RuanA faculdade teve a brilhante ideia de criar um grupo de apoio para “pessoas com problemas de raiva”. Foi indicado sem motivos, por isso trouxe o Vincenty junto. Sábado à tarde, não tem coisa melhor. Ele veio reclamando o caminho todo.
Estaciono na primeira vaga que aparece. Outro carro buzina atrás. Buzino de volta. Sai batendo a porta estressado. A garota me olha por cima dos óculos escuros, o braço encostado na janela do carro preto.
Abro um sorriso.
— Essa vaga é minha!
— Não estou vendo seu nome, docinho. Quer que eu escreva?
Me mostra a língua e o dedo do meio. Fico surpreso quando percebo que tem um piercing no meio da sua língua. O Vincenty passa por mim indo na frente.
— Você tem um piercing? — Me aproximo sem perceber.
— Tenho. É melhor procurar outra vaga. — Resmunga.
— E esse carro? Não sabia que você tinha carro.
— Meu irmão me emprestou. Chega de perguntas, tenho que achar outra vaga. — Pisa no acelerador dando ré.
Sorri de canto. Fico esperando ela na porta da sala, apenas para ver sua cara brava e implicar mais um pouco. Encaro meu tênis de marca, deve ser o quinto que a minha mãe me mando essa semana.
Se passa um tempo. Olho pelo corredor da Universidade a todo momento, vejo as horas. Ela aparece no final do corredor com uma expressão de paisagem diferente de como achei que estaria.
Me coloco na sua frente. A garota para revirando os olhos.
— Então quer dizer que você tem problemas de raiva?
— Você também tem idiota!
Nego, não era assim. Sou a pessoa mais calma que eu conheço. Ela passa por mim abrindo a porta atrás de nós. Sigo no seu pé. Vários pares de olhos se viram para nós.
Só tem uma cadeira, só uma.
Nos entreolhamos. Empurro ela de lado, corro a passos largos. Esther pula nas minhas costas, caímos os dois juntos no chão. Resmungo. Ela passa por cima de mim, me ultrapassando.
Puxo sua panturrilha com tudo. A garota cai. Me levanto apressado passando por ela. Mas Esther se agarra na minha perna, então sai arrastando ela enquanto ando até o acento.
O professor que deve a má sorte de vir hoje está com a boca aberta faz um tempo.
Sento na cadeia primeiro. Ela grita irritada batendo as mãos fechadas no piso:
— Docinho, levanta, está passando vergonha.Todos nos encaram como se estivéssemos no lugar certo.
A garota me lança um olhar que promete morte. Sorri de canto outra vez. Estende os braços ajudando ela a levantar. Esther me xingo baixo, sacode a saia e arruma o cabelo.
— Ruan, você trapaceou!
— Eu sei.
— Onde eu vou sentar?
Bato no meu colo:
— Senta aqui!Cruza os braços. Todas as salas estão trancadas, então só tem as cadeiras que estão aqui na sala de teatro. Para minha surpresa ela senta. Virada para o lado. Abraço sua cintura cobrindo com as mãos o que a peça pequena não cobre, sua saia parece mais curta quando ela fica sentada.
O professor que veio debater picarera tossindo:
— Então, continuando, a ruiva é uma emoção negativa que só trás coisas ruins. Hoje temos um novo membro no grupo, você gostaria de se apresentar e falar como foi seu último surto de raiva?O loiro de farmácia nega:
— Não, mas o Ruan vai me bater. É, o meu nome é Vincenty.— Oi, Vincenty. Aqui é um espaço seguro, você pode se abrir! — Todos do círculo falam juntos. Já estão ensaiados.
Alguns me olham como se eu não tivesse coragem para admitir que sou uma pessoa violenta. E o Vincenty não ajudo muito, todo o tempo que eu vinha negando. É a primeira vez que vejo a Esther aqui.
Apoio a cabeça em cima da dela. O loiro olha em volta.
— Quebrei algumas tábuas de madeira.
— Com as mãos? — Pergunto o professor curioso.
— Não, com a cabeça de uns caras.
Silêncio. Prendo o riso. Isso é exatamente o que achei que ele diria. O Vincenty é como um monte de músculos, um rostinho bonito e nada na cabeça. O garoto não esconde nada, ele responde com sinceridade. Por isso é meio burro.
Tosse de novo. Quebrando a tensão.
— Próximo. Que tal você, Kiara?
A garota quieta tiro o fone de ouvido resmungando:
— Tô bem. Eu tô super bem. Não briguei com ninguém hoje.— Professor, eu tenho algo para admitir! — Uma garota de óculos levanto a mão.
— Ótimo, é bom quando vocês tem a iniciativa. Pode falar.
— Bati o carro no de um estranho, ele perdeu a memória e agora acha que sou a namorada dele. Até tentei me redimir no começou. Mas dei um soco no otário quando ele tentou me beijar. Humilhei, ameacei, e até sumi por uma semana. Mas ele nunca foi embora. E está segurando minha mão agora! — Levanta o braço que estão de mãos dadas. O garoto é gigante, tem porte de atleta. — Como eu não tenho um surto de raiva?
— Respira. Conta até 10 comigo… 1, 2… enquanto isso vai pensando em uma terapia de casal ou coisa do tipo.
— NÃO SOMOS UM CASAL! — Explode. A garota tira os óculos e começa a chorar.
Deve ser difícil. O cara ainda acaricia sua cabeça. Ele está passando por um momento delicado. Passar por tudo sozinho com uma garota ingrata que não reconhece o seu valor.
Mas para falar a verdade não paro de pensar no piercing da garota no meu colo. Ela está quieta. Quero beijá-la na frente de todo mundo, sentir o metal da sua língua e o gosto da sua boca.
— Porra, porque a sua saia é tão curta? — Tento abaixar o tecido. As pessoas não param de olhar.
Falamos aos sussurros entre nós.
— Deixa a minha roupa em paz! — Bate na minha mão.
— Essa sua roupa não tampa quase nada.
— Tampa o que importa. Você não é meu namorado, então fica na sua.
Faço careta. Apoio as mãos abertas nas suas coxas cobrindo a pele. Daqui a pouco vão ver a calcinha dela, e eu vou arrancar os olhos de alguém.
— Preciso ser seu namorado para me importar?
— Precisa. — Responde seca.
Fico sem argumentos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Garotos cruéis! - Livro 02
RomansaSinopse: Ruan seria facilmente o cara que qualquer uma pegaria se estivesse dando bobeira em uma festa. Mas ele faz o tipo manipulador que te daria um fora e você sairia sorrindo. Um dos 4, do grupo de elite da escola, que promete ser tão cruel quan...