Capítulo vinte quatro

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Maven Dawson

Não sei que tipo de droga me deram, mas parecia ser bem forte para eu estar vendo Hector Quinn bem na minha frente.

Só podia ser alucinações, tinha que ser.

Depois da corrida, tudo ficou preto. Não vi nada, não ouvi nada e nem sonhei como muitos pensam. Não havia nada, apenas escuridão.

Quando acordei, mal me lembrava do que aconteceu. Descobri que se passaram dois dias após a explosão e que, durante todo esse tempo, eu fiquei desacordado.

Não houve visitas, até agora.

Seu olhar era o mesmo daquele dia, o olhar que dizia que eu errei novamente.

Chega a ser impressionante, na verdade. Como que eu fiz algo de errado se estou no hospital?

Tive vontade de rir com a audácia dele de vir até aqui para me ver sem se preocupar com meu estado. Não, ele não se importa nem um pouco comigo, então por que diabos está aqui?

- Vou perguntar apenas uma vez e espero uma resposta satisfatória, garoto. - Ouvir essa voz nem um pouco irritante me fez querer calá-la antes de continuar.

- Direto ao ponto, hein? - minha voz soava rouca.

Observei seus passos até ele se sentar em uma poltrona ao lado da minha cama.

- Onde ela está?

Não foi a primeira e com certeza não será a última vez em que me perguntarei se eu tenho cara de vidente.

Respirei fundo, mantendo minha paciência antes de olhar para ele novamente.

A antipatia era tão forte que meus olhos ardiam ao olhar para esse ser.

- Ela quem? - questionei, controlando o elã de zombar.

Algo como raiva pareceu brilhar em seus olhos por um segundo.

- Minha filha, Dawson.

Então era por isso que ele veio.

- Infelizmente, estou sem minha bola de cristal no momento, então não posso te ajudar.

Vi suas mãos se fecharem em punhos, seu olhar tornando-se impaciente.

- Não me faça perguntar de novo, garoto.

Quanto mais sua raiva aumentava -  muito facilmente, inclusive - mais vontade de rir eu tinha.

A única coisa que me impedia de rir era a dor. Assim que acordei no hospital, uma dor forte e aguda invadiu meu corpo, concentrando-se, principalmente, em minhas costas e cabeça.

Disseram-me que meu carro capotou após ser lançado para longe e só não explodiu por sorte.

Não tive nenhuma fratura, apenas concussão, arranhões profundos e hematomas que, porra, doíam muito. Além disso, ganhei de brinde um pequeno coágulo no olho direito.

Os médicos disseram que eu terei que ficar no hospital por três semanas, sem me esforçar ou estressar, algo bem simples, nada muito complexo, algo que até um idiota como Hector entenderia.

Mas, pelo visto, idiota era apenas eufemismo, já que eu estava estressado e fazendo extremo esforço para ficar calmo perante sua presença.

- Não sei o que quer de mim, Hector. Eu sei que não gosta de mim e acho que já é muito óbvio que o sentimento é recíproco, mas eu realmente não sei onde está sua filha. Aliás, estou sabendo que ela sumiu só agora que você me disse.

Ele se levantou, suspirando em frustração ainda me encarando.

Havia raiva, não uma qualquer, não uma repentina e momentânea, não. Era uma raiva de anos, uma culminada desde aquele dia. Mas, apesar desse ódio ardente em seus olhos, pude ver um certo medo neles.

- Se você estiver mentindo... - apontou um dedo para mim.

- Não estou.

Não sei por quanto tempo ele ficou, parado, me encarando, mas me segurei em cada segundo para não rir de sua feição preocupada com a filha.

Para meu alívio, ele foi embora rapidamente, em movimentos apressados e incertos.

Olhei para o teto, repassando esse reencontro inesperado em minha mente.

- Então quer dizer que Eleanor Quinn sumiu? - sussurrei, as palavras direcionadas a ninguém.

Ouvi um zumbido vindo do meu celular na cabeceira.

Peguei e, assim que liguei, me deparei com uma mensagem de um número desconhecido na tela de bloqueio.

"...Um só passo falso acarreta uma série de desgraças..."  '

Desbloqueei o aparelho para ver quem me mandou a mensagem, só não esperava ver a foto da ruiva no contato desconhecido.

...

' - "Orgulho e preconceito"






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