Capítulo oito

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Maven Dawson

Covarde, era exatamente o que ela era. 

Extremamente covarde.

Covarde, medrosa e sem graça. Ela é tudo isso e muito mais.

Mal me viu e já quis fugir, mas acho que isso sempre foi um traço dela. Fugir quando a pressão é enorme, quando não aguenta o fogo, quando tá tudo muito ruim e ela não tem coragem e nem força para enfrentar. E ainda acha que vai fugir pra sempre de mim quando na verdade persigo ela até o fim.

Mas nem sempre foi assim; ela costumava sorrir ao me ver e, quando corria, corria comigo e não de mim.

Foi pura coincidência eu a encontrar no circo. Will, um grande amigo meu, trabalha aqui e um dos motoqueiros sofreu um acidente e não pôde se apresentar hoje. Por isso, ele me chamou e me pediu esse favor de substituir o cara, já que sei dirigir moto e meio que já participei do globo da morte duas vezes antes. Adorei o convite, inclusive, até porque reviver aquelas emoções foi muito bom.

Quando ela se voluntariou para participar achei que era piada, até lembrar dos velhos tempos, onde ela subia na minha garupa e, às vezes, tentava aprender a dirigir a moto. Lembrei também das corridas, do olhar dela no meio da multidão torcendo por mim e dos beijos nos finais das competições.

Como que tudo aquilo acabou e se tornou ódio?

Um dos motivos, com certeza, seria meu irmão. Fazia de tudo para me machucar, mesmo sendo o mais velho, comportava-se como o mais novo, como uma criança que não sabe controlar a merda da raiva. 

Um outro motivo seria o pai dela. Eu não sei como era a relação deles e nem ligo para isso, o problema é que ele não gostava de mim, talvez porque meu pai e ele não se davam bem. Ouvi dizer que eles se odiavam porque ambos queriam a minha mãe, mas, antes, eles costumavam  ser amigos.

E o último motivo seria os dois juntos; meu irmão e o pai dela fazerem de tudo para me machucar e, talvez, me afastar dela. Claro que o paizinho dela não me queria perto dela, então fez um acordo com o meu irmão, que me odiava e faria de tudo para me ver mal.

Ela acreditou na merda de uma mentirinha que me meteu em problemas, me meteu na cadeia. Ver que ela preferiu acreditar neles, ou melhor, sequer tentar me ouvir, foi o que realmente me machucou e mudou totalmente a forma que eu a via. Foi tudo planejado por aqueles dois, era a palavra deles contra a minha, mas eu não tinha feito porra nenhuma de errado. Mesmo assim, ela acreditou neles e, agora, quatro anos depois, vive sem ressentimento, como se nada tivesse acontecido, como se a escolha dela não tivesse feito um estrago na minha vida.

Tirei o traje preto e coloquei minhas roupas de volta antes de me despedir dos outros e ir embora daquele lugar. Assim que já estava fora do circo, tirei o maço de cigarros do bolso e peguei um. 

Se eu soubesse que sair da cadeia me faria relembrar de tudo, eu teria ficado lá. O bom é que eu quero jogar na cara da Quinn que ela fez a escolha errada, uma péssima escolha inclusive. Para isso, eu precisei esperar para sair daquele lugar. Agora, o ponto é conseguir fazer com que ela se arrependa.

Droga... A nicotina não era suficiente.

Qual seria o melhor lugar para esquecer tudo? Ou melhor, do que eu precisava para esquecer de tudo, mesmo que por poucos segundos?

Peguei meu celular e liguei para ela.

- ''Se não foi importante, eu juro que te dou um soco, Dawson.'' - A voz estava meio ofegante.

- Liguei num momento ruim, Aylin? - zombei. 

Ela não respondeu, eu apenas ouvi alguns...barulhos. É, eu acho que liguei num péssimo momento.

- ''O que você quer?'' - me perguntei quem era o cara da vez para que ela considerasse me atender num momento como esse.

- Que grossa você, né? Eu, como um ótimo amigo, sempre te apoio, mas quando é contrário, você sequer liga pra mim. - Zombei novamente, na intenção de irritá-la.

- ''Só fala onde que eu apareço lá em, pelo menos, meia hora.''

- Casa do Will. - E desliguei.

Eu sabia que ela iria, não havia festa sem ela, então não precisei da confirmação dela.

Aylin Morelli era uma garota de personalidade forte, confiante e bonita. Tinha os cabelos lisos e pretos e os olhos azuis escuros. Seu rosto era bem definido, o nariz fino e arrebitado, os lábios carnudos, os olhos puxados para cima igual os de uma raposa, além do piercing na sobrancelha esquerda. O corpo dela era perfeito, tinha a cintura fina, os quadris largos, as coxas não muito grossas, os ombros largos, peitos grandes e a bunda empinada. 

Claro, como amigo, eu a admirava muito e sempre a achei linda. Como homem, porra, eu achava ela muito gostosa. O beijo dela nem se fala, era incrível, só perdia para o daquela ruiva.

Ela é apenas um ano mais nova que eu e eu a conheço desde criança. Em todos esses anos, nunca vi alguém que não se apaixonasse por ela, de garotos a garotas. Foi com ela que tive meu primeiro beijo, quando eu tinha doze e ela onze.

É, temos muitas experiências juntos e eu amo nossa relação. Aylin sempre esteve ali para mim e por mim, ela e o Will são pessoas com quem me importo de verdade.

Subi na minha moto e dirigi para a casa do Will, acelerando já que não há graça andar de moto e não ter a chance de experimentar a adrenalina.

Ah, e respondendo àquelas perguntas de antes, qualquer festa que o Will der é o lugar perfeito para isso, e, sexo, drogas e bebidas seriam as coisas perfeitas para isso, anota a dica.

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