Capítulo três

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Eleanor Quinn
Quatro anos atrás

Eu sempre costumava receber cartinhas de amor da escola, mas não via isso como um bom motivo para me gabar, não quando a única pessoa que eu queria não me mandava nenhuma carta.

Apesar de receber até chocolates e flores, sempre fui uma menina muito tímida e na minha. Conversava apenas com a minha prima, a Rosie, e as amigas dela na escola, porque tinha muita vergonha e dificuldade em fazer amigos. A única amiga que fiz foi a Ivy, o que me fez ficar bem próxima do irmão dela, o Miles.

Porém, eles viajaram, como sempre. Estou tendo que aguentar minha prima e as amigas dela por um bom tempo enquanto Ivy não volta.

Eu e Rosie não nos damos tão bem quanto deveríamos... Ela sempre me chamou de bruxa por conta do meu cabelo ruivo. Isso acontece porque, na nossa família, ninguém é ruivo, mas o meu pai, Hector Quinn, se apaixonou pela minha mãe, Amélia Niall, que tinha cabelos em um tom de castanho bem avermelhado. Então, em uma família onde todos têm cabelos pretos ou castanhos escuros e têm olhos escuros, eu nasci ruiva de olhos claros, sendo, naturalmente, a ovelha negra da família.

Rosie era incrivelmente popular, mas quando entrei na escola, eu meio que roubei um pouco da atenção que ela recebia, e isso piorou a nossa relação.

Principalmente depois que ela descobriu que o Matteo, o garoto de quem ela gostava, queria ficar comigo e não com ela.

Enfim...

Eu estava na biblioteca, procurando algum livro apenas para passar o tempo e ficar um pouco longe de Rosie, mas não encontrava nenhum que me agradasse.

- Festa? - uma voz familiar acabou me tirando dos pensamentos. Infelizmente, mesmo que eu tente ficar longe dela, acabo ficando mais perto.

- É! Você bem que podia chamar aquela sua prima, né, Ros? - um garoto respondeu. - Na verdade, você poderia arrumar ela para mim - A risada dela me fez fazer careta, mas me mantive escondida para ouvir a conversa.

- Todo mundo sabe que ela quer o seu irmão, não você, idiota.

- O Maven sequer olha para ela. - O garoto retrucou.

- E ela sequer olha para você, Matt.

Revirei os olhos ao ouvir isso, mas tentei prestar atenção. E eu até teria conseguido se Logan não tivesse me visto por trás do livro que ele acabou de pegar.

- Olha só quem tá ouvindo a conversa dos outros. - Ele sorriu.

Fingi que não ouvi e voltei a olhar os livros.

- Vai ter uma festa lá em casa, cerejinha. - Ele pegou um livro aleatório para poder me ver do outro lado da prateleira. - Topa?

- Eu...

- Viu só, Matt? - Rosie se aproximou dele. - Por isso que você devia ficar com alguém da sua idade, essa garota é nova e imatura demais pra você.

Matteo simplesmente ignorou ela e olhou novamente para mim:

- Sim ou não, princesa?

- Que dia? - cruzei os braços.

- Qual dia você quer?

Controlei o ímpeto de fazer uma careta e respirei fundo.

- É sério, Matteo.

Ele riu com escárnio.

- Eu estava pensando no sábado, pra você tá bom?

- Pode ser.

- Beleza, no sábado, às 20.

Apenas concordei com a cabeça e voltei a procurar por algum livro novamente enquanto Logan e Rosie voltaram a conversar.

Resolvi ir em outro corredor para ver se encontrava algo bom e, obviamente, para ficar longe de Rosie dando em cima do Matteo.

Eu nunca entendi o porquê de algumas garotas darem em cima dos meninos. Ao meu ver, deveria ser o contrário; o garoto quem deveria tomar atitude, claro, sem ser muito invasivo e chato, e a garota deveria ser mais quieta e reservada, simplesmente para ganhar mais respeito e instigar mais. Minha mãe quem me ensinou isso e eu concordo plenamente com ela. Uma garota mais quieta faz com que os meninos fiquem curiosos.

Rosie claramente pensava o contrário, ou simplesmente não pensava. Chegava a ser extremamente irritante ver ela querendo chamar atenção.

Só de lembrar de todas as vezes que - infelizmente - presenciei tais cenas, fico com enjoo.

Balancei a cabeça numa tentativa de esquecer isso.

Entrei num corredor de prateleiras e dei de cara com alguém.

Ele acabou dando alguns passos para trás por conta do impacto e eu tropecei no meu pé enquanto fazia o mesmo, caindo de bunda no chão.

Que vergonha.

O pior da situação é que eu realmente esperei que ele, seja lá quem for, me ajudasse. Mas, quando olhei para cima, vi suas mãos dentro dos bolsos ao invés de estarem estendidas para me ajudar. A posição típica do Maven.

Ele não falou nada e nem eu. Ficamos olhando um para o outro, na verdade, ele parecia estar mais me julgando do que simplesmente olhando.

Isso já havia acontecido várias vezes antes, tirando a parte do tombo, isso é a primeira vez. Mas nós sempre nos olhamos assim, e é meio que automático. Eu olho para o lado e vejo ele me encarando, ou então ele vira a cabeça de repente em minha direção e me pega olhando para ele.

Mas nunca trocamos uma palavra, apenas olhares.

Levantei do chão ainda encarando ele.

- Desculpe. - Foi tudo o que eu disse.

Não obtive nenhuma reação.

Nenhuma mesmo.

Acho que era exatamente por isso que eu gostava do Maven Dawson.

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