ela não liga. Não sabemos os nomes verdadeiros umas das outras. Escolhemos nomes de cidades, como apelidos. Paris chama de codinome.

Volto para realidade com a Madrid me chamando. Estamos no camarim improvisado. O que pode dar mais dinheiro do que se vender? — Exatamente, um bando de mulheres se batendo em luta atrás de luta. O primo da Madrid cuida das apostas junto com outro cara sorridente.

— Veneza! — É assim que sou chamada aqui. — Você bateu a cabeça ou o que? Vamos, sua luta é daqui a pouco.

Sorri de canto.

— Bati.

— O que? Sério?

Faço que sim. A morena soca a mesa. A única condição para lutar é estar bem fisicamente. Se você já começar perdendo vão dizer que tem armação, principalmente se você é boa como eu.

— Minha irmã caiu e eu pulei para pega-lá. Mas bati a cabeça. — Tiro o cabelo da frente, mostro o machucado superficial com um curativo. — Estou bem.

Sua família e amigos não importa aqui. Mesmo quando são mencionados.

— Você não vai lutar. Vamos por a Tokyo no seu lugar!

Fiz uma careta. Não vou com a cara dela. Garota metida que não me desce. Levanto jogando o cabelo preto para trás das costas. Pego a bandagem da mesa e enrolo na mão.

— Ela não faria isso por mim de graça. Hoje é folga dela, a Tokyo deixo claro que iria sair com a namorada.

Madrid bate o pé irritada.

— Mas você vai lugar com o Bergen!

Mas um motivo para a Tokyo mandar eu ir me fuder. Esse lunático aparece dizendo que queria lutar comigo, fez uma confusão e as garotas aceitaram quando eu disse que tudo bem. Elas chamam ele assim porque é ruivo e parece com um viken.

— Isso é nome de cidade mesmo?

— Sim, fica na Noruega.

— Meninas, meninas se preparem. — Entra afobada. Essa é a Roma, seu cabelo é rosa cortado em cima dos ombros e ela vive de maquiagem. — Cadê a Paris?

— Foi no banheiro. — Madrid resmunga. — E a Veneza bateu a cabeça mais cedo!

Enrolo a outra bandagem.

— Minha vizinha é enfermaria. Ela deu uma olhada e fez um curativo. Eu posso lutar.

Garotos cruéis! - Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora