05: Rosa branca.

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Esther

Quando levantei na manhã de quinta, tinha uma rosa branca perto do meu travesseiro. Seguro a flor na mão, estranhando toda aquela situação. Levo ao nariz e tem um cheiro bom misturado com perfume masculino.

Bizarro.

Levanto indo até o berço da minha irmã. Ela dorme de barriga para cima com o rosto virado para o lado. Não faço barulho para não lhe acorda. Vou me arrumar antes que ela desperte.

Minha mãe faz o café da manhã. Ela vem até mim, beija minha bochecha e a testa da Laurinha no meu colo. Olho confusa para ela, está de bom humor com um sorriso escancarado. Ontem ela saiu e não volto bêbada, melhor olhar a previsão do tempo antes de sair de casa.

— A senhora tá bem?

— Melhor impossível.

— Ah, tá com uma cara estranha.

— Como assim. — Volta para o fogão. Sorrindo tanto que já está me dando medo.

— Cara de quem transo! — Solto.

Ela ri alto.

— É, e você está com cara de quem precisa transar! — Alfinito. — Deveria ir em uma festa, se divertir um pouco para variar.

— Ok. Mas eu não tenho amigos.

Ela levanto uma sobrancelha:
— E o ruivo com um carro estacionado lá fora?

— E eu também não tenho roupa, espero… Ruivo? — Segurei melhor a minha irmã com o braço esquerdo, levantando ela quando começo a escorregar. Foi em direção a porta.

Abri, dando de cara com o garoto que não cansa de me perseguir. Me aproximo irritada. Laurinha morde meu ombro, tentando coçar os dentes da frente. Fico cara a cara com ele.

— Não me lembro de ter feito nenhum pacto com você! — Acuso.

— Está me chamando de demônio? — Ponhe a mão no peito se fazendo de ofendido. — Na verdade, venho de uma família que não frequenta igrejas. Mas sou um bom garoto.

— Volte.

— Pra onde? — Levanto uma sobrancelha com um ar sarcástico.

— Pro inferno! — Me altero. Minha irmã começa a rir. Ela acha engraçado me ver com raiva. Nem um pouco diferente do ruivo.

— Sua filha? — Aponta o dedo. Sorrindo de canto.

— Minha irmã — respiro fundo buscando paciência. — Ruan, é melhor você sair da minha frente. Enquanto estou pedindo com jeitinho.

— Nem a pau! — Sorri como um psicopata. — Gosto da flor que eu te mandei?

— A lista só aumenta: perseguidor, invasor, e tarado. Esqueci alguma coisa?

— Docinho, eu já disse, não sou tarado.

— Essa é a única parte que você vai negar?

Franzi a testa. Queria entender onde eu me meti. Mas talvez ficar na ignorância seja melhor. Mudo o braço, passando a Laurinha para o outro. A cada dia se tornar mais cansativo. Perdi a hora totalmente, deveria ter ido dar a minha corrida de madrugada.

— Espera no carro. Não vem. — Falo fazendo menção de entrar. — Eu já volto, não chega perto da minha casa.

Ele levanta os braços para cima se rendendo. Entro, deixo a banguela com a mãe. Ela parece sem jeito segurando a própria filha.

— A cuidadora não demora. Cozinha uma batata doce, amassa e deixa esfriar. Os dentes da frente ainda estão nascendo, ela está sensível e se ela chorar, não grita com ela! — Explico séria. — Se ela não comer, falar para a Ana fazer a mamadeira.

Lilith concorda, meio constrangida. Um olhar gentil e sem graça. Minha mãe não amamenta, ela não fez isso comigo e nem com a minha irmã. Entendo suas razões e não lhe cobro nada. Pego a minha mochila no sofá e vou em direção ao meu pesadelo diário.

( … )

No momento 3 coisas tiram a minha paciência: meu pai, pessoas calmas, e aparentemente o Ruan faz parte da lista.

— Querido?

— Oi, docinho — freia aos poucos quando aparece o sinal vermelho.

— Já disse que te odeio profundamente?

— Hoje não.

Reviro os olhos. Viro os rosto para a janela.

— Eu também te odeio.

— Então, por que caralhos está me perseguindo? — Me volto para ele, gesticulando irritada.

— Eu não sei, droga!

Não sabe. Não-sabe. Ele piro de vez. É a única explicação que eu tenho. O garoto tira o próprio cinto de segurança, se inclina na minha direção. Não me afasto. Seus dedos passam pelo meu ombro, ele agarra o meu pescoço, arfo, surpresa.

Não aperta com força, apenas segura. Dois dedos enfiados na minha nuca, e o polegar acariciando na frente.

— Eu realmente não sei, odeio você, mas também… — Encara minha boca. — Quero te beijar até que sufoque sem ar!

Abro um sorriso orgulhoso.

— Você não gosta de mim, você me ama! — Umedeço os lábios de propósito, rindo. O meu batom preto dura umas 12 horas, não sai por nada, só com o produto certo.

Ruan afunda a mão nos meus fios, puxando minha nuca para ele. Viro o rosto quando ele tenta me beijar. Sua respiração está pesada, acaricia minha bochecha com o nariz.

Carros buzinaram atrás de nós.

— É melhor você se afastar.

E ele faz. Volta a sentar reto, pisando no acelerador. Achei que não fosse me ouvir. Estou tão acostumada a lidar com pessoas babacas que quando um respeita o que eu digo, fico surpresa.

— Vamos deixar uma coisa clara aqui: eu não gosto de você e você não gosta de mim! — Começa. — Se eu tentar te beijar de novo, chute minhas bolas.

Ri alto e espontaneamente. Ou ele tem bipolaridade ou duas personalidades e não está abrindo o jogo.

— Pode apostar que eu vou! — Cruzo os braços. — Aliás, onde você está me levando?

— Pra faculdade. — Dá de ombros. Imaginei que fosse para qualquer outro lugar, podia muito bem ser um sequestro.

Garotos cruéis! - Livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora