Capítulo treze

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Maven Dawson

A fumaça invadia meus pulmões enquanto minha mente ficava nublada.

Depois de quase dormir com um homem e quase matar o Will, eu merecia esse cigarro. Os meus dias na cadeia foram deploráveis, mas, pelo menos, eu não ficava tão estressado assim.

Passei cada dia lá dentro pensando em como acabar com aquele desgraçado, mas, agora que saí, sequer tenho vontade de levantar da cama.

Sei que não posso continuar assim; só bebendo, fumando, indo em festas e dormindo. Mas é preciso tempo, calma e paciência para continuar. Não quero fazer uma merda mal feita, quero fazer tudo direito e planejado.

Soprei a fumaça para cima e observei a nuvem desaparecer lentamente sobre mim.

Primeiro, eu planejo me aproximar de Eleanor, o que não será fácil, já que, assim como eu a odeio, ela me odeia. Então tenho que ir aos poucos, não pretendo conquistar o coração dela, só preciso de ter um pouco de sua confiança.

Se tudo der certo, todo o plano de acabar com o pai dela também dará certo.

[...]

Saí da moto e fui até a portaria do prédio. Era um lugar bem bonito, tinha um ar de riqueza e simplicidade ao mesmo tempo. Passei pela porteira e observei ao meu redor; o piso era de mármore branco e as paredes eram em um tom meio areia. No teto havia um lustre grande que ia até o chão e sofás verdes escuros estavam em alguns cantos para as pessoas se acomodarem.

Depois de falar com o porteiro, subi de elevador até o quinto andar. Eu odiava os elevadores, mas esse prédio, para minha infelicidade, não possuía escadas.

Quando a porta se abriu, procurei pelo apartamento de número 33 logo o vi. Bati na porta de madeira preta e aguardei até que ele se abrisse e eu pudesse ver aquele belo par de olhos verdes me encarando.

Suas sobrancelhas se ergueram e seu cenho se franziu, uma expressão típica de surpresa e confusão tomou sua face, o que me fez sorrir.

- Meu irmão está? - perguntei simplesmente.

Ela demorou mais do que deveria, provavelmente tentando entender o que estava acontecendo. Eu podia ouvir as engrenagens tentando funcionar em sua mente.

- Ele... - limpou a garganta - Sim, ele está, por quê?

- Vim buscá-lo, jeli.

- Eu já disse para não me chamar... Ah, tanto faz, quer entrar?

Fiquei um pouco surpreso com a sua pergunta.

- Está me convidando para entrar, cerejinha?

Ela bufou e abriu espaço para eu passar, então o fiz.

Era um apartamento não muito grande, mas espaçoso o suficiente. Era confortável, para ser bem sincero, mas a presença daquela garota estragava todo conforto daqui.

- Belo apartamento, mas, se já parou de se exibir, eu gostaria de ver meu irmão.

- Ele foi atender uma ligação, mas disse que já voltava.

Respirei fundo e cruzei os braços, encostando meu quadril na ilha da cozinha. Ela ficou sentada no sofá olhando para o celular, mas pude sentir seu olhar vindo para mim algumas vezes.

Infelizmente, o burro do meu irmão se envolveu em um acidente com a moto dele e eu, como o ótimo irmão que sou, estou trabalhando de uber para esse imbecil.

O que mais me impressiona é ver ela aceitando tão facilmente a amizade dele novamente. Sei que ela não faria isso se soubesse o que ele fez, mas mesmo assim é um tanto impressionante.

- Vai mesmo ser amiga dele? - questionei.

Ela olhou para mim e disse:

- Diferentemente de você, ele assumiu os erros e pediu desculpas, Maven. Ele não age como uma criança de 9 anos igual a você e, acima de tudo, não tentou me matar.

- Uau, você ainda acha que foi eu quem incendiou a sua casa? - me aproximei.

Eu já parei de tentar esquecer, até porque, em todas as vezes que eu tentei, de nada adiantou. Assim como Eleanor, tudo me fazia lembrar daquela noite.

O que me deixa irritado é o fato de que ela realmente acredita que foi eu quem causou aquele incêndio.

Ela é tão inteligente, sei disso por ter sido muito próximo dela, mas ela é tão influenciável e ingênua. Parece que, assim como nas outras pessoas, o dinheiro do papai consegue deixá-la cega, comprando a sua visão e confiança, deixando-a sem poder enxergar a verdade. Ele não precisou de esforço; em um estalar de dedos, ele fez questão de que acreditassem nele, e assim fizeram apenas por ele possuir dinheiro o suficiente para pagar.

Queria poder contar a ela, contar toda a verdade, desabafar tudo que tenho carregado por anos, mas algo dentro de mim me impediu. Ela vai ter que descobrir por conta própria, e, quando fizer, eu já terei ido embora de novo.

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