Capítulo vinte sete

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Maven Dawson
Quatro anos atrás

Doía. Doía pra caralho.

A cada soco que eu dava ou recebia eu sentia minha raiva aumentar.

Era assim que meu irmão realmente era. Bruto, cheio de raiva e extremamente arrogante. Mas também era falso suficiente para esconder isso na frente de outras pessoas, porque mentir é o que esse filho da puta faz de melhor.

O cheiro de álcool emanava do corpo dele tal qual como perfume, instalando no quarto facilmente como mofo.

Essa era apenas mais uma de milhares de brigas que tínhamos e teremos, porque essa era a nossa relação. Ele me odiava e eu o odiava, simples.

- É tudo sua culpa, desgraçado! - jogou um travesseiro em mim.

Respirei fundo e olhei para ele. Seus olhos estavam vermelhos de raiva, uma veia pulsava em sua testa. Suas crises de raiva o deixavam daquele jeito repulsivo, algo como culpa da bebida ou das drogas, e sua melhor forma de aliviar aquele ódio era descontar tudo em mim, colocando a culpa de qualquer coisa em mim.

Seus passos eram firmes ao andar até mim novamente, seu dedo indicador subindo em meu peito.

- Você não vale a vida da minha mãe e, mesmo assim, ele prefere você - suas palavras eram ásperas. - Você matou ela, matou quem ele mais amava, mas ele ainda prefere você, ele ainda te trata como se você não fosse um assassino. Ela deu a vida pela sua, mas você não vale o esforço, Maven, porque você é podre. Ele teve tantos prejuízos por sua culpa, perdeu dinheiro arrumando suas cagadas, mas age como se você fosse a melhor pessoa do mundo, como se você fosse algo precioso que vale mais do que qualquer coisa e qualquer um.

- Cala a boca. - Me afastei dele novamente, mas ele veio até mim.

- Não aguenta ouvir umas verdades, Maven? O que aconteceu? - seu timbre abaixou. - A verdade dói?

Não era verdade, eu sabia que não era, mas ouvi-lo dizer aquilo me fazia querer fazer algo que com certeza pioraria a situação. Então empurrei ele e fui embora dali.

Minha mãe, Dalila Lopez, morreu quando eu tinha apenas nove anos e Matt doze. Ele me culpa pela morte dele desde então porque, de certa forma, eu causei isso.

Naquele dia, meu pai estava trabalhando e minha mãe estava de folga. Eu e meu irmão chegamos da escola e eu joguei a mochila no sofá, mas ela acabou caindo para o chão, bem em frente à escada. Sem perceber isso, fomos almoçar normalmente. Enquanto estávamos sentados almoçando na mesa, minha mãe, que já tinha almoçado antes, estava vendo televisão no quarto dela que ficava no andar de cima. Porém, eu senti muita sede, mas os copos ficavam em um armário no alto, algo que eu, naquela idade, não conseguia alcançar e Matteo era imprestável demais para fazer tal favor, então chamei pela minha mãe. Como ela estava quase dormindo, ela estava bem sonolenta ao descer as escadas e não percebeu minha mochila, o que a fez tropeçar e cair de bruços no chão. Sua testa bateu fortemente contra o chão, tão forte que só se ouviu o baque alto naquele momento.

Depois daquele dia, minha relação com Matteo nunca foi a mesma; eu não queria olhar para a cara dele e nem ele para a minha.

Peguei as chaves do carro e fui até a garagem.

Assim que entrei no carro, senti a paz inundar minha mente. Finalmente livre dos gritos e daquele cheiro insuportável dele.

Abri a porta da garagem e saí da casa, acelerando o carro só para ficar longe daquela casa.

Mesmo que o barulho inebriante do motor ecoassem em meus ouvidos, eu ainda sentia aquela dor no peito, sentia a voz dele me culpando em minha mente. Acho que no fundo, eu também sentia que era culpado pela morte dela, talvez por isso todas aquelas malditas palavras ditas em momentos de raiva me machucavam tanto. Era impossível evitar essa sensação, mesmo que eu fuja de tudo, aquela parcela de culpa ainda ocupará meu coração.

Peguei um cigarro do porta-luvas e acendi com um isqueiro que sempre carrego em meu bolso.

Assim que a nicotina adentrou meu corpo, senti seus efeitos me relaxarem. Ainda assim, não parei de acelerar o carro, aquele som, aquele ronco enchendo as ruas.

Dirigi até a praia, um dos poucos lugares onde eu podia encontrar paz. Sem culpa, sem Matteo, sem nada. Apenas eu e o silêncio que finalmente se instaurava em mim.

Parei o carro no acostamento da estrada e, após sair, andei até sentir a areia cutucar em meus pés.

Dei uma última tragada no cigarro, soprando a fumaça ao ar enquanto andava para perto do mar. Sentei-me e apreciei a vista. Eram 17:58, o sol estava se pondo, se alinhando à linha do horizonte, como se estivesse se fundindo com o mar.

Era lindo ver aquele tom laranja, quase um vermelho, se misturar com o azul do mar. Tudo aquilo parecia estar tão perto, mas estava tão longe do meu alcance. Eu podia até tentar tocar, conquanto não consegueria.

Foi então que senti algo frio escorrer por uma de minhas bochechas. Era algo que eu reprimia fazia anos, algo que tanto segurei, mas, agora escorria livremente pelo meu rosto.

Após uma, vieram várias.

Não tentei impedi-las, apenas deitei o rosto contra os joelhos, meu braços apertando minhas pernas.

Pela primeira vez em muito tempo, me permiti chorar sem medo.

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