Capítulo vinte três

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Eleanor Quinn
Quatro anos atrás

Subimos as escadas até chegarmos no último andar, o terraço.

O céu estava lindo, azul bem forte com nuvens branquinhas. A luz do sol fez meus olhos se fecharem instintivamente.

Mesmo assim, olhei para Maven, que observava o céu da mesma forma que eu, mas com a expressão ilegível.

Seu olhar desceu para mim e senti o rubor subir pelas minhas bochechas, como sempre acontecia quando ele me olhava. Bastava um olhar e eu já me sentia sem pernas.

Era sempre assim; tudo desacelerava quando eu me sentia sob o olhar dele. Ter toda aquela atenção fazia com que eu me sentisse nas nuvens.

Ele andou até a parte coberta do telhado, onde tinha alguns puffs e almofadas, sentando-se em um deles.

Andei até ele, mas, assim que passei pela sua frente, ele agarrou meu braço e puxou-me para seu colo.

Céus...

Meu rosto estava a milímetros do rosto dele. Suas orbes pareciam ainda mais sombrias de perto, apesar de terem uma cor clara, como um buraco negro extremamente atrativo. O tom claro de sua pele deixava seus outros traços mais evidentes. Ele tinha poucas sardas abaixo dos olhos e algumas em seu nariz, este que era muito fino. Seus lábios estavam ainda mais vermelhos por conta do pirulito; o superior era um pouco fino e o inferior mais grosso.

Sem perceber, eu já estava alisando sua pele com a ponta do dedo indicador, gravando cada detalhe em minha mente, deixando o dedo andar livremente sobre sua face, apreciando o momento.

Era bom, eu devo admitir. Muito bom.

Os cabelos dele estavam bagunçados, como sempre, mas eram tão macios que me davam vontade de puxar.

Senti uma de suas mãos apertarem meu quadril.

- Apaixonou, não é? - provocou-me.

Não pude evitar o esboço de um sorriso tímido.

Eu estava apaixonada por ele há muito tempo, só ele não sabia, ou, se sabia, escondia muito bem.

Tudo nele me encantava.

Mas então um pensamento me veio à mente. Ou melhor, vários.

Quantas garotas já fizeram isso? Quantas puderam tocá-lo assim, sentar no colo dele e beijá-lo? Quantas ele já trouxe para cá apenas para não assistir aula?

Maven era um garoto lindo, inteligente, confiante e, o que mais me atraía, quieto. Ele não fala muito com quem não conhecesse, sempre está na dele, com aquele ar misterioso que me faz querer desvendar todos os seus segredos. E isso não era atraente apenas para mim, pelo contrário, há olhares interessados nele por onde ele vá.

É mais do que óbvio que ele é experiente, afinal, não tem como alguém como ele não ser.

Mas eu não sou.

Foi com ele com quem tive meu primeiro beijo, depois de uma festa da minha prima, depois daquele body shot.

Certamente há meninas melhores do que eu, meninas mais experientes, meninas mais confiantes, meninas mais bonitas...

Parei de tocar seu rosto, minha mão caindo em meu colo, bem como meu olhar.

- O que foi? - escutei sua voz e voltei a olhar para ele.

Será mesmo que eu era suficiente?

Poxa, olha para ele...

O que ele faz perdendo tempo comigo com tantas garotas incríveis ao seu redor?

A Aylin, por exemplo. Ela é linda, charmosa, festeira, inteligente e tem amigos em qualquer lugar que vá. Eles têm coisas em comum, são parecidos e combinam bastante.

Além de mais bonita, ela também tem muita experiência. Eles formam um casal perfeito.

Então, por que ele está aqui, comigo?

Eu não sei nem um terço das coisas que ele sabe, não gosto muito de festas e sequer sei beijar direito. Sou desajeitada nos toques e mal percebo indiretas sem serem bem óbvias. Nunca bebi álcool ou fumei baseado, muito menos transei com alguém.

Não quero fazer nada dessas coisas por obrigação, mas e se eu não conseguir agradá-lo por isso? E se ele me odiar quando eu negar algo?

Não... Se ele realmente gosta de mim, terá de entender, não é?

Terá de entender que não vou beber ou fumar só porque é "legal".

E eu espero que entenda e respeite meu tempo. Não quero fazer sexo sem sentido, sem motivo, sem sentimento. Não quero banalizar algo tão íntimo, tão importante e tão significativo assim tão simplesmente. Claro que, talvez, algum dia, espero que isso aconteça entre nós, mas qual é a graça quando não se tem aquela conexão? Qual é a graça quando se é tão súbito que se torna algo qualquer? Por que não esperar para aumentar ainda mais o desejo e os sentimentos?

Seus dedos foram até meu queixo, um pedido para que eu o olhasse nos olhos.

Quando fiz, encontrei novamente aquele mar castanho, sombrio e semicerrado me encarando.

- No que pensa? - sua voz não passava de um sussurro.

Não queria contá-lo. E se ele me achasse insegura demais?

Ele pareceu perceber minha hesitação e simplesmente apoiou o queixo em meu ombro, envolvendo seus braços em minha cintura, como se dissesse que está tudo bem.

Ele não falou nada a mim e nem eu a ele. Ficamos assim, apenas nos abraçando e então senti minhas preocupações irem embora.

É... Se ele realmente gosta de mim, ele vai me entender.

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